Cleiton Scarpa, Gustavo Xavier. Grêmio 0 x 1 Palmeiras

Não era para ele chutar de tão longe. Ninguém achava que ele acertaria dali. 11 em 10 palmeirenses não fariam o que fez o meia alviverde. OK… 9 em 10.
Ele acreditou. E chutou. E fez um golaço histórico.

E é assim a vida, a nossa vida, o futebol, o nosso time.

Escrevo para Gustavo Scarpa o que há 10 anos escrevi para Cleiton Xavier, em Santiago, aos 41 minutos de um jogo de Libertadores em que o Palmeiras estava com 10 em campo e estava sendo eliminado pelo Colo-Colo até CX10, como se fosse nome de bomba, emendasse uma daquelas que a cada 10 anos de Libertadores você acerta. Ou como no sábado David Braz havia feito um gol espetacular na mesma meta da Arena no mesmo clássico. Também no final do jogo como em 2009. Também indefensável para Weverton como em 2009 foi para o goleiro Muñoz.

Como nesta terça de Libertadores seria para Lara, para Manga, para Leão, para Danrlei, para Marcelo Grohe. Talvez não para Paulo Victor. Mesmo em grande fase, o guardião gremista demorou a ir para a bola.

Só que se fosse, não acharia o tiro que só Scarpa acreditou. Como parecia que só ele acreditava nele desde que chegou ao clube, driblando lesões e liminares, desconfianças e faltas de sequência.

Talvez por isso tamanha pancada. Tamanha vontade. Porque precisão ele tem. E o Palmeiras também. Foi mais time que o Grêmio. Teve mais oportunidades reais que o rival. Mandou bola na trave. Se não mandou em campo, se não ficou com a bola, teve os melhores lances, e sonegou as chance ao rival que só teve mesmo duas chegadas perigosas. No mais, bolas bem defendidas por Weverton, muito bem salvas e seguras pelo sistema defensivo paulista que ainda suportou 18 minutos com um a menos, depois do segundo amarelo a Felipe Melo, aos 32.

Ele que mereceu o primeiro, e, no meu critério, também o segundo. Tanto que nem viu o vermelho. Ele já chorava no gramado sabendo que seria expulso. Que deixaria mais uma vez o time com um a menos em jogo decisivo de Libertadores. Mas, desta vez, diferente dos 86 minutos de sofrimento contra o Cerro Porteño por falta violenta no Allianz Parque, em 2018, Felipe Melo merece o carinho da comissão técnica, elenco e mesmo torcida.

Ele fez mais uma ótima partida. Tem jogado muito. Não pode se perder pelo conjunto da obra e pela imagem que ele próprio criou. Felipe Melo tem merecido respeito e carinho. Como Marcos Rocha, Luan e Gómez. Como a equipe palmeirense foi inteligente contra um Grêmio nervoso e sem ideias. Os ótimos Matheus Henrique e Jean Pyerre desta vez pouco produziram – também porque bem cercados. André voltou a negar fogo, Alisson esteve amuado, e Everton até produziu, mas não foi feliz.

Renato mexeu bem. Mas não deu liga. Tem como discutir se Felipão fez o mesmo por ter sacado Scarpa, por ter apostado em Carlos Eduardo, por ter demorado (talvez…) em tirar o amarelado Felipe Melo em jogo como esse.

Mas isso tudo é suposição. Não sabemos nada de futebol. Ainda menos de futuro.

E tem gente que insiste em negar ou desconhecer o passado. Ou mesmo o presente vencedor de Felipão.

Quando alguém acerta um chute como esse de Scarpa, só sabemos mesmo que quem sabe, como ele, como CX10, tem mais é de arriscar. Como esse Palmeiras também pode arriscar ainda mais. Como na vida, e ainda mais no futebol, não se pode dizer que está tudo definido e dominado. O Grêmio é ótimo. É tricampeão da América. Ainda está vivo.

Mas o Palmeiras não morreu. Embora ainda mate, como qualquer time, quem torce por ele.

Scarpa fez um gol do tamanho do Palmeiras, da Libertadores. Mais um gol para calar críticas, silenciar cornetas, berrar de peito aberto, dar cambalhota como se fosse criança.
Verissimo já disse que não há um modo adulto de torcer por um time.

Se ele pudesse ver cada palmeirense em cada canto do mundo celebrando o gol de Cleiton Xavier, mais uma vez ele teria razão. Em 2009. E 10 anos depois do gol do camisa 10.

Nem um Ademir da Guia das letras descreveria o que foi o gol – e que golaço! – de Cleiton Xavier. Não sou eu que saberei descrever aquele e o desta noite. Até porque, não sei o motivo, virei um Benjamin Button nos últimos minutos daquela quarta-feira. E mesmo agora, quando voltei a ter a mesma idade que eu tinha.

Em 1976.