Danos morais e ervas daninhas no Palestra

Três clientes que foram ao Allianz Parque na borrasca contra o Santos, pelo BR-17, processaram a CBF, Palmeiras, WTorre (e a Liga da Justiça e o Vaticano) pelo “escoamento de água” em suas cadeiras. De fato não deve ter sido legal tentar ver um jogo com chuva braba em lugar coberto. Provável mesmo que eles tenham sido prejudicados no clássico tanto quanto o gol de Ricardo Oliveira doeu no torcedor que não dá bola às intempéries. Eles têm mais de cobrar quem de direito pelo prejuízo. Merecem dinheiro de volta. E até mesmo um justo agrado com convite para novo clássico no estádio tão moderno, bonito e caro para ter apresentado tal problema.

Mas os advogados dos palmeirenses prejudicados (e até onde escrevo não se sabe se eram mesmo torcedores do mandante) ainda pediram mais 20 mil reais para cada lesado (em todas as acepções) por “danos morais”.

Desde agosto de 1974 frequento os Jardins Suspensos (construídos 10 anos antes da minha estreia) pelas chuvas impiedosas na região que quase sempre alagam o pedaço. Já sofri por lá alguns danos morais irreparáveis que não têm preço. Os 3 x 2 para o XV de Jaú no SP-85, quando uma tromba d’água pior que a de 2017 nos lavou a alma dilacerada pelo vexame. Os 7 a 2 para o Vitória em 2003. A virada das viradas do Vasco em 2000. Os pênaltis perdidos na semifinal para o Boca, na Libertadores-01 foram doloridos – mas eu também devia cobrar na Justiça do Tinhoso o apito armado do Rubaldo Aquino do jogo de ida na Bombonera. As penalidades máximas como a de Egídio contra o Barcelona em 2017 também foram de lascar.

Todas cabiam indenização por danos morais. Assim como o Corinthians em 1933 nos 8 a 0 para o Palestra tinha como pleitear. O Flamengo na virada da Copa do Brasil-99, também. Deportivo Cali e River Plate no mesmo ano. Muitos adversários tiveram alguns danos colaterais. Irreversíveis até. A nossa histórica invencibilidade no Palestra, de 1986 a 1990. Nossa casa já deu muitos problemas a muita gente. Até pra nós mesmos. Goteiras, então, como em qualquer casa, são mais chatas que alguns advogados.

Amendoins descascados pela turma apoquentam. A patota da alfafa atazana. E os clientes no direito de exigir o que foi prometido também cornetam e cometem pecados de ganância.

Se o brasileiro fosse um cidadão tão exigente quanto o torcedor, certamente teríamos um país melhor.

Mas quando esse cidadão (em qualquer acepção) perde a noção do bom senso, do que é justo, e se perde ao tentar ganhar o que não é dele, não há como defender. Perde a razão. A causa. Até as calças com os bolsos balofos.

Esse que abusa do jus sperniandi (o sagrado direito ao chororô) merece voltar ao estádio de cimento molhado e com casca de amendoim nas entranhas. Merece o desconforto “raiz” e não a justiça Nutella.

Pode e deve pedir para ser ressarcido no que pagou e não usufruiu. Mas ir além só merece descrédito e débito.