Como seria se

 

O árbitro Leandro Bizzio Marinho teve seu auge quando expulsou Clayson e Felipe Melo. Seu nome amanhã será citado por isso, diante de grandes holofotes e luzes. ‘Quem? O Leandro? Ahhhh, o que expulsou sem razão o Felipe’. Ou: ‘Quem? O Leandro? O que pegou no pé do Clayson?’. Pois é, amigos. Eis o dilema dos juízes. Mas a discussão aqui é outra: como seria o clássico se os cartões vermelhos não tivessem rolado? O jogo nem tinha acabado e a pergunta já estava no ar. O que teria acontecido?

 

 

Felipe Melo continuaria com muita raça e vigor. Lançaria bolas com a mesma proporção que faz faltas. Exageraria na qualidade que tem e na raça que força ter. Poderia dominar o meio de campo. Até porque lhes digo: Melo foi o melhor jogador do primeiro turno do Campeonato Paulista. Mas sempre dá um ‘tilti’ ou outro. Aliás: ‘tilti’ é assim mesmo que se escreve? Na chuva precisa tomar mais cuidado. Bom, continuamos.

 

 

Já Clayson seria arma do Corinthians para o segundo tempo. Jogador de velocidade e de boa batida na bola, ele foi o escolhido pelo técnico Fábio Carille. Que, por exemplo, deixou o limitado Romero no banco de reservas. Clayson é bom para o nível brasileiro, mas apenas um atleta razoável em termos gerais. Clayson nunca deu um chapéu ou uma caneta (não que eu tenha visto). Mas a expulsão tirou, obviamente, um homem ofensivo da equipe dona da casa. Pode ter feito a diferença.

 

 

Zidane, em 2006, deu uma cabeçada raivosa no italiano Materazzi. Acabou recebendo o vermelho e a França perdeu nos pênaltis. Se Zidane não fosse expulso, marcaria um gol de cabeça no último minuto da prorrogação. O ídolo Buffon seria odiado no país e lembrado como o cara que falhou no último instante. A torcida protestaria contra quem virou ídolo apenas por um acaso. Buffon, em prantos, abandonaria o futebol. E encerraria a carreira no Madureira, aos 37 anos, depois de férias no Brasil. Perderia o Campeonato Carioca. Se apaixonaria por uma panicat.

 

 

Se Janis Joplin estivesse viva talvez ela seria hoje cantora gospel em Bauru. Se vivo, Charlie Chaplin seria contra o cinema a cores e falado. Charles Bukowski, dono de textos ácidos e pesados, poderia ter se rendido ao poema sertanejo e lançado vários hits para Luan Santana e Eduardo Costa. Karl Marx, em 2018, seria capitalista e candidatoconservador em algum país da Europa.  E John Lennon? Falei sobre ele outro dia mesmo. Lennon cantaria com Roberto Carlos nos finais de ano da Globo. Para surpresa geral, apareceria em 2018 ao lado de Anitta, interpretando um ‘vai, malandra’. Gravado, lógico. Porque sempre se enrolaria na parte ‘desce, rebola gostoso, empina me olhando e te pego jeito’. Já reparou como gringo não consegue falar a palavra ‘jeito’? É sempre um sufoco.

 

 

Eu não expulsaria Melo e Clayson se fosse o Bizzio Marinho. E eu, se tivesse cabelo, deixaria tranças como a Rapunzel. Mas o ‘se’ é apenas uma suposição – ou um supositório, como diz o desinformado. Que pena. 

 

 

*Texto também publicado no iG