Felipe Melo jamais será ídolo do Palmeiras. Muito menos na marra
(Foto: César Greco/ Ag. Palmeiras/ Divulgação)
Nós estamos carentes. O futebol brasileiro vende logo suas peças. Antes do amadurecimento, na primeira proposta que chega, lá se vão os nossos meninos mais talentosos. Um ou outro fica aqui. Neymar, por exemplo, demorou um pouco para seguir seu rumo. Foi cedo, no entanto, mesmo assim. Migalhas continuam. Há garotos que sequer vestiram camisas pesadas e já estão fora. Não é só para a Espanha, Itália e Inglaterra. Antes fosse.
Seguem para a Rússia, Marrocos, China e Arábia. O brasileiro vai para o Egito, Uzbequistão e Estados Unidos. A segunda linha de bons jogadores permanece um pouco mais. O resultado é bola na canela, erros de passe, poucos dribles. O rico Palmeiras é um dos poucos que podem apostar. Mas apostar no que sobrou no mercado da América do Sul. Apostar em Lucas Lima, Marcos Rocha, Gustavo Scarpa. E o palmeirense, consequentemente, acha que se trata de uma espécie de dream team nacional. Que se montou um grupo imbatível. O que logicamente não é verdade. O desanimo por causa dos resultados é natural, mas o que mais me dói é a idolatria por Felipe Melo. O endeusamento por ele.
Felipe Melo faz de tudo para ser ídolo do Palmeiras. Na marra, não na bola. Felipe fala coisas polêmicas, ataca jornalistas, faz faltas pesadas. Sobrevive de bons passes e lançamentos. Mesmo sendo limitado tecnicamente, sobressai no abismo do futebol brasileiro. Ver Melo acertando o companheiro a metros de distância assusta o torcedor mais carente. O torcedor que naturalmente não vê o que acontece lá fora. Só há duas certezas na vida: a morte e que Felipe Melo vai receber cartão amarelo. Mas o juiz nunca tem razão. Talvez seja coincidência: sempre com o mesmo jogador. Um injustiçado, oras.
Outro dia perguntei ao volante se o time tinha caído fisicamente no segundo tempo. Foi no jogo contra o Santos, no Allianz Parque. E ele não gostou. Atacou os que “não entendem de futebol”. Como se futebol fosse ciência exata, exclusiva de grandes pensadores contemporâneos. Acontece que saber sobre o jogo não é dádiva dada a sujeitos selecionados e abençoados como alguns se julgam. Talvez não esteja muito na moda, mas ainda sou adepto da democracia e do direito de opinião. Talvez ele não concorde. Tenho medo da resposta, inclusive.
Não precisa saber muito de bola para saber quem comprometeu o Brasil em 2010 sendo expulso contra a Holanda. Felipe era símbolo de raça na seleção de Dunga. Não de habilidade e técnica. Isso acontece hoje e é preocupante. É assustador ouvir que Felipe Melo é craque. Ou ídolo do Palmeiras. Ademir, Djalminha, Rivaldo, Leivinha e Marcos viraram ícones pelo que jogaram. Jamais pelo que falaram. Nunca tentaram plantar semente impossível de germinar. Disseram com os pés. Foram humildes sempre. Mostraram mais habilidade do que dentes.
Felipe Melo passou quase toda carreira fora do país. Voltou e viu o brasileiro absolutamente carente. Em terra de cego, quem tem um olho é rei. Mas o olho de Felipe enxerga mais as canelas adversárias do que a bola. E machuca mais do que conserta. Pobre futebol nacional.