Campeão da Copa do Brasil 2012 com o Palmeiras, Bruno relembra título: ‘A gente não troca por nada’

Em entrevista exclusiva ao NOSSO PALESTRA, o ex-arqueiro comentou sobre a emoção de vencer o torneio e a tristeza de ser rebaixado; confira

O Palmeiras sonha com mais um título da Copa do Brasil, após vencer o Grêmio, por 1 a 0, no primeiro jogo da final da competição. O Verdão já foi campeão do torneio em três diferentes oportunidades, sendo estas em 1998, em 2012 e em 2015. Na campanha bicampeã, o ex-goleiro Bruno foi um dos destaques do Verdão e, em entrevista ao NOSSO PALESTRA, o ex-arqueiro relembrou como era o clima no vestiário antes das finais, contra o Coritiba.

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– Nosso vestiário era muito bom. A gente não tinha problema de vestiário, nada. O Felipão sabia manejar muito bem todo mundo. Todos muito envolvidos. A gente pegou muita confiança na semifinal, todo mundo dava o Palmeiras como eliminado, o Grêmio a principal força para ser campeão, e a gente acabou fazendo dois jogos espetaculares e acabou passando pra final. Isso deu muita confiança pra gente na final, mesmo com aquele episódio do Barcos, no primeiro jogo, da apendicite. Mas, como o Felipão tinha esse domínio sobre o grupo, o Betinho entrou e fez a diferença. A final em dois jogos não é melhor, nem pior. É diferente, porque em um jogo você não pode errar. Em dois, você consegue ter um dia ruim e você ainda consegue consertar no segundo jogo. Um só, não. Tem que dar o seu melhor e não tem chance pra erro – disse Bruno.

Elenco palmeirense campeão da Copa do Brasil 2012 (Foto: Cesar Greco/Fotoarena)

O ano do Verdão, no entanto, não foi só de alegrias, dado que, apesar do título nacional, a equipe não fez uma boa campanha e acabou sendo rebaixada no Campeonato Brasileiro. O ex-goleiro, então, comentou sobre as dificuldades encontradas pela equipe no Brasileirão.

– O Palmeiras estava há 12 anos sem um título nacional. Isso pesava. Fomos campeões paulistas em 2008, batemos na trave em 2009. Em 2010 e 2011 foram temporada abaixo, então aquele título foi fantástico, fundamental, a gente não troca por nada, mas quando a gente foi acordar pro Brasileiro já era tarde. O Felipão acabou poupando. Se não me engano, jogamos seis ou oito jogos antes das finais e em dois ou três ele poupou todos os titulares e a gente não conseguia vencer. Lembro que nossa estreia foi contra a Portuguesa, no Canindé, e a gente empatou. Teve o Atlético-MG e outros jogos. A gente começou muito mal, e quando voltamos da Copa do Brasil, ainda teve que baixar a poeira. Lembro que a gente foi campeão na quarta e no sábado já tinha o São Paulo, empatamos, voltamos pro Couto Pereira, empatamos de novo. Quando a gente acordou, já era tarde. O nosso grupo era montado pro mata-mata e quando a gente precisou, não tivemos peças. Muitas lesões dos principais jogadores, quem entrou não deu conta e a gente acabou fazendo um campeonato bem ruim. 

O Palmeiras empatou em 1 a 1 com a Portuguesa na estreia do Brasileirão em 2012 (Foto: Cesar Greco/Fotoarena)

Sobre este momento abaixo do time na temporada, Bruno explicou como era o clima dentro do clube, que, segundo ele, mesmo depois do título, não era bom.

– Não dá pra falar que era bom, né? A gente não conseguia se acertar e ficava triste, bravo, por isso. A gente jogava, dentro da nossa realidade, bem, mas não tem aquela famosa sorte de campeão. Você sabe que o time vai ser campeão por tudo que tava acontecendo. Ali, a gente via que não tava pesando ao nosso favor. Lembro de um jogo, contra o Coritiba, em Araraquara, que a gente tava martelando, quase não peguei a bola, mas, aos 48’, teve um pênalti e a gente perdeu de 1 a 0. Isso basicamente resume o nosso campeonato. Aí teve a saída do Felipão, o Narciso, por alguns jogos, a chegada do Gilson. A gente até ganhou um gás com o Gilson, com três vitórias seguidas, mas depois acabamos não conseguindo mais – completou.

