Começou, Prass!

O texto que publiquei no meu blog então no LANCENET!

“É só uma semifinal de Paulista?!”.
Você não sabe o que é futebol, amigo.

“Tanta festa só pra isso?!”. Você lembra a folia que o corintiano fez quando acabou com o jejum de 10 anos sem vitórias contra o Santos de Pelé, em 1968 (e era um tabu só pelo estadual)?

“Parece que conquistaram o mundo!”. E o mundo sabe o que o corintiano fez na invasão do Maracanã, em 1976. Quando a maior vitória não era nem vencer o campeonato que seria perdido para o Internacional – como também foi o Paulista de 1968. A grande vitória, amigo, era ter estado lá, no Rio, dividindo o estádio com o Fluminense.

Como foi épico para os palmeirenses que foram a Itaquera ver o melhor time do SP-15 cair nos pênaltis mais uma vez para o rival. O Timão que será terceiro lugar invicto no Paulistão. O Corinthians que segue sem perder na Arena. Segue como grande favorito na Libertadores. Mas não segue mais no SP-15.

Acontece, como ocorreu também nos pênaltis, no Pacaembu, no SP-11. O Palmeiras tinha melhor campanha e foi eliminado pelo Corinthians que acabaria vice paulista para o Neymar do Santos. Mas, no final daquele 2012, seria penta brasileiro. Iria para a Libertadores ser invicto campeão, e fecharia o ano em que “acabaria o mundo” reconquistando o planeta salvo.

Foi então tudo aquilo o Timão de Tite (e depois de perder para a Ponte o SP-12, nas quartas-de-final…). Pode ir além agora o Corinthians-15 que sofreu o primeiro gol do Verdão do reserva Victor Ramos, buscou a virada com o reserva de moral e decisão Danilo, e virou com o Romarinho-2015 Mendoza, em petardo de longe, no mesmo canto onde Prass não defendeu aquela bola. Mas defenderia outra ainda mais decisiva.

Feliz o corintiano que pode ter reservas como Danilo e Mendoza. Nem tanto Love. É fato que o ex-palmeirense poderia ter feito o terceiro de cabeça, não fosse Prass, já no segundo tempo. Do mesmo modo como Oswaldo foi feliz ao, na dúvida, e nas dívidas de um elenco ainda em formação, e com os melhores do time longe de estarem 100% (Valdivia e Cleiton Xavier), atirar o time dele ao ataque.

O Palmeiras só não empatou um pouco antes em belo lance de Rafael Marques para Dudu por Cássio ser grande. E grande goleiro, também, ao desviar a bola que bateu na trave.

Felicíssimo Tite que pode, no derby difícil pelo crescimento palmeirense, escalar Renato Augusto e depois Elias na maratona insana. Equilibrado um jogo que foi mais verde depois pelo time que era só gente de frente. Gente grande como foi Dudu para jogar na cabeça de Rafael Marques o empate.
Placar justo pelos 90 minutos de qualidade, equilíbrio, intensidade e nervosismo.
Talvez injusto pela campanha corintiana no campeonato. Mas certamente bonito pelo que o Palmeiras está fazendo. E se refazendo.

Palmeirenses fazendo merecido barulho pelas ruas antes desertas de tudo. Não de coração. Mas de gente de dentro e de fora que insistia em enterrar o clube numa vala incomum para o colosso que é. Querendo sepultar 100 anos como indigente. Por mais indignos que tenham sido alguns dirigentes e gerentes de uma massa que não é falida, embora falha. Os indigitados que tentaram executar execrando as exéquias palmeirenses muitas vezes foram apenas paus mandados de fígados e cotovelos doloridos. Ignaros concursados ou ignóbeis ignorantes terceirizados que vivem de matar a nossa paixão.

Essa turma que chamava o Santos de viúva de Pelé. O Palmeiras de ex-grande. Mesmo o Corinthians, quando rebaixado técnica e moralmente por escândalos políticos e administrativos de um 1-0-0 número de maracutaias e joorabchianadas de 1997 até o ocaso de Dualib e a queda para a Segundona dos infernos, em 2007. Esses coveiros de plantão de fim de semana de redação e de plantação de futricas fedidas que infestam a nossa mídia abaixo da média.

“Acabaram” com o Palmeiras como “acabaram” com o Corinthians e, agora, provavelmente, vão “acabar” com o São Paulo.

