Dossiê Dinheiro: uma análise sobre o Palmeiras desde 2015

Toda e qualquer conversa sobre Palmeiras, desde sempre, chegará ao tema ‘negócios’. Os que deram certo, os que foram um fracasso retumbante. E, desde 2015, com a chegada estrelada de um dirigente com status de ídolo, esse tema mudou de proporção e se tornou o mais delicado e polêmico assunto quando se fala em futebol do alviverde.

Seria ele o culpado pelas decepções ou herói das conquistas? Gastou, rendeu, fez bom uso, fez tratos errados? Manteve padrão, criou uma cultura de transferências? Quais foram os problemas e os milagres? Fomos a fundo pra saber como foram os cinco anos de Alexandre Mattos, de Crefisa, de Leila Pereira, de muito dinheiro  e muitas mudanças no mundo verde.
Chegada com moral

No dia 6 de Janeiro de 2015, o Palmeiras, inaugurando o segundo mandato de Paulo Nobre, anuncia a chegada do novo dirigente de futebol para a vaga do então diretor José Carlos Brunoro. Vindo de Minas, após dois anos de títulos brasileiros com o Cruzeiro, Alexandre chegou para andar com a reconstrução de um elenco que flertou com a Série B no ano anterior. E os recursos não eram lá grande coisa.

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Montagem de 2015

Usando da criatividade e do bom entendimento dos jogadores sem contrato, o planejamento daquele ano começou ainda cedo. Antes mesmo de chegar a São Paulo, Alexandre já havia fechado com o zagueiro Vitor Hugo, o lateral-esquerdo João Paulo, os volantes Amaral, Andrei Girotto e Gabriel, o lateral-direito Lucas, o meia Zé Roberto e o atacante Leandro Pereira. Deste todos, apenas o matador custaria algo aos cofres alviverdes. Pouco mais de 1,5 milhão de euros.

Empréstimos e jogadores livres de vínculos eram as opções para aquele projeto que contava com pouca grana. E esse padrão seguiu com o resto dos 25 reforços que chegariam ao longo da montagem. De todos os nomes, quatro foram em compras. Robinho, por 2,5 milhões de reais, Thiago Santos por 1 milhão de reais. Além deles, Dudu e Barrios completam a lista. Mas merecem especial atenção.

Operação Crefisa

Recém-chegada ao Palmeiras, Leila Pereira e sua empresa, patrocinando o Palmeiras, tiveram o primeiro grande ato com a chegada de Lucas Barrios. O camisa nove que disputava a Copa América daquele ano foi contratado com status de herói.
Custando 40 milhões de reais no valor final entre transação, luvas e salário dos quase três anos em que lá esteve, o paraguaio foi a mostra de que aquele projeto abria horizontes além do poder – à época pequeno – do clube e ia além dos muros da Academia.

É importante lembrar que o primeiro acordo de patrocínio era algo em torno de 23 milhões de reais por ano. Foi o primeiro ‘chapéu’ dado no rival São Paulo, que também negociava a chegada do aporte.

Antes, a tacada de gênio

Antes que o elenco se tornasse grande e sem ainda visualizar o poder da Crefisa, Alexandre Mattos teve seu apogeu e sua transformação em herói com a contratação bombástica de Dudu. Destaque gremista, o camisa 7 havia se entendido com o Corinthians logo após ser desejado pelo São Paulo. Eram favas contadas a ida do futuro ídolo para um arquirrival. Eram.

Até que em um domingo cedo pela manhã, com aval do presidente Paulo Nobre, Alexandre se reuniu com Dudu e apresentou a ele o projeto ousado que mudaria pra sempre o destino dele, do jogador e do clube. Chegava, por 3 milhões de euros, o cara desse novo Palmeiras. Mattos se torna incontestável. O Palmeiras mostrava ao Brasil que mudava de status. Queria ser protagonista.

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Mittos

O final daquele ano, de taça nos braços, trouxe resultados financeiro e esportivo maravilhosos. Gastando pouco mais de 50 milhões de reais em 25 reforços, o Palmeiras voltava a ser campeão nacional, revelava Gabriel Jesus ao mundo, e conquistava o respeito de torcedores e de rivais. Voltava a ser importante. Mattos se consolida como ‘Mittos’. Chega até a ser garoto propaganda do programa Avanti nos comerciais de televisão.

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Sucesso do Avanti

Propulsor definitivo do maior poder de compra da equipe, o programa de sócios-torcedores, o Avanti, uma iniciativa muito querida por Paulo Nobre, teve um crescimento de quase 70 mil sócios ao longo de 2015, atingindo a marca de 120 mil adesões. Liderou o ranking no país e foi top 10 no mundo. E o dinheiro arrecadado foi revertido também em ações com os associados, como visitas ao CT, estádio e pré-jogos, e no investimento para o departamento de futebol. Um sucesso retumbante.

Torcida na rua

O final de ano trouxe um episódio que talvez seja o mais importante momento pré-jogo que o novo Allianz Parque viveu. Com um ano de vida, o estádio, que já era uma fonte de receita poderosa, viu sua gente mobilizar dois estádios para a final da Copa do Brasil. Com 40 mil pessoas dentro do estádio e pouco mais de 60 mil nos arredores, a noite daquela taça foi a mais impecável relação torcedor e clube. E seria a última vez.

Fenômeno Allianz

O primeiro ano completo na nova casa trouxe um acrescimento de renda muito importante. Com relação a 2014, houve um crescimento de 270% no faturamento com bilheteira. Com 35 jogos, a renda líquida foi de 43 milhões de reais. Em 2014, com jogos no Pacaembu, a renda atingiu pouco mais de 11 milhões de reais.

