Valdir de Moraes, Leão, Velloso, Prass e Jaílson revelam histórias no Dia do Goleiro
“Ser goleiro é jogar um jogo coletivo de forma quase individual e depois de uma grande defesa, ainda que não te agradeçam, você saber que é tão ou mais importante que o artilheiro do seu próprio time”.
A frase acima não tem o seu autor conhecido. Porém, é inegável que foi dita ou escrita por alguém que sabia muito bem a importância do goleiro dentro de um time. Tão importante o goleiro é, que trata-se do único jogador de futebol a ter uma data exclusiva para celebrar. Criado em homenagem ao ex-arqueiro Haílton Corrêa Arruda, o Manga, que defendeu a Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 1966, o dia é comemorado em todo 26 de abril, numa referência ao aniversário do ex-atleta, que hoje está com 80 anos e mora no Equador.
O homenageado nunca chegou a vestir a camisa do Palmeiras. Mas certamente tem um carinho especial pelo Clube que é o melhor formador de bons goleiros da história do futebol brasileiro. Da renomada escola alviverde saíram nomes como Oberdan Cattani, Emerson Leão, Velloso, São Marcos e outros. Além desses ícones, o Palmeiras tratou de transformar Valdir de Moraes, Fernando Prass e Jaílson, todos vindos de fora, em verdadeiros ídolos da torcida.
No alto dos seus 86 anos, Seo Valdir de Moraes disponibilizou um tempo do seu dia para falar com o Nosso Palestra sobre o que o motivou a se tornar goleiro, e como transformou-se em um dos maiores nomes da história do Palmeiras, sendo, inclusive, o camisa 1 da primeira Academia de Futebol do Clube.
“A minha maior inspiração foi o meu pai. Ele atuava em times amadores do Rio Grande do Sul, onde nasci, e conversávamos bastante sobre a posição. Quando garoto, em toda brincadeira eu corria para o gol. Achava uma posição independente das demais”, conta ele. “Aí, com o tempo, me tornei juvenil do Renner, de Porto Alegre, onde também me profissionalizei. Então com 27 anos, o Oswaldo Brandão, que também era gaúcho e, em 1958, era o técnico do Palmeiras, viu uma partida minha e disse que queria me contratar. A partir daí, a minha carreira decolou”, detalha ele.
Arqueiro do Palmeiras por dez anos, Seo Valdir revela que Barbosa, goleiro da Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 1950, disputada no Brasil, era o seu maior ídolo. “Ele foi condenado pelo Brasil inteiro por conta do gol na final da Copa do Mundo, contra o Uruguai, mas por mim não. Aprendi muito assistindo ao Barbosa. Não chegamos a jogar juntos, mas conversávamos e ele me ensinou demais”.
Questionado sobre o que o Clube representa na sua vida, Seo Valdir é objetivo: “O Palmeiras é o responsável pela minha carreira. Se não fosse o Palmeiras, eu seria apenas mais um goleiro. Quando cheguei aqui ninguém me conhecia. Só o Oswaldo (Brandão). Hoje, todos sabem quem é Valdir de Moraes”, completa ele.
PALMEIRAS PROFESSOR
Natural de Ribeirão Preto, Emerson Leão também foi ouvido pelo portal e explica que não escolheu ser goleiro. Ele foi escolhido pela profissão. Tanto que quando criança não tinha um ídolo específico. Quem mais se aproximou de inspirá-lo na posição foi Oberdan Cattani, pela admiração que seu pai, palmeirense legítimo, tinha pelo jogador.
“Na infância, sempre que ia brincar nas peladas, eu jogava em todos os lugares do campo. Acontece que comecei a gostar de ver o futebol como goleiro, que é quase sempre um injustiçado. É um solitário na hora de comemorar o gol do próprio time, e que depende apenas dele para ir bem numa partida”.
“Sobre o meu ídolo, a verdade é que goleiro do interior não tinha acesso à televisão. O rádio, na época, era coisa de adulto. Então, todo mundo na Cidade admirava os atletas de Comercial e Botafogo. É claro que por ser filho de italianos e morar no interior sempre que fazíamos vaquinha para comprar jogos de camisa, o uniforme escolhido era o do Palmeiras. Aí, por toda a influência do meu pai, admirava o Oberdan”.
Anos mais tarde, o uniforme de jogo não era mais aquele comprado com o dinheiro da vaquinha entre amigos. Mas sim o do próprio clube, que, segundo Leão, foi o responsável por sua formação profissional, e o responsável por sua formação como homem.
