A atacante Bia Zaneratto e o técnico Ricardo Belli concederam nesta quarta-feira (14) uma coletiva de imprensa na qual comentaram a final do Paulistão Feminino. No evento situado na sede da Federação Paulista de Futebol, os representantes do Alviverde falaram sobre a importância de disputar mais um título com as cores do Maior Campeão Nacional.
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– Com relação à dificuldade e o nível da competição, acho que a própria final da Copa Paulista mostra o quanto foi difícil para chegar na final do campeonato. A gente pega uma final de Copa Paulista com Corinthians e Red Bull, e o quanto o campeonato (Paulista) foi disputado ponto a ponto. Mostra o quanto a Ferroviária e São Paulo brigaram com a gente. Não concordo que a gente seja favorito e acho que são dois jogos, 180 minutos, em que as duas equipes querem muito. O único título de Campeonato Paulista que o Palmeiras teve foi em 2001. A gente quer muito (vencer o título), sabemos o quanto isso é importante para o clube e para a torcida – disse Belli.
– Falando de Paulista, a gente estava comentando que é a principal referência de estadual no Brasil. Serão duelos de gigantes, porque são duas equipes que querem muito. A gente fala em fazer história no Palmeiras e conquistando esse Paulista a gente coloca ainda mais o nome na história do clube. Conquistando a Libertadores, há margem para falar que é o melhor time da América, mas teremos um grande confronto à frente. O Palmeiras vem com a expectativa de conquistar a competição porque sabemos a importância que é para a continuidade do trabalho – completou Bia.
Importância do torcedor
Na sequência, Ricardo Belli comentou a importância do torcedor para o clube. Segundo ele, Palmeiras e Santos são times que valorizam o jogo, buscando o ataque e a posse de bola. Deste modo, o comandante compreende que isso valoriza o produto e o espetáculo para o público.
– Acho que o torcedor é o maior patrimônio de qualquer clube. A chegada de Palmeiras e Santos na final é bom para o espetáculo, são duas equipes muito ofensivas, que gostam de jogar o jogo, gostam de ter a bola. No Palmeiras, a gente conversa muito sobre a responsabilidade que temos de crescimento da modalidade, e isso passa pela forma que a gente joga. A gente quer ganhar, mas acreditamos que é necessário jogar bem. Chegaram duas equipes que contribuem para o jogo, e se o torcedor é o nosso maior patrimônio, a gente vai contribuir para um bom espetáculo para que a gente possa ser campeão.
Horário do jogo
Em suas redes sociais, Bia Zaneratto criticou a escolha pelo horário da final do Paulistão, que será realizada às 15h30 de quarta-feira (21). Na coletiva, a Imperatriz voltou a comentar o assunto, explicando que isso atrapalha a adesão do público.
– Acho que todos viram que eu publiquei sobre o horário. Acho que isso atrapalha muito a divulgação do futebol feminino. A gente poderia ao menos tentar colocar o jogo à noite para ser mais acessível ao público. Acredito que seria benéfico se tivéssemos este jogo às 19h ou 20h, por se tratar de um dia de semana. Isso deveria ser revisto, mais organizado para a gente ter horários mais compreensíveis para ter a torcida. Em contrapartida, acho que demos avanços grandes, a FPF deu um avanço grande na premiação. Mas não tem como não falar, é a maior competição estadual, ela merecia ter um horário mais propício ao torcedor.
Na sequência, uma representante da FPF explicou a escolha do horário, afirmando que, com o jogo durante a tarde, a partida terá transmissão para todo o Brasil.
– Nós sabemos que não é o melhor horário, mas temos nossos detentores, a grade de programação, e buscamos dar a maior visibilidade possível para a modalidade. Pela primeira vez na história, teremos a final do campeonato estadual em TV aberta para todo o Brasil. Essa vai ser uma final histórica, com dois clubes de nível técnico impressionante. A gente só tem a agradecer a todos os nossos detentores e a tudo que a Federação Paulista tem feito.
Qualidade da competição
Além disso, Bia Zaneratto explicou que a evolução no Campeonato Paulista é notória. De acordo com ela, a competição melhorou nos últimos anos e, assim, as atletas têm desafios maiores. Com isso, as jogadoras estão mais capacitadas para representarem a Seleção Brasileira quando necessário.
– A principal competição estadual é o Paulista. Teve a disputa na competição toda, melhorou o nível da competição. Isso faz com que a gente se prepare cada vez melhor. Ano que vem temos a Copa do Mundo e esperamos que possamos melhorar cada vez mais, ter a oportunidade. Os jogos têm sido cada vez mais competitivos, isso faz com que a gente melhore. A gente fala bastante da forma que eu jogo no Palmeiras, com liberdade para flutuar, e isso faz com que meu futebol se sobressaia mais. Isso me favorece quando tenho oportunidade na Seleção.
