Especial Primeira Academia 1965 – Campeão! Palmeiras 3 x 0 Botafogo

https://youtu.be/uWg4cNtsBZA

Nelson Rodrigues: “O Palmeiras foi perfeito. Irretocável. Cada jogada uma obra-prima. O Palmeiras não pensou no placar. Tratou de fazer exibição é só. Suas tramas eram trabalhadas em renda fina, em renda da Bélgica”. O genial cronista de O GLOBO demorou para se apaixonar pelo Palmeiras que conquistou antecipadamente o Rio-São Paulo e ganhou o eterno apelido de Academia.
“Ademir foi um maravilhoso atacante e Domingos um incomparável zagueiro. Ademir da Guia, o jovem centauro de ambos, tanto ataca quanto defende. (…). Teve uma exibição quase sobrenatural. Até os buracos do Pacaembu confraternizaram com ele. Não se pode imaginar que outro craque dê passes mais limpos, exatos, macios”.

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Charge na coluna de Nelson Rodrigues, em O GLOBO

Nelson brincava desde 1954 com seu não menos genial colega e amigo Armando Nogueira falando do “scratch húngaro” do Armando. Para ele, todo timaço, real ou não, era uma seleção húngara de 1954 vista por Armando na Suíça. Quando o cronista falava que uma equipe ou alguém ganhava essa metáfora, ele era o máximo.
Ele foi Ademir da Guia nos 3 a 0 finais contra o Botafogo, e em quase todo o Rio-São Paulo.
“O meu scratch húngaro é o Ademir da Guia”, encerrou a crônica habitual “O Meu Personagem da Semana”.
Ademir e Rinaldo foram os melhores da partida com maior renda do Rio-São Paulo. 3 a 0 no desfalcado Botafogo (sem Garrincha, Jairzinho, Roberto Miranda, Mura e Luís Carlos). Palmeiras ainda sem Julinho (discutindo contrato) e sem o goleador Ademar Pantera, 14 gols, (vencedor do prêmio Air France de artilheiro do torneio), com a tíbia trincada – e por isso cortado da lista de 29 convocados por Vicente Feola para a Seleção. (Em seu lugar foi chamado Servílio. Isto é, o Palmeiras mantinha absurdos sete listados pela CBD).

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Primeira página do caderno de Esportes de O GLOBO

O Palmeiras jogaria pelo empate naquele domingo à tarde no Pacaembu para ser campeão antecipado. Nem isso foi necessário. No sábado, no Maracanã, a Portuguesa precisava vencer o Flamengo por 9 x 0. Acabou em um melancólico empate sem gols e sem futebol que deu o título (ainda mais) antecipado ao Palmeiras. Como venceu o segundo turno, e já havia vencido também o primeiro, a Academia de Filpo Núñes cancelou as finais.
Desde os 5 a 0 contra o São Paulo na quarta-feira, no Pacaembu, o clima já era de festa. Tanto que os diretores Ferrucio Sandoli e Arnaldo Tirone anteciparam a concentração para os solteiros no Hotel Normandie. Os reservas Picasso, Santo, Júlio Amaral, Ferrari, Nelson, Tarciso e Germano estavam disponíveis para o treinador.
No domingo, o palmeirense invadiu o Pacaembu com muitas bandeiras e flâmulas. As de pano custavam mil cruzeiros. As flâmulas, 500. O Botafogo até começou bem o clássico. Mas uma vez mais a Academia fez o jogo dela. E também o do rival. Trocou bola com engenho e qualidade, com intensidade e movimentação na frente, e a genialidade, velocidade e dinâmica de Dudu e Ademir da Guia, rima que era seleção tanto da primeira quanto seriam também da Segunda Academia (1972-1974).

