ESPECIAL | Neto de Adalberto Mendes conta história de amor do avô com o Palmeiras: ‘Paixão dele’
Militar é uma das principais figuras da história do clube, sendo fundamental na Arrancada Heroica, há exatos 80 anos
A Arrancada Heroica é um dos principais momentos da história do Palmeiras. Em 20 de setembro de 1942, há exatamente 80 anos, o time deixou de ser Palestra Itália e entrou em campo com novo nome diante do São Paulo, pelo Paulistão. Na partida, o clube venceu por 3 a 1, após os adversários abandonarem o confronto antes do final, e se sagrou campeão estadual.
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Apesar dos craques como Oberdan Cattani e Waldemar Fiume, o nome mais marcante do Verdão foi outro, que não jogava com os atletas. O General Adalberto Mendes, na época capitão, liderou o elenco palestrino na entrada em campo e foi fundamental para a reconstrução da imagem e prestígio do Palmeiras.
Em homenagem aos 80 anos da Arrancada Heroica, o NOSSO PALESTRA conversou com Adalberto Romar, neto do General, que contou a história vitoriosa e revolucionária do avô no Alviverde.
Relação com o Palmeiras e amor pela Academia
– O Palmeiras é meu segundo time. É Vasco e Palmeiras – iniciou Adalberto.
Nascido no Rio de Janeiro e vivendo em Brasília há décadas, o homem de 69 anos tem dois amores no futebol, ambos relacionados à trajetória do seu avô no esporte.
Inicialmente, o General trabalhou na equipe carioca, sendo vice-presidente, e foi responsável por diferentes títulos pelo clube. Anos depois, ele aterrissou em São Paulo para fazer parte da administração palestrina. O Verdão passava por momentos difíceis, sendo perseguido pelo governo brasileiro por causa de sua origem italiana.
Sobre a relação do ex-capitão com o Maior Campeão Nacional, Adalberto começou explicando o seu sentimento pessoal relativamente ao Palmeiras. Segundo ele, a presença do avô no clube fez com que a família criasse um vínculo forte com o Maior Campeão Nacional.
– Meu sentimento é verde e branco. Vasco e Palmeiras. O meu avô foi primeiro vice-presidente de esportes do Vasco, teve o tiro de guerra em São Januário, ele participou daquilo tudo. Depois, foi para o Náutico, teve de servir em Recife, e depois foi para o Palmeiras. Aí foi o amor da família toda. Pessoalmente, ele queria que eu fosse militar ou jogador de futebol. Jogador eu fui, cheguei a ser profissional do América-RJ, mas estudando, fazendo UFRJ na área de comunicação, jornalismo. Meu avô me incentivou em tudo. Na vida dele, o Palmeiras era primeiro lugar em tudo. Na vida toda dele, sempre foi.
O carinho pelo Palmeiras, então, iniciou com o General, que tinha na Academia das décadas de 60 e 70 sua maior paixão. Adalberto relembrou momentos com o avô acompanhando o time que é tido como um dos melhores da história do futebol brasileiro.
– A vida dele com o Palmeiras, ele fez o livro da vida dele no esporte. Aí você vê a paixão dele, entrando em campo fardado. A vida dele no Palmeiras, apesar de tudo, estava em primeiro lugar. Era um apaixonado. Eu gostava muito quando ele me levava para ver a Academia, esse timaço, e quando o Tupãzinho me deu a chuteira dele. Meu avô: “Vai dar a chuteira para o meu neto!”. Essas coisas todas. A vida dele foi exército e Palmeiras, com o Palmeiras em primeiro lugar em tudo. Foi uma vida muito bonita, o tempo é inexorável, mas lembro de muitas coisas dele.
– A paixão dele era a Academia. Ademir da Guia, Tupãzinho… se você falar do meu avô com essa galera das antigas eles fiam doidos. A única coisa que fiquei chateado com o meu avô foi quando ele me levou ao Maracanã e eu tinha abertura como jogador, mas ele me levou para a geral para ficar perto do banco do Palmeiras. Ele falava muito do time, que era um timaço. Eu fui ver esse time jogar contra o Vasco algumas vezes.
– Na Segunda Guerra Mundial, os jogadores do Palmeiras, que era Palestra, eram ofendidos, porque achavam que era time de italiano. Ele entrou fardado com a bandeira do Brasil, e todos se levantaram e bateram palmas para o time inteiro do Palmeiras. Ele falava toda hora desse time. Mas era a Academia que ele era apaixonado. A vida dele era Palmeiras, Palmeiras e Palmeiras. Eu até brincava que ele tinha esquecido um pouquinho o Vasco. O time de coração era a Academia. Foi o que convivi mais. Era disso que ele falava, do orgulho que ele tinha pelo Palmeiras. Era a paixão dele, não tinha minha avó Albertina nem ninguém, o amor dele era o Palmeiras.