A média de público, por sua vez, acompanhou o crescimento vertiginoso. Em 2014, o Palmeiras recebeu, em média, 16.897 mil torcedores. Já em 2015, o número subiu para 29.445, mesmo com o ticket médio tendo disparado de R$ 37.66 para R$ 71.75. A renda líquida de 2015, por fim, liderou o quesito no país com 32 milhões de reais.

Contas no azul

O Palmeiras fechou 2015 com lucro de R$ 10,5 milhões. Com renda líquida em bilheteria, o time pulou de R$ 23,1 milhões em 2014 para R$ 87,2 milhões em 2015, representando um aumento de 276%. Há, também, os R$ 43 milhões de patrocínio da Crefisa e da FAM. Era o começo de um ciclo virtuoso que dava resultados em campo e convencia nos números fora dele. Direção prestigiada.

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Sarrafo sobe – 2016

Campeão e com mais poder de contratação, o Palmeiras começa o ano em busca de qualificar o elenco vencedor e aposta em continuidade. Presidente, diretor, treinador. Todos continuam para o novo ano e o planejamento conta com a manutenção dos principais destaques do time campeão. Era hora de contratar menos, mas caprichar na qualificação.

Apostando na mesma mescla de jogadores livres e gastos mais elevados em certos nomes, o Palmeiras faz um negócio que impressiona pelos números. Traz Erik, destaque do Goiás, por 13 milhões de reais e com contrato de cinco anos. Além dele, Jean, experiente jogador do Fluminense, e o desconhecido Moisés chegaram por negócios envolvendo valor de transação. A janela de verão ainda contou com Edu Dracena, Fabiano, Fabrício, Vagner, Roger Carvalho, além de Regis, que chegou sem custos. Observação e habilidade de mercado.

Mau início. Mão no bolso.

Após um Paulistão frustrante em 2015, Marcelo Oliveira deixa o comando técnico do Palmeiras. Cuca assume seu lugar para que as fichas todas ficassem no Brasileirão. A Libertadores havia sido um sonho sem sucesso. Com o novo comando, Alexandre foi ao mercado e trouxe negócios caros – e efetivos. Yerri Mina e Roger Guedes custaram quase dezenove milhões de reais aos cofres verdes. Além de Tchê Tchê, que chegou sem custos.

O sucesso veio em forma de título histórico. 22 anos depois, o Brasil era verde de novo. A tacada de tiro curto, mais uma vez, pelo segundo ano seguido com dois treinadores, o Palmeiras fechava o ano com uma conquista. Era o final da era Paulo Nobre e também o final do contrato com Alexandre Mattos. Eles deixavam um balanço recorde. O auge do clube que havia se refeito.

Azul. Muito azul. Verde!

De acordo com balanço publicado pelo site oficial do clube, o Verdão teve quase R$ 90 milhões de lucro em 2016, sendo uma receita operacional recorde: R$ 468,6 milhões (R$ 117 milhões a mais em relação ao ano anterior, quando foi registrado lucro de "apenas" R$ 10 milhões). O Palmeiras rendia por todos os lados. Era uma máquina de fazer dinheiro.

Dívida da confusão

Por mais que o clube tivesse lucrado muito e com sócio-torcedor fazendo históricos R$ 30 milhões de renda e com todos os débitos bancários quitados, Paulo Nobre deixava o clube no final de 2016 com algo pendente. Um empréstimo de 112,9 milhões de reais que o mandatário injetou no clube em forma de contratações e aporte financeiro.

A dívida seria paga através de parcelas e com a venda dos jogadores que ele havia ajudado a contratar. Ainda com a condição especial de que em caso de lucro na venda, o valor seria do clube e, se rolasse prejuízo, ele, Paulo, arcaria com a depreciação.

É importante lembrar, entretanto, que o aporte financeiro de patrocínio também já se elevava naquele momento. Foram R$ 90,6 milhões recebidos pelo clube com os patrocinadores anexos e a dupla Crefisa e Faculdade das Américas. Em 2015, o montante havia sido de R$ 69,7 milhões, dos quais 23 eram de Leila Pereira e suas empresas. Dois lados gastavam. Um só continuaria.

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Rompimento oficial

Presidente idolatrado pela torcida, Paulo Nobre encerrou seu mandato com dois títulos e com o sucessor eleito. Maurício Galliote, vice de Paulo e fiel escudeiro do ex-presidente, assumiu o comando do alviverde no começo de 2017 e uma atitude mudou toda essa relação umbilical. O novo mandatário não impediu que Leila Pereira se candidatas ao Conselho Deliberativo do clube por meio de discutível manobra de bastidores. A “traição” deu start a uma nova era de investimentos da patrocinadora e pôs fim ao envolvimento de Paulo Nobre com a gestão.

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Fenômeno Leila Pereira

Leila já mostrava a ambição de se envolver profundamente com o clube. Essa medida de fazer parte do Conselho foi viabilizada pela manobra de Mustafa Contursi, presidente lendário do clube, que atestou ter dado a Leila, em 1996, um título de sócia benemérita e por isso avalizado sua candidatura (requerem-se dos candidatos, oito anos de associação). O lado de Paulo Nobre, que havia vetado a candidatura, afirmava que ela só havia se tornado sócia em 2015.

Divergência à parte, em 11 de Fevereiro de 2017, com votação recorde de 248 sócios, ela foi eleita pro conselho. Era parte da chapa ‘Palmeiras Forte’, do grupo de Mustafá. O reflexo dessa eleição veio a galope com transferências milionárias.