Em 2012, apesar do título da Copa do Brasil, o Palmeira foi rebaixado para a Série B (Foto: Geraldo Bubniak/Fotoarena)

O Palmeiras, em busca do tetracampeonato da Copa do Brasil, entra em campo no próximo domingo (07), às 18h (horário de Brasília), contra o Grêmio, no segundo jogo da final da competição.

Confira a entrevista completa:

NP: Em 2012, você estava substituindo o Marcos, um dos grandes nomes da história do Palmeiras. Você acha que isso pesou de alguma forma no seu desempenho?

Bruno: Eu acho que não. Sempre disse que substituir o Marcos não era um fardo, nunca foi algo ‘pesado’. Sempre foi uma honra. Não era substituir, porque ele é insubstituível, nunca vai surgir outro. Então, era dar sequência no trabalho que vinha sendo feito. E o mais difícil a gente conseguiu, que foi um título, seis meses depois da aposentadoria dele, mas depois, o decorrer do ano acabou não sendo tão bom. Individualmente, foi o ano que eu mais joguei, tive uma sequência muito boa no Brasileiro, cometi poucos erros, mas, coletivamente, foi um segundo semestre para se esquecer. 

NP: Bruno, você jogou com o Marcos e com o Prass no Palmeiras, que são dois dos grandes goleiros da história do clube. Como foi dividir o vestiário com eles?

Bruno: Eu convivi com o Marcos a minha vida inteira, praticamente. É um dos maiores ídolos que eu tenho, juntamente com o Evair. Foi muito legal ter aprendido tudo com ele, não só dentro de campo, mas fora também. O Marcos é essa pessoa fantástica que todo mundo vê. A gente tinha liberdade de brincar um com o outro, de conversar, de falar: “Marcos, eu acho que você poderia ter feito isso naquele gol”, ou “Bruno, e se você fizesse isso”. A gente tinha bastante essa liberdade, fomos criados assim, o Pracidelli criou a gente assim. Então foi muito legal, tenho um orgulho muito grande disso. O Prass também. Ele chegou no fim de 2012, a gente conviveu em 2013 e 2014 juntos, um amigo que tenho também. Tenho orgulho de poder ter participado da carreira dele, e ele da minha. Vou levar isso pra sempre. A gente estava num momento muito difícil, quando caiu. Em 2013, o Paulo Nobre assumiu, eu já conhecia o Paulo, o Prass chegou. Eu e o Prass, ele mais velho de idade e eu mais velho de casa, assumimos ali, ajudamos muito o Paulo Nobre, nessa reconstrução do Palmeiras, que tava caminhando. Tanto eu aprendendo com eles, tanto eles aprendendo com a gente.

NP: Como foi o começo do trabalho do Paulo Nobre pra vocês?

Bruno: Foi bem devagar, porque o Palmeiras tava numa situação muito difícil, tinha dinheiro pra nada. A gente começou a pré-temporada naquele ano de 2013, não tinham 22 jogadores pra fazer coletivo. Eu lembro de um treino que a gente teve que pegar os meninos da assessoria de imprensa pra completar, não existe isso num time profissional. Ele pegou uma bucha muito grande. Fico feliz que ele confiava bastante em mim, de novo, eu e o Prass sempre estávamos na sala dele, conversando, e ele expunha pra gente, desabafava, e a gente, quando precisava de alguma coisa pedia pra ele. A gente sempre teve esse diálogo, desde o primeiro dia. Foi uma situação bem complicada. Teve aquela troca do Barcos pelos jogadores do Grêmio. A gente precisava de quantidade, naquela época, mais que qualidade, por incrível que pareça. Acabou dando tudo certo. Foram os dois primeiros anos pra pavimentar e depois acabou deslanchando. Hoje o Palmeiras está nessa situação muito graças a ele. 