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Para a FOLHA DE S.PAULO, “o Palmeiras jogou como poucos conseguirão fazer. Deu um espetáculo para os olhos”. E fez 1 a 0 aos 13: Dudu lançou Gildo pela direita, ele passou pelo ótimo Rildo e cruzou na cabeça de Tupãzinho. Mais festa no Pacaembu.
Aos 29, Ademir fez o dele, em grande lance de Servílio, e uma bela pancada de primeira do Divino.
O Botafogo começou a se enervar. Também com a arbitragem, que não marcou um pênalti bem marcável de Carabina em Bianchini, aos 32.
Mas o Palmeiras seguia “jogando uma enormidade”, nas palavras da FOLHA. No intervalo, as dores nas costas de Tupã o tiraram de campo. Sem problemas: a fase de Dario era espetacular. Ele entrou mais uma vez voando. E o Botafogo batendo. Aos 20, depois de sofrer mais uma falta de Dudu, Gérson perdeu a cabeça e deixou o pé na canela do volante palmeirense. Devidamente expulso.
Mais cinco minutos, Djalma Santos é substituído por Nelson Coruja para ser ovacionado em pé pela torcida alviverde. Logo depois o ótimo Sicupira perdeu a cabeça e merecia ter sido expulso pela falta feia em Rinaldo. Algo que Rildo conseguiria aos 35, quando deixou o cotovelo em Germano (que tinha acabado de substituir Dudu).

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Dario divide com Manga, na segunda etapa brilhante do Palmeiras.

O Palmeiras ficou só ataque. Como fez várias vezes na carreira brilhante, o Divino virou o primeiro volante, com Servílio e Rinaldo ao lado, e Gildo, Dario e Germano na frente.
Se 11 x 11 já não tinha para o Botafogo e não teve para nenhuma equipe no Rio-São Paulo, 11 x 9 era questão de tempo para o Palmeiras fazer o gol de todos os tempos no torneio.
Aos 44 minutos, quando já poderia estar mais do que o dobro no placar não fosse o goleiro alvinegro Manga, Ademir avançou pela esquerda e tabelou com Dario. A bola sobrou para o Divino já dentro da área. Marcado por Paulistinha e Zé Carlos, não teve dúvida: “foi um recurso que eu tinha, jamais um desprezo ou menosprezo pelos rivais”. Ele deu uma cavadinha, uma colherinha, uma bola levantada desde o chão para o sem-pulo de Dario da entrada da área.
Gol espetacular. Uma aula da Academia. “Consagração brilhante e merecida do campeão”, escreveu O GLOBO, que também o chamou de “melhor time do Brasil” em manchete.
A única equipe a vencer todos os jogos como visitante no torneio: cinco vitórias no Maracanã.
Foram 12 vitórias, 3 empates, e apenas uma derrota para o Flamengo, no Pacaembu.
Melhor ataque, melhor defesa, maiores públicos, maiores rendas. Dez pontos a mais na classificação geral do que o segundo colocado – Vasco. Marcados 49 gols e sofridos 20 em 16 jogos. Média de gols de mais de 3 por partida.
A Primeira Academia.
Uma aula de futebol.
Um time que não só marcou época: definiu uma escola, uma filosofia, uma identidade de jogo.
O nome do centro de treinamentos do clube desde 1992.
A “Eterna Academia”, o nome do livro oficial do centenário, em 2014.

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PALMEIRAS 3 X 0 BOTAFOGO
Torneio Rio-São Paulo/Turno Final
Domingo, 23 de maio (tarde)
Pacaembu
Juiz: José Teixeira de Carvalho
Renda: Cr$ 42 912 500
Público: 46 577
PALMEIRAS: Valdir; Djalma Santos (Nelson), Djalma Dias, Valdemar Carabina e Geraldo Scotto; Dudu (Germano) e Ademir da Guia; Gildo, Servílio, Tupãzinho (Dario) e Rinaldo.
Técnico: Filpo Núñez
BOTAFOGO: Manga; Joel, Zé Carlos, Paulistinha e Rildo; Airton (Dimas) e Gérson; Canavieira, Turcão (Sicupira), Bianchini e Artur.
Técnico: Admildo Chirol
Cartões Vermelhos: Germano e Gérson
Gols: Tupãzinho 13 do 1º; Ademir da Guia 23 e Dario 44 do 2º