Doar pra quem doeu. Palmeiras 3 x 2 Vitória
Thaís, escrevo aqui debaixo de onde você partiu no dia do deca do nosso time, com apenas 13 anos. Um mês antes do gol do Deyverson em São Januário, você pediu para seus órgãos serem doados. Você viu os 4 a 0 contra o América da sua Minas Gerais. Celebrou com seu pai dois dias antes de seu coração parar, os batimentos serem ressuscitados por 100 minutos, até que no domingo antes do jogo contra o Vasco você partiu.
Mas deixando seis órgãos doados para outras crianças viverem o que você não teve tempo. Mas coração pra dar a um outro jovem que será cheio de vida, alegria e esperança como você. Não por acaso verde. Como seu coração doado.
Ele que era de Cristaldo quando você só tinha 9 anos. Então já era também de Willian mesmo com o Bigode no Cruzeiro. E desde o ano passado era ainda mais dele quando veio jogar no seu Palmeiras e de tantos que se desentendem como gente mesmo na nossa casa. Mesmo na nossa festa pelo deca. Quando Dracena fez mais um gol que tanto merecia contra o Vitória diante do maior público desde 1902 no Parque Antárctica. Quando Scarpa fez o dele como tanto mereceu em 2018. Quando o Vitória empatou com um pênalti inexistente e um belo gol de empate no jogo de festa.
Mas o Palmeiras merecia mais. Você aí de cima também. O filho do Danilo da Chape e a mulher dele, também. Lorenzo passou o dia no Allianz Parque, palco do último jogo do pai, em 2016. Foi até a meta que Danilo defendeu. Entrou em campo com o time. E ouviu lá de cima o palpite do pai: “Jesus me falou que meu pai disse que hoje o Palmeiras vai ganhar”.
Ganhou, Lorenzo. O capitão Bruno Henrique fez um golaço pra coroar a taça que ergueu recebendo das mãos de ex-capitão que não tinha o que fazer dentro do campo. Como nenhum presidente eleito ou empossado tem que estar no campo. Na tribuna, faz parte. No gramado, um aparte: apenas Medici (Grêmio e Flamengo), Figueiredo (Fluminense), Lula (Corinthians) e o eleito Bolsonaro (Palmeiras) gostavam e entendiam de futebol. Mas Figueiredo não deu o caneco do BR-84 ao Flu. Lula não deu o de 2005 ao Timão (a Copa do Brasil-09 ele “recebeu” em Brasília, de cinco do elenco, e não em campo, logo depois).
Não e lugar pra presidente estar no gramado dando troféu ao time do coração e dando volta olímpica. Fosse ele Bolsonaro ou Haddad. 17 ou 13. 171 ou 69. Autoritário ou autoridade, bastam os paredros emparedados da CBF.
Ele não foi o meu voto. Mas será nosso presidente. Precisa respeitar também para ser respeitado. Doar para dar.
Como você, Thais, deu seu coração ao Willian que não era nosso e doou ainda mais amor quando ele virou nosso, e ainda mais amor quando doou sua vida pra salvar outras.
Se as pessoas físicas e jurídicas soubessem seus papéis e tamanhos e ficassem onde devem (nas tribunas, não nos pôsteres), mais gente como você estaria sendo lembrada. Mais pessoas como Letícia e Lorenzo lembrando seu Danilo. Menos problemas por intolerância entre vencedores e vencidos (não necessariamente derrotados).
Thaís Antunes, seu Willian hoje não pôde ir a campo. Ele se machucou no dia da sua partida. Vai demorar a voltar. Mas, quando retornar, ele mais uma vez vai se dedicar como sempre fez com o time e pelo time. Por pessoas como você. Tão especiais que nos ensinam como amar alguém que defende outras coisa. Como respeitar quem está no outro time. Como tolerar as diferenças.
Thais, aproveita e fala pro Danilo que hoje ele acertou o placar. Que a Letícia e o Lorenzo nos emocionaram muito. E que sempre o campo de jogo é sagrado. A bola não se mancha. E só quem chuta é quem joga. Só quem vence levanta essa bola por todos.