NP: Você, agora morando nos Estados Unidos, tem conseguido acompanhar o Palmeiras?

Bruno: Aqui são só duas horas (de fuso horário), da maioria das vezes dá pra acompanhar. Não passa muito jogo aqui, eu acompanho mais por notícias e melhores momentos. A Copa do Brasil e a Libertadores eu consigo assistir, que passam aqui, o Brasileiro é mais difícil. Mas a Copa do Brasil e Libertadores eu acompanhei inteiras. Tô sempre ligado nas notícias e sempre conversando com o pessoal, principalmente com os goleiros, que eu tive o prazer de trabalhar com os três que tão lá.

NP:  Em 2012, você foi o melhor goleiro da Copa do Brasil e, em 2015, foi o Prass. Você acha que o Weverton consegue, também, esse título?

Bruno: Consegue. Hoje, se não me engano, a votação da Copa do Brasil é popular, o que é injusto, porque uma torcida engaja mais e acaba sendo injusto. Nada contra o Marinho, mas os números do Rony foram muito melhores. Não acho justo abrir pra votação popular. Você pode ter dois prêmios. O Weverton hoje é o melhor goleiro do Brasil disparado, no mesmo nível do Alisson e do Ederson, que são os três goleiros que o Tite tem confiança e vão ser os goleiros do Brasil por muito tempo, porque tem condições. E ele está fazendo história no gol do Palmeiras. 

NP: O Palmeiras é conhecido por formar grandes goleiros, e você foi um dos que fizeram parte da base do clube. Hoje, depois de muitos anos, temos, novamente, uma Cria da Academia surgindo no gol, que é o Vinícius. Você o conhece? Chegou a assistir aos jogos dele?

Bruno: Conheço, sim, o Vinícius, somos amigos há bastante tempo. Quando ele tava na base, já treinava com a gente muitas vezes. Em 2013, 2014, ele tava lá diariamente. É um amigo que eu tenho, falo com ele, dei parabéns pelos jogos que ele fez. O Palmeiras ficou um tempo sem um goleiro da base, porque o momento pedia pra ser diferente, justamente naquela transição e contratar todo mundo. O Prass já tava, mas veio Weverton, Jaílson, outros que passaram e não deram certo, porque não é fácil jogar no Palmeiras. Não adianta achar que qualquer um vai chegar e vai jogar. O momento não pedia. Agora tá voltando. O Vinícius saiu, ganhou rodagem, voltou e tá mostrando que merece essa chance. 

NP: O Palmeiras, há muito tempo, não tinha tantos bons jogadores das categorias de base no elenco titular. O que você está achando deste novo momento do clube?

Bruno: Puxando um pouco a sardinha pro meu lado, eu acho que a última safra da base que acabou dando mais certo foi a minha, com Vágner Love, Diego Souza, Gláuber, Daniel Marques, Edmílson, Francis, todo esse pessoal. Depois foi pouco aproveitado, mas, de novo, o momento não pedia isso. O Palmeiras vinha de um longo jejum, precisava ser campeão, a cobrança era demais. Até por isso, conseguimos ser campeões em 2008, porque montamos um time praticamente do zero, com o Vanderlei (Luxemburgo). Mas agora é o momento certo. Eu estive, no começo de 2020, com o pessoal na Flórida Cup, eu tava cobrindo pra uma rádio brasileira, então pude acompanhar pré-temporada e ali, se buscar um tweet meu, eu já tinha falado que a molecada é muito boa, já tinha notado o Patrick de Paula, quando ele entrou no jogo, contra o New York City, acho. Dava pra ver que dava pra jogar sim. E deslanchou, apesar de tudo que aconteceu. Essa molecada tá mostrando o trabalho que está sendo feito na base. Espero que não pare por aí, que essa mescla continue sempre. Isso mostra que você não precisa montar super times se você tem um bom trabalho de base. 

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