Fantástico e sonolento mundo de Bobinho

Tudo era muito bonito, calmo e sossegado por lá. O papai, um senhor já com um trajeto robusto pela vida, só tinha olhos para o que pequeno Bob. Indiferente ao espaço tempo, para ele, o filho seguia sendo seu bibelô. Por mais mocorongo que ele fosse em determinados momentos, o velho já parecia treleléu da cuca e criava um fuzuê se os amiguinhos contestassem os erros do preferido. Combinação supimpa.

Até que o dia do primogênito voar, chegou. O mais velho dos irmãos, aquele que dava uns tabefes em quem aparecesse pelo caminho, mas que era batuta para cumprir as tarefas, precisou se afastar de casa. Bobinho, entenda como quiser, ficou incumbido de cuidar das coisas sozinho. Ainda que tivesse muitos colegas que davam a ele mãos e pernas para tudo, o sorumbático pequeno não conseguia. Birrento por natureza, tentava uma vez, duas vezes, errava, e já ficava bicudo, olhando pra baixo e com carinha de choro.

Bobinho não entendia que errar era parte do processo cívico de viver e que os meios para se contornar a falha eram as tentativas. No seu universo paralelo, a cada falha que cometia, o mundo deveria responder com cafuné e perdoar a indolência muito mais que infantil. O problema é que ele não sabia patavinas do que era a vida de gente grande. Papai insistiu em protegê-lo de tudo e de todos, na redoma sonolenta da acomodação, mas isso fez de Bobinho uma criança de 20 e poucos anos.

No silêncio dos seus chiliques introspectivos, vê o bonde passar e derramar chances e mais chances pelo caminho. Inerte, ele assiste. Finge uma corridinha aqui, um esforcinho ali, se joga no chão e esperneia se ninguém olhar e estender a mão. Ergue os braços pro céu esperando que tudo venha como chuva, de graça. Se não vier, também, Bobinho senta e espera. Pra quê a pressa? Se os ídolos de Cazuza morriam de overdose, os do nosso herói, com certeza, morrem de preguiça.

Todos ficaram felizes quando pequeno Bob chegou pra visitar a família. Todo mundo foi busca-lo, fizeram bolo e trouxeram guaraná. Amplexos à parte, a convivência foi ficando difícil com o tempo. Bobinho não ajudava com a louça, não arrumava a cama, não cuidava do cachorro e não ia bem na escolinha de futebol. O papai, um homem carinhoso, insistiu muito, muito, mas não via mais como evitar que mesmo no fantástico mundo de Bob, mesmo na pura fantasia da vida real, era mais do que hora de dar tchau.