Edu Bala

Quem vê um senhor caminhando tranquilamente pelas ruas de Perdizes, em São Paulo, talvez não saiba o quão rápidas eram aquelas pernas. Veloz, incisivo e inteligente. Dentro de campo, não havia lateral-esquerdo que não temesse o confronto com Edu Bala. Perigoso com a bola nos pés, o ponta-direita sabia como poucos aproveitar os espaços deixados nas linhas defensivas adversárias. Piques de 20m, 30m ou 40m que se transformavam em idas a linha de fundo e cruzamentos perfeitos para César Maluco e Leivinha.

“Minha característica era a velocidade, mas você conquista isso através de treinamento. Não é só ser veloz. O mais importante de tudo isso é o arranque e dar opção para seu companheiro poder fazer o lançamento”, afirma.

Quando chegou ao Palmeiras, em 1969, contratado junto a Portuguesa, Edu sequer imaginava que escreveria história tão bonita trajando verde e branco. 480 partidas e 76 gols em nove anos pelo clube. 252 vitórias, 158 empates e 70 derrotas. Tricampeão brasileiro (1969, 1972 e 1973) e tricampeão paulista (1972, 1974 e 1976). Camisa 7 da lendária Segunda Academia, time em que vivenciou títulos, gols, passes, desarmes, alegrias e tristezas.

“É um motivo de satisfação. Mostrar para os filhos e netos que tínhamos grandes amigos e defendemos uma grande equipe”, exalta.

Em 1974, experimentou sua maior alegria como atleta. Na primeira partida da final do Campeonato Paulista daquele ano, marcou o gol no empate por 1 a 1 com Corinthians, no Pacaembu, após assistência de Nei. Na grande decisão, diante do Morumbi repleto de torcedores do time alvinegro, Ronaldo anotou gol histórico e garantiu não só o triunfo por 1 a 0, mas também mais um troféu ao clube palestrino. Ao rival, restou aguardar mais um ano na fila de títulos que perdurava desde o estadual de 1954.

“O Corinthians era favorito, mas nós tínhamos uma missão muito grande de ganhar o título. Nossa primeira obrigação era parar o Rivellino. O Oswaldo Brandão (treinador) dizia: ‘se marcarmos o Rivellino, 50% está feito’. Isso era responsabilidade do Dudu. Mas também precisávamos cumprir os outros 50%”, relembra. “Sair do Morumbi foi duro. A torcida do Corinthians ficou parada, sentadinha na arquibancada”, completa.

Mesmo para alguém tão veloz, a vida corre depressa. Fora de campo, Edu não é Bala. É Carlos Eduardo da Silva. Um paulistano de 68 anos, pai de Rodrigo, de 35 anos, e Flavia, de 31 anos. Casado há 37 anos com Rosana. Diferentemente do comportamento que adotava em campo, opta por ritmo mais tranquilo. Quando a inspiração surge, vai à garagem de sua casa e desenha caricaturas de personalidades do mundo do esporte, como Marcos, Pelé, Ronaldo, Cafu, Alex, Bernardinho, Maguila e Rubens Barrichello. Entre as dezenas de obras nas paredes, há espaço também para o Papa João Paulo II e Roberto Carlos.

Entretanto, é na cozinha que Edu encontra seu grande hobby e paixão. Desde os tempos de atleta, passa horas preparando pratos que aprendeu com sua mãe, Dona Francisca, falecida há pouco mais de 30 anos. Massas e receitas de diversas regiões do Brasil. Não há uma só especialidade do Chef Bala. Para acompanhar? Cerveja, vinho ou caipirinha.

“Acho que esse é o grande legado que minha mãe me deixou. Eu passava muito tempo ao lado dela, aprendia de tudo um pouco”.

Se Edu enaltece o legado deixado por Dona Francisca, os corações palestrinos agradecem pelo legado deixado por Edu Bala. Títulos, gols e lances inesquecíveis. Obrigado, camisa 7.