“Eu cheguei no Palmeiras muito jovem, com 15 anos. Então, o Palmeiras foi um pouco de professor na minha vida profissional e pessoal. Foi dentro do Clube que aprendi a ser homem de caráter, a respeitar os princípios das outras pessoas e a ouvir os mais velhos que me orientavam. Portanto, costumo dizer que falar do Palmeiras é mais fácil para mim. Foi lá dentro, por exemplo, que conheci a minha mulher, quando ela tinha 15 anos e com quem estou casado há 41. É um lugar que representa demais na minha vida”.
FÃ DE LEÃO
Formado na escola de goleiros do Palmeiras, Velloso era o camisa 1 do time na conquista da primeira Copa do Brasil, em 1998. A inspiração para jogar sob as traves veio do pai e o do irmão, que atuavam de forma amadora na posição. “Sempre acompanhava o meu irmão, que é quatro anos mais velho do que eu, nas suas partidas e assistia tudo por trás do gol. E isso foi despertando em mim o interesse pela posição. Conversávamos muito sobre ser goleiro e posso dizer que ele foi o meu primeiro treinador, porque ficava chutando bolas para eu defender em casa”, revela.
O jogador em que Velloso se espelhou ao longo da carreira foi Emerson Leão. Era o goleiro alviverde das décadas de 70 e 80 que o fazia parar na frente da televisão para observar cada movimento feito dentro área.
Ter tornado-se dono da camisa que um dia foi usada pelo ídolo e também por Seo Valdir de Moraes, de quem o seu pai era fã, fez o Velloso realizar uma série de sonhos dentro da sua família. “O meu pai era palmeirense fanático e os filhos também. Para se ter uma ideia, o meu irmão se chama Valdir por causa do Seo Valdir de Moraes. Lembro de quando eramos pequenos e ele das várias vezes que ele nos levava ao Parque Antártica para assistir aos jogos. Então, quando passei a atuar como goleiro do Palmeiras realizei o sonho do meu pai, do meu irmão e o meu também”, garante o ex-jogador.
PESO E RESPONSABILIDADE
Natural de Viamão, no Rio Grande do Sul, Fernando Prass chegou ao Palmeiras em 2013 com a missão de colocar fim nos problemas da meta alviverde, que não tinha qualquer segurança desde a aposentadoria de São Marcos. Fã do conterrâneo Taffarel, goleiro tetracampeão mundial com a Seleção Brasileira, na Copa do Mundo de 1994, Prass é um dos pilares na reconstrução pela a qual o Clube passou nos últimos anos. Aliás, dá para afirmar que ele é muito mais do que isso.
Foi por meio de suas mãos, e do seu pé direito, que, em 2015, o Palmeiras voltou a encher o seu torcedor de orgulho com o último gol marcado nas cobranças de pênaltis, na conquista da Copa do Brasil daquele ano. Questionado sobre o que significa ser goleiro do Palmeiras, Prass salientou a honra e o respeito por defender a camisa que já foi vestida por grandes nomes da história do futebol brasileiro.
“Além da responsabilidade de jogar em um clube gigante, como é o Palmeiras, existe o peso de, mesmo não sendo formado aqui, representar uma grande e histórica escola de goleiros”, afirma o atual camisa 1 palmeirense, sem deixar de comemorar o dia da sua profissão.
“Trata-se de um dia especial para uma profissão especial! Ser goleiro não é para qualquer um! Me sinto honrado e realizado por ser um destes privilegiados por viver uma vida de grandes emoções nesta posição mágica de goleiro”, discursou o arqueiro.
REALIZAÇÃO DE UM SONHO
Titular incontestável e dono de imensa moral com a torcida, Jaílson, assim como Valdir de Moraes e Velloso, teve o pai, o Seo Gerson, como inspiração para se tornar goleiro. Foi vendo as defesas dele, nas competições amadoras de São José dos Campos, que o melhor jogador da posição do Campeonato Brasileiro de 2016 decidiu levar a profissão a sério. “Eu assistia ele nos jogos e treinando e me via também ali um dia”.
Como um legítimo palmeirense, Jaílson não esconde de ninguém que é devoto de São Marcos. Por diversas vezes o goleiro já falou sobre a admiração que tem pelo pentacampeão mundial e, neste Dia do Goleiro, fez questão de enaltecer, mais uma vez, aquele que para muitos divide espaço com Ademir da Guia no posto de maior jogar da história do Palmeiras.
“Sempre assisti os vídeos do Marcão. Meu ídolo é o Marcos. Por tudo que ele fez pelo Palmeiras e pela Seleção Brasileira. É um cara que tem um caráter maravilhoso, é uma grande pessoa. Então é um grande exemplo para mim e o meu espelho no futebol”.
No Clube desde 2014, Jaílson define a sensação de defender a meta alviverde de maneira emocionante: “É uma honra e uma alegria entrar em campo para defender o Palmeiras. Sem dúvidas é a realização de um sonho e fruto de muito trabalho”, afirma Jaílson.