Não adianta pedir à essa turma que estude minimamente a história de idas e vitórias, derrotas e vindas de nossa vida.
Eles não vão entender.

E, por isso, vão achar que não valeu “nada” a invasão corintiana em 1976. Nem a virada corintiana por 4 a 3 contra o Palmeiras, em 1971. Nem o fim do “tabu” que não era tabu em 1968.

Perdoai-os, Rivellino. Eles não sabem nada.

Talvez eles não perdoem Elias, o melhor corintiano em 2015, que chutou o pênalti que definiria a classificação para a decisão nas mãos de Prass. Camisa 7 corintiano em pênalti decisivo palmeirense…

Os mesmos infiéis de todas as cores e credos que talvez detonassem Robinho, o melhor palmeirense em 2015, por isolar o primeiro pênalti cobrado e perdido como a bola em Itaquera.

Mas tudo ficou mesmo empatado no último chute de Elias. Equilíbrio no tempo normal de um grande dérbi e também na primeira série de pênaltis.

Kelvin (o atacante que mal atuara, e foi bem improvisado na lateral-esquerda que não tinha as quatro opções do elenco), subiu a temperatura e fez o dele. Gil empatou 5 a 5. Jackson, outro reserva palmeirense, fez 6 a 5.

Petros, que foi um cara de tirar o chapéu em 2014, até no gol do primeiro derby na Arena Corinthians, bateu bem, forte, no canto esquerdo de Prass.

Mas, daí, e logo depois, o que se viu depois da excepcional defesa foram os dedos erguidos para cima de Marcos Prass. Fernando Prass. O cara que defendeu e ajoelhou e confirmou a profecia-palpite de Evair, antes do jogo:

– Vai dar Palmeiras. Nos pênaltis.

Foi o torpedo que o nosso amigo em comum Álvaro mandou antes do jogo.

Quando o árbitro (que foi bem) encerrou o clássico, eu então torpedeei Marcos e Evair:
– Agora é com vocês. Foi assim em 2000, 1999, 1994, 1993.

E tinha de ser em 2015. Como foi.

Gripado, eu não estava nem no Fox Sports e nem trabalhando pela Jovem Pan. Onde havia palpitado que a decisão seria nos pênaltis. Mas seria corintiana…

Estava com meus filhos, minha mulher, minha filhota, e meu primo Calabar, com as duas palmeirenses de Piracicaba dele.
Eu só lembro de ter comentado com ele antes do dérbi:
– Hoje o dia está nublado…
Como no SP-74. Como no SP-93.

Ele apenas sorriu.

E não lembramos a última decisão que vimos juntos do Palmeiras.

De fato, ele lembrou. Mas não falou.

Eu também sabia. Mas não queria falar antes dos pênaltis. Quando eu não conseguia falar pela tosse e rouquidão. Ou pelo pavor mesmo que consome qualquer um que não esteja comentando pelo rádio ou pela TV.

Claro que eu sabia qual a última decisão que tinha visto com meu primo. Foi em 1986. Com mais 40 amigos.

No dia que seria maldito por 12 anos: 3 de setembro. De 1986.

Derrota para a Inter de Limeira, no Morumbi.
Aquela.

Mas os nossos dias são como os jogos de um time grande. Tem vez, muitas vezes pro meu gosto, que ele até parece pequeno. Mas ele é grande. Ele é a nossa vida. Ele vira o jogo. E a história.

Doze anos depois de 3 de setembro de 1986, em 3 de setembro de 1998, nasceu o meu Luca, meu filho mais velho, irmão do caçula Gabriel.

Dezesseis anos depois de 3 de setembro de 1986, em 3 de setembro de 2002, nasceu a Luna, a filha mais velha do meu primo Calabar, irmã da Isabel, e meia-irmão do Theo.

Por isso que, em 19 de abril de 2015, Dia do Índio, em Itaquera (“pedra-dura” em Tupi-Guarani – que não é o de Campinas e nem o “da capital”…), eu, meu primo, e milhões que sabem que 1974, 1993 e tudo que se faz desde 1914 é eterno, todos nós pudemos mais uma vez sentir que, como diz um cara que deve estar ainda mais insuportável lá em cima, é “simplesmente impossível a quem não é palmeirense”.