Ex-zagueiro, dedos quebrados e sotaque do interior: o futuro da meta palmeirense
Enquanto Fernando Prass e Jailson escrevem lindas histórias defendendo a meta do Palmeiras, outros dois goleiros estão sendo trabalhados há anos entre os profissionais para recuperar a relevância de uma das maiores academias de goleiros do Brasil. Aos 20 anos, Daniel Fuzato já acumula oito só de Palmeiras e deixou o CT da base, em Guarulhos, para trabalhar na Academia de Futebol em 2015. Já Vinicius Silvestre, três anos mais velho, veste a camisa do Palmeiras há 10 anos e treina desde 2013 com o elenco principal. Ambos vestiram a camisa da Seleção Brasileira nas categorias de base.
Enquanto Daniel segue sonhando com a primeira oportunidade em um jogo oficial, Vinicius fez sua estreia profissional na campanha do título brasileiro em 2016. Diante do Santos, na derrota por 1 a 0, ele realizou um sonho que só surgiu depois da fratura sofrida por um colega de time ainda na infância. Na época zagueiro, Vinicius foi obrigado a substituir o goleiro de seu time, que havia fraturado os dedos, após um pedido de seu pai, então preparador de goleiros da escolinha situada em Guarulhos. O mais interessante dessa história não está na alegria de seu pai com o sucesso do filho anos depois, mas no alívio dos pais de todos os seus colegas de escolinha com a nova posição de Vinicius ainda naquela época.
“Eu jogava na linha, mas os pais dos alunos da escolinha reclamavam que eu machucava muito seus filhos! Eles sempre diziam: ‘Poxa, ele vai machucar meu filho. Coloca ele no gol’, e deu no que deu”, lembra, em meio a gargalhadas, o goleiro mais alto do Palmeiras, com 1,95m.
Caçula entre os profissionais, Daniel Fuzato também não sonhava com luvas quando brincava em Santa Bárbara D’Oeste, no interior de São Paulo, de onde trouxe um fortíssimo sotaque. “Eu era muito ruim na linha. Lembro que ficava pulando no meio do campo e não conseguia acompanhar o time. Eu ficava perdido e aí acabei indo para o gol. Foi o que sobrou!”, conta o sparring da Seleção Brasileira campeã olímpica no Rio de Janeiro sob o comando do técnico Rogério Micale.
Esperanças da academia aprenderam com frustrações e ídolos
Desde que o goleiro Marcos aposentou as luvas, nenhum outro goleiro formado nas categorias de base do Palmeiras conseguiu conquistar o torcedor. Raphael Alemão, Bruno, Fábio e Deola tentaram, mas foi com Fernando Prass e Jailson, formados longe da Academia de Futebol, que os torcedores finalmente se sentiram confortáveis novamente.
Daniel Fuzato e Vinicius Silvestre podem receber a dura missão de recuperar a imagem da histórica Academia de Goleiros no ano que vem. A lição dos antecessores já está guardada. “Todos que passaram por essa fase são meus amigos”, conta Vinicius. “A dica deles é não cometer o erro que eles comenteram: erros técnicos, por exemplo, de achar que a bola está muito fácil. Às vezes ela não está e aí a mais fácil vira a mais difícil”.
Diante da difícil tarefa, o aprendizado com os atuais titulares da posição também será fundamental. “Quando o Prass teve aquela lesão (no cotovelo), muita gente falou que ele não voltaria a ser o mesmo goleiro. Mas ele é um cara que trabalha muito e uma das qualidades que a gente vê nele é a força de vencer. Nós falávamos: ‘vai voltar melhor’. E voltou bem”, relembra Vinicius, ao ser questionado sobre o que enxerga em Fernando Prass como características fundamental para levar consigo nos próximos anos.
Enquanto Vinicius se recorda do momento difícil de Prass, Daniel toma o período em que o camisa 1 do Palmeiras teve de lidar com críticas e se tornar reserva de Jailson como uma marcante passagem de aprendizado nesse ano. “Hoje em dia tem se falado muito da parte psicológica. Recentemente, o Prass passou por uma osilação e ele procurou se aperfeiçoar nesse sentido. Temos de estar preparados para tudo. Não podemos achar que somos os mehores quando fizermos uma partida excelente e, quando falharmos, não podemos achar que somos os piores. Temos de buscar o equilíbrio”.
Jailson também ganhou elogios das promessas alviverdes. “Todo mundo falava que ele não estava pronto e a resposta veio dentro de campo. É assim que tem que ser! No Palmeiras, falam para ficarmos quietinhos e trabalharmos. O Jailson dava a resposta dentro de campo com tranquilidade, fazia um baita jogo e no dia seguinte estava aqui brincando. Os dois são peças fundamentais na minha evolução”, garante Vinicius.
Daniel leva para a vida o carinho existente na disputa por posição dos titulares: “Lembro quando o Prass estava voltando de lesão e o Jailson saiu para que ele entrasse contra a Chapecoense, no jogo do título brasileiro do ano passado. Isso mostrou a família que temos aqui dentro. Quando um está dentro do campo, estamos torcendo pelo sucesso dele. Isso fez nós chegarmos onde estamos.”
Foco nos treinamentos, convivência com os profissionais e atenção com os aprendizados oferecidos nos gramados da Academia de Futebol. As circunstâncias geram grande expectativa pelo retorno de um goleiro formado na Academia de Futebol à titularidade. Enquanto o Palmeiras não define se renovará com Fernando Prass e o futuro do também quase quarentão Jailson segue incerto, muito se fala na busca por outra contratação para defender a meta alviverde, mas duas peças de reposição estão pedindo passagem dentro do próprio clube.