Poliana
Na última partida, a zagueira Poliana saiu lesionada e preocupou a torcida palmeirense. Questionado pelo NOSSO PALESTRA, o técnico Ricardo Belli explicou a situação da defensora, que ainda não sabe se poderá entrar em campo na final estadual.
– Ela teve uma lesão muscular no último jogo. Ela fez exames, estamos aguardando resultados. As expectativas são boas, ela tem chances de jogar as finais. Temos de aguardar o quadro da evolução que é diário. Sabemos o quão importante ela foi para nós, mas a gente está confiante que ela possa estar presente. Cravar eu não posso, porque dependemos dos resultados dos exames e da evolução dela. Estamos com boas expectativas.
Além disso, o treinador explicou a preocupação com Cristiane. Destaque do Santos, a atacante é a artilheira da competição e vive grande fase. Segundo Belli, o time, mesmo sem Poliana, deve estar preparado para enfrentar a ex-atacante da Seleção Brasileira.
– A gente sofreu, mas fomos a melhor defesa da Libertadores. É legal a gente falar que, no Palmeiras, temos um jogo muito coletivo. Todo mundo ataca quando temos bola, e todo mundo defende quando não temos bola. O quanto a gente incorporou, é mais que uma forma de jogar, mas é um espírito de equipe de saber que todos somos um, a gente trouxe isso para a nossa equipe. Nesse último jogo, a Bia estava jogando como lateral direita tirando uma bola de cabeça dentro da área. É um jogo menos posicional, mais funcional. Temos uma preocupação muito grande com a Cristiane, mas também como o time do Santos como um todo. Vamos tentar recuperar a Poli, mas se ela não jogar a gente está preparado.
Briga de artilheiras
Também questionada pelo NP, Bia comentou a briga de artilheiras com Cristiane. A Palestrina soma 21 gols na temporada e pode se isolar como a principal marcadora em uma temporada pelo Alviverde, enquanto a Santista é a principal marcadora do Paulistão e vive grande momento no ano.
– A Cris está em uma fase incrível da vida dela. A minha briga não é pela artilharia, meu estilo de jogo não é sobre gols, sou mais participativa criando jogadas. Acabo fazendo gols, tenho marcas históricas, mas o foco é vencer o título para marcar o nome na história do Palmeiras.
Uso do VAR
A partir da semifinal do Paulistão, a competição passou a contar com o árbitro de vídeo. A tecnologia ainda não é utilizada com frequência em torneios femininos, entrando apenas a partir das fases mais agudas nos campeonatos. Ricardo Belli, contudo, entende que o VAR é necessário, assim como uma mudança na postura geral do país.
– A arbitragem como um todo são seres humanos, é sempre um desafio, porque ninguém quer errar. Todos trabalham para acertar, todos são profissionais. Mas a gente vê que, quanto mais a gente pode ajudar com recursos tecnológicos, melhor é para o jogo. Mesmo com VAR, há situações de interpretação. Acho que o VAR é super positivo, vem para ficar, eu gostaria que tivesse em todas as rodadas, todos os campeonatos, mas depois acaba que a decisão final é do ser humano, que é passível de erro. Acredito que quem tiver apitando, a gente pode facilitar o trabalho da arbitragem no Brasil. A gente pressiona tanto que eles estão sempre sob alta pressão. A arbitragem é sempre vaiada e xingada. Talvez seja uma coisa que temos de mudar a nível cultural, colaborar com o ser humano para ele tomar melhores decisões.
Como parar Bia Zaneratto?
Presente também na coletiva, o técnico do Santos, Kleiton Lima, foi questionado sobre como parar Bia Zaneratto. Ex-técnico da camisa 10, o santista explicou que a atleta sempre teve muita qualidade, e isso será um desafio para o time da Baixada.
– A gente sabe que o time do Palmeiras é repleto de grandes jogadoras que podem decidir a partida. Ela tem qualidade técnica absurda, trabalhei com ela desde os 15 anos dela. É precoce, desde os 15 anos o que fazia com a bola. Além da força, quando começa a dar a passada do segundo terço para o terceiro terço do campo, tem de derrubar. A gente tem jogadoras muito funcionais, e sem dúvida alguma o Santos tem suas armas, e o Palmeiras também. A gente vai estar bem recheado de possíveis protagonistas para este grande duelo.
Calendário
Ricardo Belli também comentou o calendário das competições femininas. O palmeirense afirmou que a temporada 2022 foi desgastante, com muitos jogos e pouco tempo para recuperação. Segundo ele, isso deixa uma dúvida no treinador, que não sabe se trabalha com a equipe ou se foca em atividades regenerativas.