O cerco

Apesar da elogiada gestão, Paulo Nobre foi responsável pela implantação de algo que revoltou torcedores e opinião pública. Com apoio da Ministério Público de São Paulo e direção do clube, a Polícia Militar passou, desde o dia 23 de Outubro de 2016, a fechar as ruas que ficam ao redor do estádio, em dias de jogo. Só passa pelo bloqueio quem tem ingresso comprado ou quem comprove ser residente da região. A medida visava, segundo a diretoria, melhorar a segurança do pré e do pós-jogo no Allianz Parque e expulsar cambistas e ambulantes, mas os números são confusos sobre esse cenário.

Acelerando o tempo dessa análise, em março de 2017, o já presidente Maurício Galliote afirmou ao portal UOL que cerca de 100 ocorrências eram registradas, por jogo, no Allianz Parque/Palestra Italia. No entanto, de acordo com o 23º Distrito Policial, durante os doze meses de 2016, foram registradas apenas 11 ocorrências na Rua Palestra Italia, e apenas quatro foram em dias de jogos. Para se ter uma ideia, na região, até o final de 2018, 48 ocorrências foram registradas. Na prática, a justificativa da violência não teve fundamento.

A polêmica que começa em 2016, na gestão Paulo Nobre, se estenderá por todos os anos dessa análise. A parte que mais gerou críticas e protestos.

Preços e público

O Palmeiras fecha o ano de 2016 com uma média de 29.014 pessoas por jogo, número levemente abaixo dos 29.445 de 2015, mas com média de ocupação em crescimento, chegando a 68%. Arrecadou 59.6 milhões de reais com bilheteria, um recorde do clube. As coisas seguiam bem com as contas do alviverde. O Avanti, inclusive, representou 71% do público do Palmeiras nos jogos da equipe. Liderou o país com maior número de adeptos ao programa. O crescimento era incontestável.

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Dinheiro pelos ares – 2017

Sobravam condições para planejar 2017, mas faltava um treinador. Com problemas pessoais, e, também, problemas internos no clube, Cuca não deu andamento ao trabalho campeão. De contrato renovado pela primeira vez, Alexandre Mattos escolheu Eduardo Baptista, que havia feito bom trabalho no Sport Recife, como novo comandante. E daria a ele muitas novas opções.

Desfilando emprestados pelo Brasil, começava neste momento um aumento de jogadores com vínculo com o Palmeiras, mas que atuariam em outros clubes. No elenco do campeão brasileiro, um aporte de 81,5 milhões de reais, em valores atuais de conversão, foi feito em contratações, mas com uma mudança definitiva: o dinheiro de Leila Pereira.

**Mais do que um patrocínio
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Dias antes da eleição para o Conselho acontecer, o Palmeiras anunciou a chegada de Alejandro Guerra, melhor jogador da Libertadores de 2016 e campeão da competição pelo Atlético Nacional. Com a ajuda da Crefisa, foram pagos 10 milhões de reais na transferência do meia. Ainda houve a apresentação de Guerra na sede da FAM e com a presença de Leila para entregar a camisa alviverde para o venezuelano. Havia nesse momento um marco de participação dela no mundo do Palmeiras

Porco de Ouro

Insatisfeito após perder Gabriel Jesus, ainda que por bons 121 milhões de reais pagos pelo Manchester City, o Palmeiras buscava um camisa 9 para a temporada de 2017 e foi atrás do maior destaque do continente (no segundo semestre de 2016…). Miguel Borja recusaria a China para vir ao Brasil e esse negócio multimilionário só foi possível porque a rainha do condado palmeirense se dispôs a investir em um nível nunca antes visto.

Com pouco mais de 32 milhões de reais pela transferência e também 200 mil reais mensais para compor os 313 mil reais de salários do colombiano, mais 1 milhão de dólares de luvas pela assinatura, ela bancou o pacote do novo camisa 9. O jogador mais caro da história do clube. Após Barrios, Vitor Hugo e Guerra, Borja se tornaria a quarta, e maior, contratação da dupla Crefisa e FAM. Dessa vez, com aditivo de gastos com patrocínio para acrescer a quantia dos salários.

Renovação com benefícios

Partindo para 72 milhões de reais pelo ano de exposição de suas marcas, as empresas de Leila Pereira passaram a ter novos investimentos. Eles se davam da seguinte forma: a comissão do clube determina o atleta e as empresas são acionadas para o pagamento. O dinheiro é repassado ao clube na compra de propriedades de marketing do Palmeiras.

Planejamento confuso e dependente

A Crefisa definitivamente bancou a ida do Palmeiras ao mercado de transferências em 2017. O zagueiro Juninho, por exemplo, custou 3 milhões de euros (R$ 11 milhões). Já outros 3,7 milhões de euros (R$ 14 milhões) foram pela compra de 50% de Dudu junto ao Dínamo de Kiev, além de mais 2 milhões de euros (R$ 8 milhões) por Fabiano, lateral que veio do Cruzeiro, sem contar os 10 milhões de reais investidos em Luan, zagueiro do Vasco. Isso apenas na gestão de Eduardo Baptista.

Raphael Veiga, Keno, Antônio Carlos, Felipe Melo, Michel Bastos, Mayke, Hyoran e William foram os nomes que, entre gastos e empréstimos, completaram o mercado de verão do Palmeiras para a busca do bi nacional e da Copa Libertadores. Pouco menos de 20 milhões vieram apenas do cofres alviverdes.

