Especial Robertão-69: a estreia, Flamengo 2 x 1 Palmeiras

Desde a perda da decisão da Libertadores-68 e da péssima campanha no SP-68 no primeiro semestre, o Palmeiras precisou modernizar o departamento de futebol e o elenco. Para isso o presidente Delfino Facchina deu o comando a José Giménez Lopes. Carioca, era Fluminense até ver o Palestra Italia jogar, em 1934. Virou casaca. O único de uma família de corintianos.

Logo deu passe livre a bandeiras históricas como o goleiro Valdir, o lateral Djalma Santos e o volante Zequinha (os dois últimos bicampeões mundiais pelo Brasil, em 1962, todos com quase ou mais de 10 anos de Palmeiras). Saíram também os pontas Gildo (Atlético Paranaense, por 50 mil cruzeiros novos) e Rinaldo (Coritiba, por 30 mil). O lateral Ferrari foi para o Paulista por 100 mil. O atacante Tupãzinho foi trocado pelo lateral-esquerdo Zeca, com o Grêmio. O goleiro uruguaio Maidana ganhou passe livre. O meia-atacante Servílio foi para o Corinthians por 80 mil cruzeiros novos. Outro goleiro (Perez) acertou com a Portuguesa Santista.

No segundo semestre de 1968, o Palmeiras fez a reformulação necessária no elenco. Foram contratados 15 jogadores. Mais de 3 milhões de cruzeiros novos foram investidos. Era necessário. E, como sempre, parte da imprensa achou que gastamos muito… Do Botafogo de Ribeirão Preto veio o lateral-direito Eurico (titular absoluto da Segunda Academia, a partir de 1972). Do São Bento, com apenas 18 anos, Luís Pereira (o maior zagueiro da história do clube), o goleiro Chicão e o ponta-direita Copeu. Do América de Rio Preto veio o zagueiro Nelson Coruja. Da Portuguesa Santista o lateral-esquerdo Dé e o meia-atacante Serginho. Do Flamengo voltou em definitivo César Maluco, além do goleador argentino Artime, que chegou do Independiente. O atacante Cardoso foi contratado do Guarani. Além de outros menos votados como Joaquim (Hercílio Luz), Marco Antonio (Francana) e Cassiano (Itápolis).

Da estrutura-base só ficaram os eternos Dudu e Ademir da Guia. A zaga manteve o miolo com Baldochi e Minuca. Já em 1969 chegou Leão, jovem goleiro do Comercial. O técnico Filpo Núñez foi mantido dede 1968.

O reformulado Palmeiras de 1969 fez boa campanha no primeiro semestre no Paulista. Mas Pelé desequilibrou no quadrangular final. Santos tricampeão estadual. Verdão foi vice. Logo depois de ganhar do Corinthians e ficar com o segundo lugar, Filpo falou mal de cartolas e de alguns jogadores que teriam “se vendido” para o Santos nos 3 a 0 dolorido no Palestra… O papo em um restaurante chegou até os cabeças que cortaram a do treinador.

Assumiu em 2 de julho de 1969 o jovem Rubens Minelli. Um dos maiores treinadores da história. Mas ainda desconhecido e muito combatido desde o início do trabalho no clube. Numa noite de sexta-feira, Giménez Lópes acertou com ele, por telefone, o desligamento do Guarani. A ideia inicial era contratar alguém de peso como o ex-santista Lula ou o também jovem mas já vitorioso técnico Zagallo, do Botafogo. Mas faltava dinheiro. Minelli era mais barato – então.

Giménez tinha uma filosofia de trabalho que era sempre necessário renovar. Jogadores não poderiam ficar mais de 4 anos num clube – a não ser que fossem Ademir e Dudu. Treinador, no máximo uma temporada.

Minelli era uma aposta. Mas conhecia o clube. Como treinador da base palmeirense, ganhou 10 títulos até 1964, quando resolveu ser treinador de equipes profissionais.

Ele estreou em amistoso em Maringá. Vitória por 1 a 0. Mais duas semanas começou a turnê internacional pela África e Europa, com excelentes resultados: 10 vitórias, 2 empates e apenas uma derrota. Na mala o primeiro dos três Ramón de Carranza do clube. Vitórias contra Real Madrid e Barcelona, em amistoso. Esta apenas quatro dias antes da estreia no Robertão de 1969. O torneio que começara em 1967 e que o Palmeiras conquistou de cara. (Veja no ESPECIAL ROBERTÃO-67 em O NOSSO PALESTRA todos os jogos da campanha). Palmeiras que seria finalista também em 1968. E que seria bicampeão em 1969. Apesar dos problemas iniciais.

Sem Ademir da Guia, sem contrato, Dudu foi adiantado para jogar onde se destacou na Ferroviária na partida inaugural do torneio, no Rio. Como armador. Mas o time ficou muito fechado. Defensivo. O Flamengo de Tim acabou vindo pra cima.

Aos 18 abriu o placar, quando o ponta-esquerda Arilson recebeu de Rodrigues Neto. Aos 29 o atacante Cardoso empatou, de fora da área, em chute de bico que desviou em Guilherme e ainda bateu no travessão.

No intervalo, Rubens Minelli quis fazer a equipe mais ofensiva. Trocou Dudu por César Maluco, recuando o meia-atacante Serginho para a armação. Deu certo por 10 minutos. Depois o Flamengo voltou a crescer. E desempatou aos 33, quando Dionísio marcou de cabeça, depois de escanteio.

A única boa notícia daquele dia de estreia no Robertão-69 foi a contratação do ponta-direita Edu. A Portuguesa aceitou vendê-lo por 250 mil cruzeiros novos e mais o goleiro reserva Neuri. No final das contas, Neuri ficou em Perdizes e o clube pagou mais 50 mil pelo atacante. Edu viraria Bala e jogaria no Verdão até 1977. Seria o 7 da Segunda Academia. Veloz, driblador e dono de patada de perna direita. Um senhor jogador.

Ótimo reforço para o Robertão-69 que começava mal. E ficaria ainda pior.

FLAMENGO 2 x 1 PALMEIRAS
Roberto Gomes Pedrosa – 1ª fase
Quarta-feira, 10/setembro (noite)
Maracanã
Rio de Janeiro (RJ)
Juiz: Agomar Martins (RS)
Renda: NCr$ 41 569
Público: não disponível
PALMEIRAS: Chicão; Eurico, Baldochi, Minuca e Dé; Zé Carlos, Jaime e Dudu (César);
Copeu, Cardoso e Serginho
Técnico: Rubens Minelli
Gols: Arílson 17 e Cardoso 27 do 1º; Dionísio 34 do 2º