Antes do jogo, o fim do amor:
Saí daquela relação com três discos do Humble Pie, um livro do Leminski, uma camisa do Neil Young e o gosto da pele dela na minha boca basca…
Era uma noite gelada de 2012 e antes da final da Copa do Brasil ela me mandou embora.
Caminhei trôpego, detonado, arrebentado mais por dentro do que um blues, mais Ian Curtis do que Caetano, pela Sampa dura, nada desvairada e triste. Carreguei todas as minhas dores de mágoas e amores para o primeiro bar que me achou pela Pompeia sem classe e entrei. Joguei os discos do lado na mesa, olhei pro balcão, um sujeito me perguntou:
“E ae? Vai beber o que?”
“Cicuta..”
“Isso não tem, velho. Mas tem uns conhaques bons aqui…”
“Que conhaque que você tem ae, que não é bom?”
“Ah… Tem umas garrafas aqui de São João da Barra que vendo pros nóias e tals…”
“Então me dá uma garrafa desse ae, um copo, não me pergunta meu nome e não me trata bem…”
“Tá…”
Fui para a mesa. Dela, vi a TV ligada no jogo de futebol que era a única coisa que me restou de alegria naquela noite; O Palmeiras. Sempre o Palmeiras…
Era o dia de decidir a Copa do Brasil em Curitiba. Enfrentaríamos então um time chato que era chegado a nos dar sustos, que acreditava que podia reverter o 2 x 0 que tinham levado aqui na primeira partida da decisão. O jogo começou.
Do nada que acontecia, o que me chamou atenção para ali foi um gol de falta que levamos numa cobrança de um lateral direito que depois viria me dar dor de cabeça, um tal Ayrton.
Festa no buteco! Os cachaças secadeiras vibravam e então inevitavelmente um pensamento me fulminou a cuca:
“Perdi a mulher porque sou um escroto e pra ajudar, meu time toma uma sapatada desse outro time meia boca e vai perder o titulo” – Era o roteiro trágico previsível, mas daí então entra o personagem que muda tudo isso:
Betinho…
Não sabíamos nada dele. De onde veio porque chegou, e o que diabo fazia no comando do ataque palestrino. Nem de longe lembrava a fina estirpe da tradição da camisa 9 verde. Era um tanto desengonçado, meio atrapalhado, a impressão que me dava é que ele tinha umas 8 pernas e uns 7 braços de cada lado. Um problema.
De todas as dificuldades que Betinho tinha para jogar futebol, a maior de todas era ter que se relacionar com a bola…
Todavia, saiu uma falta para Marcos Assunção bater.
Da perfeição dos seus pés a bola poderia escolher qualquer parábola a ser feita. Poderia encontrar desvios, redes, curvas e tudo mais. Mas acontece que o Palmeiras tem idiossincrasias únicas em sua história…
Marcos Assunção bate; a bola chega na área do Coritiba e caprichosa que só, escolhe a cabeça de Betinho para desviar. Ele resvala, a bola passa por todo mundo e encontra a rede no pé da trave. Gol! Gooooolllllll!!!
No meio de tudo de muito ruim que me acontecia, o Palmeiras empatava o jogo, forçava a Coritiba a tentar marcar mais três gols, coisa que jamais aconteceria. Campeão! O Palmeiras era campeão da Copa do Brasil e Betinho… Ah Betinho…
Do mesmo jeito que veio, Betinho se foi. Pouco soube dele depois, passagens aqui e acolá, todas discretas, porém honestas. Como falei acima ele é o ultimo dos heróis que eu pensava ter, mas sim, o Betinho é um herói do Palmeiras, seja la pelo viés que for.
Porque no mundo do futebol serão raros e especiais os momentos que teremos um César, um Evair, um Servílio, um Mazzola para vestir a camisa 9 de nosso time. Por vezes, o que vai nos restar será um Jorge Preá, um Helio Caipira, um Deyversom, ou um Betinho para torcermos. Nessa hora a gente faz a nossa parte.
Porque no fundo, no fundo, enquanto torcedores, todos nós temos um pouco de Betinho.
Sigamos, portanto…
PS: E ouçam o Humble Pie que é muito bom…