O problema veio dentro de campo. Com campanhas conturbadas na Copa e no Paulistão, Eduardo não resistiu à sombra de um Cuca desempregado e disposto a trabalhar. A volta do ex eram favas mais do que contadas. Com ele, mais um pacote de reforços viria e faria números estrondosos nos gastos de Crefisa e Palmeiras.

120 milhões

Com as chegadas de Bruno Henrique e Deyverson, além das luvas pagas para o retorno de Cuca, a empresa atingiu impressionantes 120 milhões de reais investidos no futebol do Palmeiras naquele ano. O problema viria meses mais tarde, com uma notificação da Receita Federal. Isso mudaria muito o futuro.

Multa. Mudança no contrato

Multada em 30 milhões de reais por ter descrito os valores gastos em transferências como “despesas” e assim ter evitado a tributação completa do valor, a Crefisa mudou seu modelo de contrato. Antes, os jogadores eram resguardados pelo Palmeiras e ligados à empresa como “propriedade marketing”, para que tivesse a chance de explorar a imagem dos contratados.

O contrato inaugurado no final de 2017 configura que os atletas, então, passariam a ser emprestados pela empresa ao clube. Em caso de venda abaixo do valor gasto, o Palmeiras teria 24 meses para quitar a dívida. Caso algum atleta tenha seu contrato expirado, o clube também deverá pagar em até 24 meses pelo valor gasto. Forma-se uma dívida sem tempo para acontecer, mas inevitável. Crefisa dependência.

Decepção em campo.

O Palmeiras não aconteceu em 2017. Muito próximo de uma reviravolta histórica, mas que esbarrou no título do arquirrival Corinthians, o ano acabou na seca para os palmeirenses. E com mais dois treinadores demitidos. Alberto Valentim era o sexto comandante dos três anos de Mattos no Palmeiras. 2018 viria e mais uma busca pelo comandante de um Palmeiras que voava nas finanças.

Azul. De novo.

Em 2017 o Palmeiras ultrapassou a casa dos R$ 500 milhões em receita. Houve aumento em todos os quesitos: TV, patrocínios, bilheteria e venda de atletas, o que lhe permite aproveitar o farto dinheiro do patrocinador para investir em formação de elenco – e não para fechar as contas correntes. O clube conseguiu atuar para reduzir sua dívida bancária e pagou o que devia ao ex-presidente Paulo Nobre.

Até por conta das desavenças políticas, a nova gestão fez questão de zerar a dívida com o antigo mandatário. Mesmo com parcelamento a juros minúsculos para até 10 anos, em apenas um o débito foi extinto. Poderia ser motivo para celebrar, mas na prática, o que aconteceu foi a mudança de conta a ser paga. Sai Nobre, entra Leila Pereira. Quase um seis por meia dúzia. Quase.

113 vs 120

O Palmeiras de 2017 e começo de 2018 usou 113 milhões de reais para quitar uma dívida parcelada para até 10 anos com depósito de 10% da renda bruta anual do clube – para fazer uma nova dívida de 120 milhões a serem pagas em até 24 meses após a venda ou expiração de contrato. Em termos práticos, em média, de cinco a sete anos. Uma troca que parece muito mais convincente no aspecto político e de orgulho do que no sentido lógico de administração responsável.

Bilheteria e Avanti

Com 29.660 pessoas por jogo, o Palmeiras manteve sua média de público na casa das 30 mil pessoas, o que representava uma ocupação de 75% do estádio – um número bem satisfatório para o que o clube planejava. Ainda com ticket médio mais caro do país, 58 reais, o Palmeiras bateu, no Brasileirão, uma renda de 33 milhões de reais, a segunda melhor arrecadação do campeonato. No Avanti, o resultado foi uma renda de R$ 47 milhões, pouco mais de R$ 3 milhões acima do registrado no ano anterior. O aumento com sócio-torcedor ficou em 7,5%.

2018 e um estilo preciso

Nas mãos de Alexandre Mattos, que havia recebido apoio em forma de ameaça de Leila Pereira – “se Mattos sair, eu vou rever meu patrocínio” -, o dirigente se segurou no cargo mesmo após os maus resultados do ano que havia passado e comandou uma janela de transferências com menos apostas e negócios mais “certeiros”.

Gastando pouco menos de 25 milhões de reais em nomes de maior impacto como Gustavo Scarpa e Weverton, o Palmeiras foi pontual, mas também investiu nos bastidores para ter jogadores que movimentaram a janela, como o meio campista Lucas Lima, que chegou sem custos de transferências, mas com o bolso abastecido pelos vencimentos milionários após assinar com o alviverde. São 47 milhões de reais previstos para os cinco anos de contrato, até 2022.

Com as próprias pernas

O valor investido na montagem do elenco que viria a ser campeão brasileiro é 5 vezes menor do que foi gasto para compor o time que saiu zerado de 2017 e isso se deve, também, à não participação da Crefisa nos negócios do clube. Desde a mudança de contrato, o Palmeiras adotou uma postura mais comedida quanto ao envolvimento da empresa nos gastos de transferências, afinal, eram, ali, mais de 120 milhões de reais em dívidas com a patrocinadora, que viveria seu quarto ano ao lado do alviverde do Palestra.

Ainda assim, vendas em profusão

O Palmeiras se desfez de jovens promessas. Daniel Fuzato foi transferido para a Roma, da Itália, por R$ 2,2 milhões. O atacante Fernando, de 19 anos, acertou com o futebol ucraniano por 5,5 milhões de euros – o Verdão lucrou R$ 21,6 milhões por ter 90% dos direitos econômicos.

