Felipe Melo: por que ainda ter o Fernando Alonso do futebol?
Muitos do que (ainda) acompanham a Fórmula 1 gostam de se perguntar quem é o melhor piloto destes tempos. A comparação sempre recai para os três que detêm mais títulos – e que são, de fato, os três melhores: Lewis Hamilton, Fernando Alonso e Sebastian Vettel. A grande maioria aponta que é o espanhol, que ele estaria com 24 títulos e 8 contos de réis se tivesse na melhor equipe, etc. e tal. Digamos que ele seja o melhor; dos três, é o que menos títulos têm. E só tem menos por resultado de suas escolhas e de sua personalidade.
google_ad_client = "ca-pub-6830925722933424";
google_ad_slot = "5708856992";
google_ad_width = 336;
google_ad_height = 280;
Papo rápido. Alonso foi campeão em 2005 e 2006 duas vezes em cima de Michael Schumacher e da Ferrari. Praticamente aposentando o alemão, ele foi tirado a peso de ouro da Renault para ir para a McLaren. Mas lá teria um companheiro que foi criado a leite com pera por aquela casa, Hamilton. Meio campeonato depois, havia uma guerra interna feroz entre os dois pilotos que foi provocada por Alonso – ele impediu deliberadamente Hamilton de tentar uma última volta rápida na classificação do GP da Hungria. O resultado foi a perda do título para Kimi Räikkönen – naquela vitória que Felipe Massa lhe entregou em 2007. Alonso foi devidamente enxotado da McLaren. Só encontrou um lugar na F1 na Renault.
Nos dois anos que lá voltou a passar, ganhou duas provas, uma daquelas a conhecida de Singapura em que Nelsinho Piquet bateu no muro. Em 2010, arrumou as malas e foi para a Ferrari ser companheiro de Massa. Sem ganhar títulos, desandou a falar mal dos italianos, do modus operandi, da massa que era servida no bandejão de Maranello, da vida, e começou a ciscar outros lugares. O ambiente passou a ficar tão ruim quanto naquele ano de McLaren. Com os dois lados descontentes, veio a ruptura de contrato. E para tentar ser campeão de novo na F1, teve de fazer as pazes com Ron Dennis – aquele mesmo que foi chefe de Ayrton Senna – para se entregar ao projeto da McLaren-Honda – sim, para tentar reviver os tempos de Senna.
Você que pouco acompanha a F1 deve ter visto em algum momento alguma queixa forte de Alonso à falta de potência do carro. Ou deve ter sabido que neste ano ele disputou as 500 Milhas de Indianápolis, que não pertencem à F1. Passados dois anos e meio de parceria, Alonso andou por muitas vezes no fundo do pelotão – isso quando conseguia largar. O motor da Honda quebra e não tem potência. Alonso não hesita em criticar abertamente. Sob nova direção – Ron Dennis foi enxotado para dar lugar a Zak Brown –, a McLaren se viu na obrigação de tentar dar um carro vencedor a Alonso fora da F1. Por isso que houve uma parceria com a equipe de Michael Andretti, na Indy, para que Alonso disputasse a Indy 500. Alonso chegou a liderar a corrida e andava na parte da frente até que seu carro quebrasse – ou melhor, que o motor do carro quebrasse. Era o motor Honda.
Neste exato momento de setembro de 2017, Alonso espera a decisão da McLaren para os próximos dias: ou rasga o contrato com a Honda e aceita ter motores Renault em 2018 ou não corre na McLaren.
google_ad_client = "ca-pub-6830925722933424";
google_ad_slot = "5708856992";
google_ad_width = 336;
google_ad_height = 280;
Toda essa história é só para relacionar a Felipe Melo. Mesmo se fosse o Messi de sua posição, o volante perfeito, ideal, brigador, raçudo, vistoso, imponente, ele representa um grande problema no ambiente. Ainda que, em tese, o grupo do Palmeiras goste dele, mande mensagens, abraços, emojis de amor e ‘tmj’ pelo whats, a entrevista que ele deu nesta segunda-feira (4), em que deveria mostrar um pingo de humildade e reflexão, em nome do pai, do filho e do espírito santo, amém, foi um novo capítulo do desastre que ele não consegue dissociar de sua personalidade perniciosa. Felipe é um peso desnecessário num momento em que a equipe tenta se reerguer para salvar o ano. E debaixo da pecha de trabalhador que honra a camisa, transforma suas duras palavras em socos no estômago.
Eu prefiro ter numa equipe um Fernando Prass que falhe, mas que em nome do time aceite numa boa a reserva e trabalhe para melhorar aos 39 anos. Prefiro um Borja que atravessa uma fase das piores, mas que demonstre vontade e paixão pela equipe ao pedir que acreditem nele. Prefiro até que fique um Egídio, com suas limitações técnicas evidentes, mas que não se intimide na hora de bater um pênalti decisivo. O Palmeiras não precisa de alguém que se ache dono da banca e alega que aos 34 anos não tem nada o que mudar. Não precisa de alguém que não se ache a laranja podre e que leva a acreditar que há uma ou duas. Não precisa de alguém que acha que intimida o adversário com seus gritos e gestos tresloucados.
Hamilton hoje está na Mercedes e, com a pole que fez no último fim de semana na Itália, passou Schumacher e é o maior recordista de todos os tempos. Vettel ocupou o lugar de Alonso na Ferrari e era líder do campeonato até esta prova. O primeiro conquistou três títulos pela marca alemã; o segundo ergueu a Red Bull no fim da década passada e levou quatro taças na F1. Lewis não é lá a personalidade mais fácil do mundo, mas cai bem na equipe; Sebastian é o exemplo do trabalhador de grupo e aprendeu até italiano para agradar quem está a seu redor. Alonso, o melhor, o ‘fodón’, não tem perspectiva de ser campeão. Colheu o que plantou na carreira pelo que é e pelo desgaste que causou em cada lugar onde esteve.
Ter um Alonso, ½-Alonso, ¼-Alonso, que seja o que for Felipe Melo na escala de qualidade — um Giancarlo Fisichella ou um Jarno Trulli no máximo —, não cabe ao Palmeiras neste momento. Se tem planejamento de fato e visão do mercado, que o time vá atrás de alguém que supra a necessidade no meio campo. Que busque um Vettel que saiba o valor de cada um nos treinos ou nos jogos. Que vá atrás de um Hamilton que é preciso no que faz e sabe entender quando passa do limite ao subverter uma ordem.
E para quem quer Felipe Melo porque ele tem raça, garra e vontade, um único lembrete: não consta que sejam características e qualidades só dele. Mas ele consegue como poucos, quase que exclusivamente, transformá-las em componentes químicos profundos que detonam qualquer lugar em que esteja. Acionados com a bola e com a língua.