Perseguição e liderança na Arrancada Heroica
Em 1939, a Alemanha nazista invadiu a Polônia e deu início à Segunda Guerra Mundial. O confronto durou por seis anos e colocou os Aliados – contando com países como Inglaterra e França – diante do Eixo – composto por nações como Itália e Japão.
Com isso, o Brasil, vivendo a Era Vargas, passou a abolir símbolos que remetessem ao fascismo italiano e ao nazismo alemão. O Palmeiras, na época chamado de Palestra Itália, foi um dos principais alvos do governo.
Fundado por imigrantes italianos, o Verdão tinha orgulho de sua origem, mas precisou alterar seu nome para continuar existindo no cenário nacional. Inicialmente, o escolhido foi Palestra de São Paulo, mas uma nova mudança foi feita para retirar o ‘Palestra’, uma vez que as autoridades entendiam erroneamente que a palavra tinha origem italiana.
Adalberto, então, explicou o processo de troca de nome de Palestra para Palmeiras. Segundo ele, era necessário criar essa nova identidade para fugir da rejeição dos torcedores brasileiros.
– O time era vaiado porque o Palestra era italiano, mas não tinha nada disso, porra. O brasileiro via o Palmeiras como um time de italianos. Aí ele entrou fardado com a bandeira do Brasil. A partir daí, todo mundo respeitou o Palmeiras e bateu palma. (A troca de nome) foi exatamente por isso, pela não-aceitação dos torcedores que viam o Palestra Itália, mas que queriam um nome que representasse o clube. Aí vem a história do Palmeiras. A última ação para sair de Palestra Itália para Palmeiras foi devido à rejeição, ele falava para mim.
No entanto, não bastou mudar de nome para findar a perseguição ao ex-Palestra Itália. Para a partida decisiva pelo Paulistão, no dia 20 de setembro, eram esperadas vaias ao Verdão quando os atletas entrassem para a partida. No entanto, o então capitão Adalberto Mendes se colocou à disposição para retomar o respeito do clube.
Liderando os jogadores, o militar entrou em campo fardado com seu uniforme oficial com a bandeira do Brasil em mãos. O ato impediu qualquer manifestação negativa das audiências, que não poderiam criticar um clube que contava com a figura de um membro do exército nacional.
O ato ficou marcado na história do Palmeiras como um dos principais realizados por alguém ligado ao Alviverde. Sobre o ocorrido, o neto do General explicou que o avô precisou bater de frente com membros da diretoria e das forças armadas.
– A resposta que ele quis dar a todos na Segunda Guerra Mundial quanto o Palestra Itália e depois Palmeiras. Ele teve de bater de frente com muita gente, com diretores e com o exército brasileiro. Querendo ou não, todos tinham essa preocupação, essa é uma posição mais contundente, de mudança de nome. Ele encarou todo mundo. E quando ele entrou fardado, o exército tentou fazer um comentário de: “Pô, tu entra fardado (com o Palmeiras)”, isso ele me contou. Mas ele falou: “Entrei fardado e entraria de novo. Foi pelo Brasil e pelo Palmeiras. Acabou”.
Emoção e importância histórica
General Adalberto Mendes é, sem dúvida, um dos principais nomes da história do Palmeiras. Mesmo após 80 anos, ele segue sendo lembrado e homenageado pelo clube. Para a família, isso é motivo de orgulho, uma vez que, segundo o neto, eles têm noção do quão importante o militar foi para o Maior Campeão Nacional.
– Tenho sim (noção da importância do general na história do Palmeiras). A família agradece a grandeza do meu avô pelo amor que ele teve por esse clube. O pessoal do Náutico gosta muito dele, no Vasco tem um esquecimento, mas vê se tem esquecimento no Palmeiras. A família é grata, e muito, ao Palmeiras. A todas as diretorias, a atual e as demais, pelo amor que meu avô teve, e eles reconhecem. Não só isso, mas construíram uma sala para a memória do Capitão e General Adalberto Mendes. O Palmeiras é uma instituição muito grande, não tem igual.
– A trajetória dele é lembrada até hoje, exatamente pelas coisas que comentei. Por ele ter encarado o povo brasileiro, o povo militar. Futebol é uma coisa, guerra é outra, vamos respeitar o Palmeiras. O carinho e amor que ele tinha por esse clube. Eu só tenho que agradecer aos dirigentes de hoje por lembrarem do homem que brigou por tudo, colocou a vida dele para o Palmeiras poder chegar onde chegou. O Palmeiras já é um timão de muito tempo. Hoje está com esse time, que eu acho mais ou menos, e lembrar da Academia, que todos lembram até hoje. É isso aí, é o General Adalberto Mendes. O orgulho, carinho que essa e as demais diretorias têm pelo meu avô. O que posso falar é que o Palmeiras era a vida do meu avô, sempre foi.
Hoje (20), a Arrancada Heroica completa 80 anos. Em homenagem a isso, o Palmeiras lançará uma camisa especial para sócios Avanti.
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