No time dos garotos, o lateral João Pedro foi vendido para o futebol português. A negociação foi fechada em 4 milhões de euros, dos quais R$ 9,2 milhões ficaram com o Verdão, que era dono de 50% dos direitos econômicos do jogador de 21 anos.

Na turma dos mais velhos e consagrados, o atacante Keno foi vendido para o futebol do Egito por quase 40 milhões de reais. O meio campista Tchê Tchê foi para a Ucrânia por 20 milhões de reais e Roger Guedes, para a China, por 43 milhões de reais. O montante de vendas atingiu a casa dos 150 milhões de reais. Recorde da gestão.

Máquina de triturar treinador

Roger Machado fazia boa campanha na Libertadores, mas não resistiu à má fase no Brasileirão e foi mais um técnico demitido por Alexandre Mattos. Para o seu lugar, pelo quarto ano seguido alguém assumindo no segundo semestre, chegou Felipão. Nas mãos dele, o Palmeiras se sagraria Decacampeão nacional. Sucesso dentro de campo. Dinheiro do lado de fora.

Azul, ainda

No fim das contas, a equipe do Palestra Italia ainda fechou o ano no azul: além de ter conquistado o Campeonato Brasileiro, encerrou 2018 com lucro de R$ 30,7 milhões. O patrimônio líquido acumulado foi de R$ 59,6 milhões.

A manutenção de atletas de maior salário dentro do elenco gerou alto custo. Em relação a 2017, quando o gasto com salários, direitos de imagem e contratações foi de R$ 247,1 milhões, em 2018 esse montante subiu para R$ 335,2 milhões. Essa nova conta exigia maiores resultados em campo. A conquista segurou a onda, mas o Palmeiras flertava com o vermelho. Os gastos se elevaram muito, mas os resultados foram iguais aos de 2016, quando pagava-se muito menos.

A gestão ainda negociou a chegada da Puma. Após mais de uma década de parceria com a Adidas (desde 2006), o Palmeiras 2019 vestiria a outra marca alemã. Uma novidade muito interessante financeira e moralmente falando para um Palmeiras, que iria para 2019 com a missão de ganhar ainda mais. Queria ganhar a América.

Missão tripleta

Vivendo ótimos momentos, o comando do Palmeiras aprovou uma mudança estatutária importante. Com um bloco formado por Maurício Galiotte, pela conselheira Leila Pereira, dona da Crefisa/FAM, o ex-presidente Luiz Gonzaga Belluzzo e também Seraphim Del Grande, presidente do CD, o grupou conduziu a proposta para que a eleição presidencial, em novembro, já elegesse alguém para os próximos três anos, em vez de dois, como até então.

No dia 21 de maio, portanto, ficou aprovada a mudança. Entre os 224 conselheiros que votaram – são 280 aptos para tal responsabilidade -, 143 a favor, 79 contra e houve duas abstenções. Caminho aberto para que a o projeto de Leila e Maurício pudesse avançar até 2021, quando a conselheira poderá se candidatar para o cargo máximo da SEP.

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Patrocínio problemático

Às vésperas da votação presidencial, Genaro Marino, opositor do eleito Maurício, apresentou ao clube proposta da Blackstar, empresa disposta a pagar R$ 1 bilhão por um contrato de patrocínio válido por dez anos. Em ação pela suspensão que receberia – afastado do clube – meses depois de a proposta fracassar, Genaro citou uma possível saída de Leila Pereira. O futuro, porém, mostrou que ela faria o maior contrato da América Latina e que a Blackstar teria sua idoneidade contestada.
PresiLeila

Desde a chegada ao Conselho, como você leu por aqui, Leila falava com temor sobre ser presidente. Aos poucos, foi trocando o tom de negação pelo de possibilidade. Em maio, no entanto, organizou um jantar luxuoso para conselheiros, diretores e sócios do Palmeiras em um hotel cinco estrelas em São Paulo, no qual defendeu a alteração do mandato para três anos.

A mudança esteve estagnada desde 2013 e foi retomada por Galiotte, que tinha o tema como uma das linhas de frente de sua campanha.

Valores, valores

O Palmeiras gastou R$ 590,5 milhões com seu departamento de futebol em 2018. O número representa um aumento de R$ 181,8 milhões nas despesas em relação a 2017, quando esse custo havia sido de R$ 408,7 milhões.

Foram arrecadados em 2018 R$ 688.572.176,00, mas houve queda no superávit em cerca de R$ 57 milhões em 2017 para aproximadamente R$ 30 milhões em 2018. A despesa total no ano foi de R$ 657.884.006,00. O Palmeiras viu, à época, como algo equilibrado. Nota-se, entretanto, uma queda vertiginosa desde 2016, quando o superávit foi de 90 milhões.

Há, também, um salto no valor das dívidas com empréstimos a longo prazo – de R$ 22 milhões em 2017 para R$142,6 milhões em 2018, devido ao investimento da Crefisa na contratação de atletas, como detalhamos ao longo desse texto.

Avanti degringola

Após liderar o ranking de sócios torcedores no Brasil e ser top 10 do mundo, ultrapassando os 130 mil adimplentes, o Palmeiras desceu a ladeira. Entre os 20 clubes com mais sócios, o verde não divulga mais a quantidade atual. A última atualização ocorreu por meio de um relatório do Conselho de Orientação Fiscal (COF) do Palmeiras que, de acordo com o GloboEsporte.com, é de 60,4 mil adimplentes. Menos da metade do que já teve antes. A respeito do tema, no final de 2018, inclusive, o programa aumentou em 20% todos os valores das mensalidades em todos os níveis de associação.