– Esse ano, o calendário foi um desafio. Acho que as atletas jogam, são as grandes protagonistas, mas a gente tem de quebrar a cabeça para saber como vamos prepará-las, recuperá-las. Acabou que a gente fez o primeiro semestre com semanas cheias para trabalho, depois intervalos com datas Fifa. O segundo semestre para nós, que tivemos a Libertadores, ficou congestionado. A gente chegou até a semifinal do Brasileiro, várias atletas em Seleção. A gente voltou da Libertadores, temos um surto de Covid, foi mais um desafio. Jogamos a Ladies Cup, depois tivemos um jogo decisivo contra a Ferroviária. Nós, como técnicos, a gente tem que quebrar a cabeça. Se a gente não cuidar do ser humano que joga, temos situações como a da Poliana, que é situação de acúmulo de jogos. É o desafio de “o quanto a gente treina?”. A gente decidiu recuperar ontem, hoje como um segundo regenerativo. O quanto a gente treina, o quanto a gente prepara. Por que só recuperar é ruim. É uma matemática que não fecha, e a gente tem de estar sempre se desafiando. A Conmebol não divulgou a data da Libertadores, e ano que vem tem Copa do Mundo. Espero que todos se reúnam e divulguem para nós o calendário do ano que vem.
Vestiário
Na Libertadores, o Palmeiras demonstrou união dentro e fora de campo. Segundo Bia Zaneratto, esta vibração e pensamento coletivo foi fundamental para a conquista da competição e foi o principal trunfo do clube no torneio. Agora no Paulistão, o Alviverde mantém esta mentalidade que, de acordo com a atacante, é algo que “veio para ficar”.
– Quem acompanhou a nossa trajetória na Libertadores, pôde sentir a nossa emoção. O que temos levado de legado daquela competição é a nossa entrega, nossa união. A gente tem muito para trazer da Libertadores para o Paulista. A gente tinha um jogo que terminou 4 a 4, mas que tínhamos uma vantagem de três gols, e sentimos falta do espírito da Libertadores. No jogo de volta, a gente fechou e falou: “Aqui não entra mais gol”. A gente estava com o espírito de “estamos todas juntas”. Nosso vestiário tem sido cada vez melhor, com todas focadas no mesmo objetivo. Foi a nossa principal característica conquistada na Libertadores, e acho que a gente trouxe isso para o Palmeiras. E isso veio para ficar.
Acompanhamento psicológico
A partir do segundo semestre de 2022, o Palmeiras passou a contar com uma psicóloga para o elenco feminino. A profissional chegou meses após a declaração pública de Alberto Simão na qual o diretor de futebol explicitou a necessidade de acompanhamento psicológico no elenco. Sobre isso, Belli explicou que o futebol é um esporte de alto rendimento, que é extremamente exigente com as atletas. Deste modo, o trabalho psicológico é cada vez mais necessário.
– Todo treinador tem de ser um pouco psicólogo. Eu comecei fazendo estágio em uma temporada com o Fernando Diniz, e todo mundo sabe que ele é psicólogo. Mesmo ele sendo um cara ‘doidão’, ele é humano. Um jogador de futebol é atleta de alto rendimento, limite do limite, e o lado mental é o que mais pega. A gente tem de estar desafiando as atletas a irem ao limite, e o limite dói. É abrir mão de coisas que gostamos de fazer. Mas se a gente não fizer, e não souber como fazer, acaba que você cria um ambiente altamente estressante, um jogo é estressante o tempo todo. Contra a Ferroviária, a gente fez um primeiro tempo muito bom, mas a gente tinha sensação de facilidade, até falei para as atletas. É uma lição para todo mundo, no segundo tempo parecia que o jogo ficaria mais fácil. A Ferroviária se aproveitou da nossa desconcentração e buscou o empate. O quanto isso é difícil, você estar vencendo um jogo de 4 a 1 e o placar vira 4 a 4. O quanto isso é difícil? No Palmeiras, a gente tem uma psicóloga, a Isa, que vem fazendo um trabalho fantástico com nossas atletas e comissão. A Isa faz atendimentos individuais, mas também trabalhos em grupo, que têm dado muito resultado.
Para chegar na decisão, o Alviverde se classificou em primeiro na fase de grupos da competição. Na semifinal, então, enfrentou a Ferroviária, 4ª colocada. Em duas partidas, o time superou as adversárias após empate em 4 a 4 e vitória por 1 a 0.
O Santos, por sua vez, terminou em 3º, com 25 pontos, e enfrentou o São Paulo no mata-mata. Diferentemente do Verdão, a equipe da Baixada triunfou duas vezes diante do rival, por 1 a 0 e 3 a 2.
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