Donnas do Palmeiras. Do mundo também

Usamos o aumentativo para tudo o que gostamos muito ou queremos muito mal. É a forma escrita de expressar automaticamente na ponta da leitura um sentimento que levaria algumas frases pra ser notado. É nítido, é evidente ao simples e desatento olhar. Um sinalzão, um recadão, um sentimento grandão. Verdão. O maior campeão desse país. País de senhores e senhoras. Os donos do paletós, as donnas da arquibancada.

Verde escuro e claro, na cadeira do novo Allianz, verde desbotado no velho Palestra. Verde no cachecol pros dias de frio, verde no tênis nada discreto. Na toalha pro banho que finaliza o dia tão cansativo. Na camisa que virou guerra no metrô. Na ideia intolerante e criminosa que o verde e os cabelos longos faziam de uma Donna de casa, família, vida e Palmeiras, um alvo frágil.

Não é. Elas têm o mundo.

Donna Cila, Isabel, Maria do Carmo, Ana. As mulheres que me trouxeram a hombridade pra ter um time pelo qual torcer. As que fazem da vida de todos vocês, maior. Que dão sentido a tudo. A mãe que é a primeira a receber a ligação quando ganhamos aquele jogo impossível. A namorada que se torna esposa dividindo as dores e as delícias de 90 minutos na 34 e 35 da fileira H, no Gol Norte. No Sul, em qualquer La Bombonera do mundo.

Longínquo e lamurioso o tempo em que elas estavam esperando do lado de fora. Sombrios, necessários e passados. Nunca terei eu, um homem, a condição de paragrafar o processo incalculável pelo qual passam dia após dia para manterem a cadeira em igualdade de condições com a que eu pude ocupar pelo sexo que nasci. Um privilégio que faria questão de não ter. Uma evolução que causa arrepio pelos braços e o desejo incontornável de celebrar aqui.

Ela venceu. Ela saiu mais forte daquele estupro moral. Ela acendeu mais uma chama. Ela se fez donna de situação. Deu lição de humanidade por sofrer o que jamais deveria ter sofrido. Pelo fim, pelo episódio derradeiro, ainda que não seja, mas que ilumina o caminho para lá, o metrô abriu portas para que descemos todos em um tempo tolerante. Igual. Em que o diminutivo pelo qual passam se torne de fato, aumentativo de sossego.

VerDonnas, o movimento feminino da torcida do Palmeiras, vocês são o aumentativo.

Queria saber uma maneira que orgulhasse vocês na mesma proporção que me sinto orgulhoso do que fazem. Da resistência que fazem mais e mais ouvida. Não terei gramática suficiente pra isso. O Palmeiras certamente se vê. O clube da contestação, da revolução, do enfrentamento. Da torcida que tem fibra. Das mulheres que fazem esse coração mais verde, mais bonito e muito, mas muito forte.

Avanti, VerDonnas.