O dia tinha começado bem. Com uma esperança incontida, um café da manhã no qual até as bebidas pareciam dar um pingo de esperança pros meus olhos ansiosos e nervosos por aquele jogo, por aquele momento. Qualquer espadinha pro céu era capaz de ver as lembranças e as inspirações que essa vida de amor me trouxe. Seria capaz de escrever uma bíblia de Palmeiras naqueles segundos. Sentia o corpo tomado pela emoção mais genuína de idolatrar incondicionalmente algo que se materializa no coração de cada um de nós.
Naquele dia, procurei minha camiseta da sorte, separei as que dão azar, escondi a bandeira que tinha falhado em um dia anterior, escolhi a calça que venceu noutro, fiz as orações no mesmo altar, conversei com meus santos preferidos, dialoguei com minha fé suprema de que todos os meus rituais poderiam resolver nossas dificuldades durante o jogo. Pedi a bênção dos meus ídolos antigos que haviam assinado minha camisa. Confiei no silêncio que passou a ser companhia recentemente.
Acreditei e fui.
No caminho, fui sempre pisando com o pé direito pra que o pé bom deles estivesse melhor ainda, ou o esquerdo, o a cuca que me deu a sensação de paraíso. A cada membro da família que via, trocava olhares de força, de energia, de compartilhar a ansiedade, mas de dividir a coragem e a esperança, também. Fosse ao vivo ou a milhares de quilômetros, mas unido no amor. Iniciava ali a comunhão que se faria voz e força nos noventa e poucos minutos. Tirava da mochila velha, mas que tinha o chaveiro que comprei naquele título, a bandeira de dez reais para proteger o mau olhado no percurso até a casa – ou até a cozinha.
No meu fone, além do chiado depois de tantos jogos juntos, a sequência de músicas que aquecia minha alma para que nada interferisse naquela concentração dedicada, para que desviasse do meu eu torcedor os problemas da vida. Nada importa mais do que o dia de Palmeiras. A cada acorde, um arrepio bom de presságio. Sensação inequívoca que tudo acabaria bem. A melhor de todas.
Lá, na minha rua preferida, no meu bar de sempre, com os amigos que chegam pra te cumprimentar com a mão gelada, a respiração ofegante, o terço enrolado no pescoço e aquela voz trepidante dizendo como quem compartilha um abraço: “É hoje, vai dar certo”. Vai, sempre deu. Mesmo nos dias em que voltamos pra casa com o coração partido por não ter sido o bastante, mas com o bastante de amor por ter feito tudo o que poderia. Mesmo agora, que nos vemos pela tela, mas que movemos fé e torcida como, talvez, nunca antes. O concreto não se moveu, mas o coração deles..
O mesmo hino nacional a plenos Palmeiras, da sala, do quarto ou do estádio, o mesmo silêncio que sente do intocável algum recado. As mesmas sensações de êxtase, de tensão, de festa, de ódio, de incompreensão, de injustiça. A mesma sensação complexa o suficiente para que um parágrafo maior que o Palestra não dê conta de exprimir. Ao menos, te faz sentir e compreender. Basta. Tudo, absolutamente tudo isso que passa pela sua cabeça quando você pensa no grande amor da sua vida. Por quem você muda de agenda, de planos, de humor, de ânimo, mas nunca de cor.
Sabe que dia é esse? Todos.
São os nossos dias de Palmeiras, de celebrar o que temos de melhor no mundo, o que move nossos dias, que faz acordar feliz ou dormir vendo o mundo mais triste. Que põe sentido nessa tarefa humana de viver. É o seu dia, com seus amigos, seus rituais, sua rua. Do seu pai, do teu avô, que ouvia no radinho. Será o do seu filho que aprenderá tudo isso olhando o amor do pai. Será de cada um que sente o coração acelerar, a pele arrepiar, o olho marejar e o amor aumentar. Nunca seremos capazes de expressar. É impossível de explicar…
Obrigado pelos meus 27 anos de Palmeiras. E feliz 107 pelos seus.
Te amo até meu último dia. E nos outros, também.
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