Dez anos do adeus ao Palestra

18h14 de 3 de maio de 2010. Mando ao meu parceiro Juan Brito,do marketing do Palmeiras, a pedido do meu querido amigo
Rogério Dezembro, então diretor da área no clube, o texto que seria impresso no último jogo do velho Palestra. Amistoso numa tarde de sexta contra o Boca Juniors.

"Este é o berço da Academia do país do futebol. O do Campeão do Século. O altar da comunhão palmeirense.
O Palestra Italia. O Palmeiras dos filhos desta pátria mãe gentil, dos netos da Mamma Itália. Da torcida que canta e vibra nos Jardins Suspensos pela paixão de um clube que não é maior e nem menor. É Palmeiras. Basta.
Mas tanto amor não tem cabimento. Por isso o Palestra precisa ser maior. Moderno como o gramado elevado de 1964. Eterno como o estádio que é nosso há 90 anos. E continuará sendo de cada um quando reabrir os portões para a História.
O felizardo que tem este ingresso entra pela última vez na nossa única casa. Quando voltar, ela será como o nosso amor: ainda maior; ainda melhor; ainda mais Palestra Italia; sempre mais Palmeiras.

Naquela semana era a final da Copa de 2010. Eu estava na África do Sul. E na antevéspera escrevi este texto:

"Meu filho mais velho está fora do país. Sofreu com a derrota brasileira para a Holanda, ainda mais pela saudade da casa onde não viveu tão longe em 11 anos de vida. Mas sofre ainda mais por não estar no último jogo do Palestra Italia, nesta sexta-feira, amistoso contra o Boca Juniors. Time que lá mesmo, em 1994, sofreu a maior goleada de sua história internacional: 6 a 1 Palmeiras das vacas gordas da Parmalat. Fora o alfajor nos argentinos, teve tarantela, e, de lambuja, a convocação de Mazinho para ser campeão do mundo pelo Brasil, três meses depois.

Aqui da África do Sul, tento dar um jeito de levar o filho menor ao último amistoso. Não sei se vai dar. A mãe e o avô trabalham, tios também… O consolo é lembrar que nós três já estivemos na despedida valendo campeonato, antes da Copa, nos 4 a 2 contra o Grêmio, o último jogo oficial antes da reforma. Quando nós três pudemos assistir à vitória verde. A última que vimos juntos na casa que une a minha família, a famiglia verde, e tantos em cada canto do lugar onde mais cantei na vida. Onde tanta gente que não se entende canta e vibra. Boa gente que só se entende como gente quando é Palmeiras.

No final daquele sábado, pude ver tantos amigos ao final do jogo. Revi vários verdes de fé. E enxerguei até quem não mais podia estar lá. Como eu não poderei nesta sexta, trabalhando na final da Copa, em Johanesburgo. Como meu mais velho não poderá, estando longe do Brasil. Como o menor possivelmente não conseguirá ir. Como tantos também também não irão se despedir. Como muitos estarão de coração dando tchau ao lar que sequer conheceram. Embora saibam mais dele que das próprias casas.

Caríssimo Palestra, perdão por não comparecer à festa de despedida. Ainda mais com tanta gente que honrou o nosso lar e nosso manto por lá passando só para lembrar o que não se pode esquecer. Fico de tão longe com a imagem dos meus filhos tão pertos no final daqueles 4 a 2 contra o Grêmio. Com o orgulho do peito juvenil dos meninos inflado à frente dos bustos de Ademir, Fiume e Junqueira. Com a sensação de que ali, naquele momento de foto para a eternidade, toda a saudade do que eu não vi de Palestra e Palmeiras não mais existia. Porque ali, naquele sábado, meus meninos não eram apenas todo o amor da minha vida. Eram todo o amor da nossa vida – Palmeiras."

Pouco menos de 3 anos depois, eu só não anunciei o nome da nova arena como Allianz Parque porque estava de lua de mel. Pouco mais de 4 anos depois, o primeiro evento do estádio foi a exibição de meu primeiro documentário. Na inauguração definitiva, fui o mestre de cerimônias.

Nem em sonho.

Mas é tudo verdade. É tudo Palmeiras.