Contra um frágil Vitória, Palmeiras vence a primeira em tarde de Isabella
(Foto: Letícia Martins/EC Vitória)
*POR LEANDRO IAMIN
Foram numerosos os leitores reclamantes da leitura otimista deste site e colunista após o 1×3 sofrido contra o Corinthians, no último domingo. O argumento central é que, para um rival, não se pode perder. Às vezes acho que se o clube fizer uma pista de atletismo na sede social, alguém vai reclamar que não vencemos o Usain Bolt. E é mais ou menos este o patamar: talvez não haja no futebol mundial uma superiordade tão implacável quanto a do nosso rival no futebol feminino neste país. Os recordes de invencibilidade mostram isso, inclusive. Isto posto, temo desapontar mais uma vez estes reclamantes. Se, para eles, não se deve oferecer um olhar positivo em um jogo que perdemos, por coerência deveriam apoiar uma chuva de elogios numa tarde de vitória fácil. Não é o que faremos, sabedores que somos da diferença técnica entre Pàlmeiras e Vitória. Os três pontos eram quase uma certeza, e mais valia observar o quanto o alviverde preservaria os pontos positivos mostrados na estreia e o quanto corrigiria as deficiências.
O Palmeiras perdeu a volante Karla logo nos primeiro minutos. Substituída por Ana, que atuou aberta na esquerda do ataque, nossa equipe mostrou uma variação coerente com o estilo de jogo visto na primeira rodada. Com a bola, foram três zagueiras cuidando da saída de bola: Agus, Nicoly (capitã nesta quarta) e Thais. Domingo, sem a bola, Nicoly dava um passo a frente e era a volante mais combativa. Hoje fez diferente, e compôs a linha de zaga, deslocando Thais para a lateral e Vitória para o meio-campo. Isso atacou diretamente uma deficiência nossa, pelo lado esquerdo com uma lateral destra como é a Vitória. A entrada de Ana justo neste corredor, no ataque, serviu para dar profundidade neste lado do campo, no qual Thais não tem ímpeto ofensivo. O movimento foi competente e criativo.
Competente, criativo e premiado: o 1×0 foi marcado justamente pela Vitória (que ironia com o nome do adversário…), em trama pelo centro do gramado, setor do campo que ela quase não pisou no domingo. Muito jovem, arisca e dribladora, talvez o futuro dela na campanha não seja mesmo a lateral esquerda. Outra explicação para Thaís na lateral tem a ver com o lado direito e a natureza indomável de Isabela. Basta o Palmeiras pegar a bola e nossa camisa 2 torna-se ala, meia, ponta, mas não lateral (lembram do Paulo Baier?). Então que se aproveite seu estilo e se forme um trio atrás, mantenha Ana na ponta esquerda e, pelo centro, Ary, Maressa (estas mais defensivas) e Carla (mais perto de Ottilia) se movimentem e façam a bola correr. Desta forma o Palmeiras jogou e conseguiu o 2×0, com Carla, logo após a pausa pára a água.
Destaque para a dupla Maressa e Ary Borges, ambas responsáveis por fazer a bola girar. Se entenderam bem, tem estilos semelhantes, deram o ritmo devido ao setor e aproveitaram bem o fato de não terem grandes preocupações defensivas neste jogo. Maressa, pelo lugar em que entrou domingo e pelo número da camisa hoje (6), provavelmente faria outra função caso a Karla não tivesse se machucado tão cedo, mas fez um jogo bem decente na zona baixa do meio-campo. O que nosso time ainda não conseguiu foi envolver a centroavante nas suas principais tramas. Ottilia, como camisa 9, fixa, mais uma vez sofreu para receber bolas de frente para o gol ou mesmo favoráveis para mana-a-mana. Não é um time que aposta nos cruzamentos, e tem meias que entram na área de forma agressiva. Talvez vejamos no futuro outro tipo de movimentação de quem estiver em campo com a 9. A primeira bola que Ottilia recebeu de frente pra zaga rival aconteceu aos 7 do 2º tempo, em passe de calcanhar de Carla, e ela venceu o duelo. O chute saiu fraco.
Na etapa final, aliás, nova mudança. Nicoly devolvida para o posto de volante, Thais de novo na zaga, e Vitória realojada na lateral esquerda. A ideia pareceu ser de tornar o time ainda mais ofensivo, já sem o temor de perder pontos. Com a bola, as duas laterais desceram juntas. Ana mudou de lado e virou uma ponta direita. Isabela, por sua vez e tendo a companhia de Ana, passou a entrar da lateral direita para o centro do ataque, em diagonal. Carla passou a atuar mais perto ainda de Ottilia e do gol e eliminar a sobra da defesa baiana (cuja atleta mais alta tem o ótimo apelido de IGUAL). Isso funcionou para tornar Ottilia mais ativa no jogo. Todas mudanças sutis no resultado, mas que apontam um desejo de aumentar o repertório ofensivo. O Vitória, por sua própria postura e diante de mais espaços dados pelo Palmeiras, fez uma etapa final ligeiramente mais interessante que a inicial.
Aos 30 e aos 43 da etapa final, Isabela roubou para si o destaque, a foto e a manchete: marcou dois gols de falta do mesmo lugar, com destaque total para o segundo, o do 4×0, que entrou no alto da trave baiana, golaço mesmo. Não é toda tarde que podemos comemorar dois gols de falta em 15 minutos, e Isabela nos deu isto no Barradão. Depois do 3×0 e com menos de 15 minutos restantes no relógio, as últimas substituições foram feitas, mas já não havia mnuito o que observar do ponto de vista tático ou competitivo.
Fica, no fim, a sensação de que o Palmeiras é um time bem decidido sobre como quer iniciar as jogadas, que movimenta bem as suas peças de meio-campo e explora a contento os lados do campo no ataque. Gosta do passe, da posse, está disposto a correr riscos, mas ainda não é realmente incisivo no que mais importa: bater mais pra gol, ter mais oportunidades limpas, livres, claras para arrematar. O 1×0 hoje acontece com um frango de Vanessa, o segundo em uma falha feia de todo o sistema defensivo baiano após um arremesso lateral e o terceiro e quarto em cobrança de falta. É preciso que o estilo encontre, e se case, com a efetividade.