E o Palmeiras no ardor da partida
O Palmeiras foi o melhor time do SP-18 embora ainda não seja o grande time que será. Teve a melhor campanha. Algumas ótimas partidas. Mais chances que o Santos na semifinal. Mais que o Corinthians na final. Pode reclamar de um impedimento que o prejudicou em Itaquera. Pode discutir três pênaltis que eu não marcaria no Allianz Parque (todos polêmicos). Deve lamentar 1min55s de demora para o quinto árbitro avisar o quarto para falar com o árbitro a respeito de um lance que deveria ter sido falado na hora por eles. E ficou mal explicada toda a história que o Palmeiras deixou de fazer na sua casa com o maior público desde 1902.
Esse é o resumo da ópera. Mas no país que justiça mais do que Justiça, muitos querem sangue mais do que alma. Querem likes mais do que ideias. Querem mais curtidas virtuais que pensamentos curtidos. Querem mais compartilhar sacanagem, intolerâncias, ignorâncias, preconceitos, falta de educação e respeito do que o contraditório, o debate, as diferentes versões.
Nem tudo é vendido. Nem todos são comprados. Nem tudo é corrompido. Nem todos estão errados. Apenas pensamos diferente. Ou até achamos a mesma coisa. Sentimos parecido. Tomamos o mesmo partido. Mas não podemos acusar sem provas. Não podemos achar que está tudo encomendado. Encaminhado. Desvirtuado.
Se está, nem vamos pra campo. Não podemos desdenhar depois da derrota. Ainda que possamos reclamar do modo como aconteceu. Podemos nos indignar. Ficar bravos. Putos. Sentirmos impotência. Inoperância.
Mas sem nos sentir onipotentes. Justiceiros. Querendo carniça.
Palmeiras é periquito com espírito de porco. Não pode ser abutre. Nem cordeiro. Mas é dever ser equilibrado. Não é passar pano e nem a mão na cabeça alheia. É ter cabeça. Não ter pena. E nem exigir cumprimento de pena máxima. Ser acima da média não é fazer média. Mídia exige tentar olhar para todos os lados e versões. Sem aversão.
É saber que tem coisa errada. É denunciar quando se sabe. Mas não pode se achar que tudo tem esquema e sistema. Não tem esquema Crefisa. Não tem apito amigo. Não tem mimimi antecipado nem chororô ensaiado.
É pra ficar puto. Mas não é pra ser bruto. Não é pra tirar time de campo. É pra botar mais Palmeiras no gramado em que a luta o aguarda. Não é pra achar que vai ser garfado. É para jogar bola independente da bolada. É pra ficar bolado com os erros. Pilhado para acertar.
Pronto para ser Palmeiras. E, como jornalista, preparado para ser atacado por tentar buscar a melhor versão dos fatos. Ser detonado por tentar ser isento – e não isentão. Por tentar ser independente – e sem entrar no pão e circo e baixar as calças para mostrar as vergonhas e o desrespeito. Por tentar ser objetivo – em matéria subjetiva.
Ninguém é mais torcedor do que ninguém. Ninguém pode dar aula de outra profissão a quem não é do ofício – como muitas vezes nós jornalistas queremos montar, treinar, escalar, trocar, pagar e ensinar time e futebol. Por isso temos que aceitar as críticas. Dialogando sempre. Mesmo com quem mereça ser bloqueado – e que muitas vezes já vem com bloqueio de fábrica.