Tudo perfeito – 2019

Era o ano mais promissor destes todos, da nova fase endinheirada e estruturada do Palmeiras. Virou o ano com o título brasileiro debaixo dos braços, com o treinador campeão mantido no cargo e ainda fez um esforço lendário para manter suas maiores estrelas. Segurou Dudu quando a China o quis e ainda manteve o capitão Bruno Henrique, desejo substancial também dos chineses. A trinca direção de futebol, comissão técnica e corpo de atletas passava intacta pela janela de transferências e começava 2019 com o pacote dos sonhos.

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Pacote pesadelo

A ida do Palmeiras ao mercado foi bastante ágil na virada de ano. Antes mesmo de a temporada começar, a equipe já havia apresentado seu pacotão 2019. Matheus Fernandes, por 13 milhões de reais; Zé Rafael, por 14 milhões de reais; Mayke, em definitivo, por 14 milhões de reais; a permanência de Gomez, por 25 milhões de reais; o fico de Marcos Rocha, por 8 milhões de reais; a chegada de Arthur Cabral, por 5 milhões; e os incríveis 23,9 milhões de reais por Carlos Eduardo. Além de Felipe Pires, que chegou por empréstimo. Estava montado o elenco para o novo ano por 114,5 milhões de reais.

Pouco para o maior patrocínio das Américas

No dia 23 de janeiro, Maurício e Leila, em coletiva, anunciaram que a Crefisa havia renovado seu patrocínio ao Palmeiras por mais três anos, o maior prazo já acordado entre as partes. É a mesma duração do mandato do reeleito Maurício.

O novo acordo prevê: 81 milhões de reais anuais, 15 milhões de luvas pela assinatura da parceria, 6,8 milhões de reais em propriedades de marketing (ajuda no salário de atletas) e uma premiação por temporada de 34 milhões reais, totalizando cerca de 136 milhões por ano. No total do contrato, podem-se atingir impressionantes 410 milhões de reais.

O Palmeiras, então, projetava um orçamento de 650 milhões para o novo ano. O mais robusto já visto pelas alamedas.

Pioneirismo com EI

Paulo Nobre, em entrevista ao final de seu mandato, afirmou que havia esgotado os termos possíveis com a Globo antes de fechar um acordo pioneiro com outra televisão: o Esporte Interativo.

"Vocês (Globo) foram a primeira televisão com quem conversamos, então entendam que da mesma maneira como vocês supervalorizam Corinthians e Flamengo, pode ter uma televisão que queria nos supervalorizar também"

O resultado dessa opção foi a assinatura com o canal de televisão a cabo em um acordo complexo e de altos valores. A começar pelas luvas de 100 milhões de reais pela assinatura, em 2016.

O acordo previa alguns pontos importantes que não estavam presentes nos acordos habituais com a Rede Globo, como o uso do nome “Allianz Parque”, a divulgação do programa ‘Avanti’ em todas as redes do canal e também uma parceira para internacionalizar a marca Palmeiras.

No dia 13 de Dezembro de 2016, momentos finais da gestão Paulo Nobre, foi fechado esse complexo e lucrativo contrato. Por fim, havia uma cláusula extra que dizia: caso não haja acordo com Globo, a consequente exclusividade do EI, o alviverde embolsaria MAIS 34.5 milhões de reais. A Vênus Platinada reagiria.

Guerra Global

Longos e longos meses, campeonato já em andamento, jogos sem transmissão, uma guerra nunca antes vista e uma resistência elogiável. O Palmeiras não cedia, não abria mão de ter valores semelhantes aos de Flamengo e Corinthians, a dupla que sempre teve a primazia nos pagamentos da televisão. Era uma rebeldia inimaginável.
Ela chega ao fim com a conquista desejada. Palmeiras e TV Globo fecham contrato pelos direitos de transmissão do Brasileirão de 2019 a 2024 em 23 de maio. Diante do desejo alviverde, a Globo cedeu e subiu a cota do Palmeiras para um valor estimado em R$ 100 milhões.

A emissora ainda concordou em não aplicar ao clube o redutor de 20% do contrato (R$ 9,6 milhões em vez de R$ 12 milhões) por ter assinado com Esporte Interativo, uma imposição do Palmeiras para assinar o contrato.

“Informo aos nossos milhões de torcedores que entramos em acordo com a TV Globo sobre os direitos de transmissão para tevê aberta e pay per view em relação ao Campeonato Brasileiro. Tivemos os nossos pleitos atendidos a contento e assinamos um contrato com duração de seis anos”, disse Mauricio, presidente do Palmeiras, em nota.

Caso Goulart

Era a coqueluche do torcedor. Cereja do bolo. “Cadê o Goulart?”, diziam. O Palmeiras trouxe da China o seu mais representativo reforço. Em 15 de janeiro, o alviverde chegou a um acordo complexo para que o atacante vestisse verde. Por empréstimo de um ano e salário divulgado de 600 mil reais, cerca de um quarto dos vencimentos que ele recebia no clube chinês, Goulart viria também com a opção de compra – por dez milhões de euros – ao final dos 12 meses do empréstimo, mas o sonho de verão duraria bem menos.

Em 29 de abril, Ricardo sente uma lesão no joelho direito após um lance de jogo. Ele passou por uma artroscopia para solucionar uma contusão do menisco lateral. O novo problema sucederia a questão médica que já o afligia antes mesmo de se tornar atleta do Palmeiras. Desde outubro de 2018 tratando um problema na cartilagem do joelho, ele passava por cuidados especiais, mas a lesão no menisco o afastaria, no mínimo, por três meses.

