Eu queria ser você, Felipão

Eu queria ser assim. Exatamente assim. Sem tirar ou pôr. Talvez esse dia acabaria de uma forma nada poética se não tivesse uma imagem que faria celebração, o sofrimento. Mergulhado nas minhas frustrações, dei de cara e coração com os bastidores da vitória verde de sábado. E Luís Felipe Scolari me mostrou um lado da vida que insisto em não ver.

Me cego por algum motivo quanto à beleza melódica de se mostrar coração para a vida. Um homem que já venceu os setenta anos, em um dia comum do seu trabalho super estressante e imperdoável, vibra quase como uma criança. Não finge costume, ainda que esteja mais do que habituado a celebrar. Cerra os punhos, soca o ar, se benze e sorri mesmo quando ninguém o observa. É dele pra ele e com ele. É interno e definitivo.

Nem cheguei aos trinta e insisto em chorar porque não sei os motivos que me deixam assim. Ansioso, inconstante e violento. Sinto desesperança na vida, como um todo. O fim dela parece renovador à alma. Magôo toda a família que me cerca. Que não entendem. Aí chego ao final desse turbilhão com as imagens desse cara que já fez tudo, que já passou por tudo, com uma gana sobrenatural. Que incentiva, agradece e celebra a chance de estar vivo, de estar naquele momento.

Que se permite abraçar todos os seus amigos de profissão, seus comandantes e comandados, que não esconde sentimentos e que inspira um a um dos que estão com ele. Não se permite perder para a vida e faz dessa jornada, uma lembrança querida, quentinha e carinhosa. Daquelas que facilitam a hora em que o rosto se encontrar com o travesseiro e a alma sonhará.

Como não se sentir inspirado por tanto amor à vida? Desse senhor que cuida de tudo e de todos como se pudesse dominar o mundo. Que se encarna como um guarda raivoso aos intrusos, mas é um papai quase Noel para os dele. Não reclama, mas elogia. Abraça um a um, conforta, confia. Aumenta o tempo dos braços apertados quando a pessoa não vive seus melhores dias. Sente dores e oferece a mão.

Eu queria ser você, Felipão. Uma pessoa com dons mágicos de ser tão humano. Que não reclama por nada, que não magoa seus queridos e que não tem crises de desamor com a vida. Queria ser capaz de dominar tanta gente através do afeto e do respeito. Me resta a incrível sorte de torcer e amar alucinadamente as cores que também tocam no seu coração.

É uma sorte ter Luís Felipe Scolari. Lição da vida.