FRAGMENTOS DE UM CAMISA 7 VERDE E OUTRAS DE ARQUIBANCADA

Foto: Marcelo Brandão/Click Parmera

Por Marcelo Mendez

A primeira vez que olhei no relógio para ver o tempo que tinha de jogo na Arena do Nacional vi que tínhamos 23 minutos jogados de um tempo qualquer.

Não sei se primeiro, segundo, quarto ou décimo tempo… A razão lógica é óbvia e nem sempre é tão bem vinda às coisas do futebol. Esse capricho tolo e vago de razão não vem ao caso quando o que se tem pela frente pode ser grandiosamente épico.

E assim foi.

A partida era dura.

O Palmeiras enfrentava a retranca do América e seus fantasmas todos. Coisas do passado que atendem por nomes como Bragantino, Xv de Jaú, Inter de Limeira, dramas sofridos que por mais que não aconteça com a intensidade do passado, sempre assombra torcedores de minha idade, minha geração.

Sabemos o que é sofrer.

Só que agora é diferente.

O Palmeiras vive um estado de graça em suas tribunas. A casa está organizada, as finanças vão bem, uma grande fartura de recursos mantém a equipe em níveis elevados e jamais sonhados e dentro de campo, o time que é bom, conta com um jogador improvável. Dudu.

O dono da 7 alvi verde que já foi de Julinho Botelho e Edmundo, se faz na história do Palmeiras por um viés diferente. Não tem a técnica dos dois citados, o verniz que os craques de outro tempo tinham, mas do seu jeito, com sua maneira de entender o futebol e as coisas do Verde, ele resolve tudo.

Foi ele quem começou a jogada do primeiro gol de Luan, de seus pés generosos, veio a bola para o Willian marcar o segundo. E quando tudo parecia definido, eis que surge a chance de brilhar e Dudu não desperdiça.

Bruno Henrique faz o passe e a bola, sabedora de que será muito bem tratada, chega sorrindo até Dudu.

Ele a domina, a coloca no chão, bate de três dedos e de onde está, assiste primeiro que todo mundo, a bola estufar as redes do goleiro do América. Que golaço! Se faz ali a melhor de todas as sinfonias ludopédicas; O Barulho da bola na rede. Dudu merece demais.

Desde que chegou sempre se dedicou ao time dando à vida por uma bola em condições, jurando fidelidade e de um amor que é pra sempre. Nessa rodada última, quando tudo pareceu escurecer, foi esse pequeno cavaleiro templário que templário que revolver tudo. E agora, a minha pergunta:

E nós torcedores, o que damos em troca para o Dudu?

Será que em nome dele, podemos deixar nossas zicas de lado? Pelo tanto de suor que ele deixa em campo, não podemos ajudá-lo, gritar seu nome, dar aquela força, aquele colo, num dia que estiver de horror? Pensa que dá Palmeirense.

Vamos amanhã para São Januário para torcer pelo Palmeiras e para ajudar Dudu. Algo em mim me faz crer em uma verdade absoluta que toma conta de mim nesse momento.

Uma boa sorte há de nos esperar. Quanto a mim? Bem…

Enquanto Cronista, minha missão é encontrar nos rostos e nos corações dos homens pela centelha de alegria que os moveu um dia e que por alguma estranha razão se apagou. A renitência dessa minha busca em fazer dessa mínima centelha, uma labareda de paixões e versos é o que mantém viva a beleza de meu ofício.

Por isso estou aqui:

Para começar a ver o Palmeiras campeão, através dos olhos dos olhos de vocês. Então vamos lá, Verdes!

Vamos ajudar o Dudu a continuar consagrando a gente!