No dia 23 de maio, foi anunciada a rescisão de Goulart com o Palmeiras. Em meio aos boatos sobre sua contusão ser mais séria do que o informado, o meia recebeu uma oferta do seu clube, na China, para retornar imediatamente sob o argumento de receber um aumento importante em seus vencimentos e prorrogar seu contrato por mais cinco anos. O Palmeiras, por sua vez, recebeu a compensação por todo o gasto envolvendo luvas, comissão e salários gastos com essa operação.

Ele encerrou sua pequena passagem após doze jogos, quatro gols e duas assistências. Em progresso para atingir o posto de protagonista ao lado de Dudu, o camisa 11 sai e deixa vaga a lacuna de referência técnica. Problema pra Scolari.

Paulista ruim. Arrancada histórica

Por mais que a eliminação do Paulistão tenha sido dolorida, diante de um rival, o Palmeiras de Felipão resolveu estilhaçar marcas e arrancou de forma arrasadora no Brasileirão. Deixando cinco ponto de vantagem para o segundo colocado e oito para o futuro campeão, a parada deixava clara e límpida a sensação que o bicampeonato era algo de muito provável. Tudo seguia conforme o previsto. Ou melhor.

Movimentos de base

2019 foi o ano para se falar sobre base no Palmeiras. O início do ano trouxe uma das maiores polêmicas. Arthur, revelação alviverde foi cedido ao Bahia para que houvesse espaço para Carlos Eduardo, transação de 23,9 milhões de reais.

Pouco tempo depois, o clube se desfez de Luan Cândido, lateral esquerdo que fazia ótimo percurso de base. Considerado uma das cem maiores promessas do mundo, o jovem que recém completava 18 anos foi transferido para o RB Leipzig, da Alemanha, por 8 milhões de euros, mais dois milhões de euros quando Luan fizesse o quinto jogo pelo clube e também 15% em uma venda futura. Pode-se considerar um valor final na casa dos 43 milhões de reais.

Vitão, zagueiro do Palmeiras e da Seleção Brasileira de base, foi vendido por 18 milhões de reais para o Shakthar Donetski, da Ucrânia. Ele não chegou a ter sequência no time profissional. Foi exportado sem jogar.

Vale lembrar que essa sequência de garotos vendidos começou em 2018, com a saída de Fernando, que iniciava sua trajetória na equipe principal do verde, por 21 milhões de reais, também para o Shakthar Donetsk. Para efeito de comparação, Carlos Eduardo custou 3 milhões a mais aos cofres alviverdes.

Daniel Fuzato, ainda em 2018, foi vendido à Roma por 2,2 milhões de reais. Hoje, ele integra a Seleção Brasileira.

É importante lembrar que Gabriel Furtado, Yan, Papagaio, Vitinho e Pedrão, nomes que foram multicampeões nas categorias de base, hoje estão emprestados para clubes do Brasil e do mundo e nenhum deles integra o elenco profissional.

Iván Angulo, considerado um fenômeno jovem da Colômbia, chegou ao Palmeiras em um contrato de empréstimo junto ao Envigado, pequeno clube local, mas, diante do sucesso do garoto, o alviverde fechou a compra dele 11,6 milhões de reais, através de cláusula no contrato de empréstimo. Apesar do ótimo desempenho, ele também jamais atuou pela equipe principal.

Segunda fase do mercado

O hiato de campeonato trouxe novidade para a esquadra alviverde. A primeira delas foi Ramires, experiente volante que atuava no futebol chinês e chegou sem custos, mas com quase um ano de inatividade.

Vitor Hugo, desejo da torcida, retornou do futebol italiano após deixar a equipe em 2017. Por 25 milhões de reais e um contrato de cinco anos.

Henrique Dourado chegou por empréstimo e com zero custo ao Palmeiras. A ideia era recuperá-lo fisicamente após fratura.

Luiz Adriano veio como solução. Era a contratação mais importante dessa janela e foi em uma negociação sem custos ao alviverde, que pagaria luvas e salário.

Quatro atletas por 25 milhões.

Mesmo assim, crise.

Queda na Libertadores em uma virada inesperada dentro de casa, queda na Copa do Brasil quando tudo parecia caminhar pra classificação, queda no Brasileirão e perda da liderança. Goleada sofrida para o Flamengo, que abria larga vantagem sobre quem o superava, antes, por oito pontos. Crise instaurada. Felipão é demitido. Oitavo treinador que perde o cargo nessa gestão de Alexandre Mattos. Média de um treinador a cada sete meses. Nenhum deles esteve no cargo por uma temporada completa.

Isolamento político

O Palmeiras de 2019 degringola. Não se acha, apesar dos números serem bons. Entra em rota de colisão com parte de sua torcida. Protestos pesados, até certo ponto violentos. Alexandre Mattos é eleito o culpado. Cúpula alviverde pressiona pela demissão. Presidente o mantém e abaliza a chegada de Mano Menezes. Por isso, ficam ilhados.

#ManoNão

Explode nas redes sociais a campanha do alviverde contra a chegada do treinador. A diretoria banca. E como dito, o trio presidente, diretor e treinador fica isolado. Sozinho. Leila Pereira não banca mais a dependência de Alexandre. Não se manifesta a favor do trabalho. “Não sou eu quem contrata”, diz. Restam os três. A dona da Crefisa parece se realinhar politicamente para se proteger da chuva que atingiu a atual gestão. Missão presidente?

Aliança 2021

Presidente do Conselho, Seraphim Del Grande declarou, recentemente, em outubro, que Leila estava insatisfeita com Mattos, bem como ele também está. Eles foram vistos, por exemplo, na Festa Junina do clube, na mesma mesa. Já há quem garanta que saia dessa união o encaminhamento bastante óbvio para Leila candidata a presidente nas próximas eleições do Palmeiras.

Folha Salarial

Conforme apurado por esta publicação, o Palmeiras de 2019 tem a maior folha salarial do Brasil, ao lado do Flamengo. O alviverde gasta 9 milhões de reais, contando apena o valor de carteira. O número, por exemplo, somado aos gastos com direitos de imagem, beira os 20 milhões de reais. Com folga, o maior valor gasto dentro do Brasil. O Flamengo, para efeito de comparação, bate na casa dos 18 milhões.

Finança contestada

Ainda que o presidente Maurício tenha afirmado ao Globo Esporte que “as finanças do Palmeiras estão sob controle. O clube está financeiramente estável, equilibrado, fazendo uso exclusivo de receitas correntes, sem qualquer antecipação de recebíveis ou recursos de terceiros”, o prejuízo de 33 milhões de reais no balanço de agosto causou preocupação sobre como iam as contas do alviverde.

A resposta da direção sobre esse déficit diz respeito à variação cambial, despesas financeiras acima do planejado, receitas com patrocínios, direitos internacionais, placas e bilheterias abaixo do que estava previsto em orçamento.

Fomos atrás de porquês

O balanço do mês de agosto fala em 147 milhões de reais a serem pagos para outros times por negócios realizados e também para intermediários (pessoas que fazem parte da negociação com atletas). Deste valor, 110 milhões vencem num curto prazo de tempo, ou seja, precisam de solução rápida. Nesse momento, diante da baixa bilheteria, da qual falaremos, e falta de premiações por títulos, que não foram conquistados, o empréstimo bancário surge como opção quase única.

Quando falamos em bilheteria, há algo a ser pontuado. Por mais que já se tenha faturado quase 60 milhões em renda bruta com o público dos jogos, o Palmeiras tem, hoje, seu pior índice de ocupação no estádio. Abaixo de 70% da capacidade. Em 2018, para efeito de comparação, o clube atingiu 80 milhões de renda com 75% de lugares ocupados.

A direção, no entanto, acredita que esses números reflitam apenas a ausência da equipe nas semifinais da Copa Libertadores e da não disputa, ou quase, no Brasileirão. Essas retas decisivas poderiam, de fato, mudar completamente os números. A gestão ainda cita 2019 como o ano de maior diversidade de ações com torcedores mirim e feminino dentro do estádio.

Precificação

Com o famoso contrato entre Palmeiras e WTorre, empresa que administra o Allianz, toda a renda de bilheteria vai para o clube, enquanto o custo de uso do estádio é do Palmeiras. Esse gasto está entre R$ 1 milhão e R$ 500 mil. Neste ano, por exemplo, a arrecadação média de jogos está em cerca de R$ 1,7 milhão.

Também por isso, o Palmeiras tem o ingresso mais caro do Brasil. Com ticket médio girando em torno de R$ 57. Como comparação, os rivais têm ingressos mais baratos: Corinthians (R$ 50), São Paulo (R$ 49) e Santos (R$ 36). O Flamengo tem um preço médio de R$ 44.

Apesar da imensa onda de reclamações, a direção do clube se defende sob o argumento de prestigiar o Avanti e seus descontos, afinal, se o clube praticar descontos, segundo eles, o torcedor poderia deixar de se unir ao programa e comprar entradas de forma avulsa. Controle de mercado, dizem os especialistas. Lembrando que o Avanti não tem mais seus dados divulgados, mas pudemos apurar que hoje o clube tem cerca de 60 mil sócios adimplentes, número que deixa o Palmeiras fora até do Top-5 do país neste quesito. Para quem já teve 130 mil, 60 mil é pouco.

2020 e a projeção

O clube mantém sigilo sobre contas e sobre ideias, mas essa longa e extensa análise permite imaginar alguns cenários.
Com um déficit conhecido no mês de agosto e sem fonte de renda extra, há que se imaginar que a situação se perpetue até o final do ano, afinal, a tendência é não haver conquistas até lá. Sabe-se, porém, que cerca de 30 milhões de reais chegarão ao vice campeão nacional, a posição provável do Palmeiras para esse campeonato.
Sem tanta robustez de receita, o clube pode seguir os modelos 2015 e 2016, além do segundo semestre de 2019, quando encontrou bons nomes em fim de contrato.

Base

O olhar para a base, ENFIM, deve surgir nesse próximo ano. Gabriel Verón, Gabriel Menino, Henri, Patrick de Paula e Esteves são nomes que a direção e a comissão entendem com potencial necessário para atuarem em 2020. Destaques da seleção sub-17 e sub-20 do Brasil, os jovens farão o chamado intercâmbio no final desta temporada e início da próxima para integrarem o elenco principal.

Entendimento do autor

O Palmeiras teve enormes acertos e se equivocou em algumas decisões secundárias. O clube, que poderia estar falido e esquecido, está no topo do país, mas não mais com supremacia. É contestado e precisa cuidar das contas que estão, desde 2017, sendo levadas a uma condição exigente de conquistas para valer o alto investimento. Com bons contratos de patrocínio, transmissão e material, o clube precisa olhar para a canteira e desfazer contratos pouco úteis. Não será mais permitido falhar. 2020 exige precisão.