Gustavo Nogy: ‘O vexame’

Dessa batalha de fazer inveja a troianos e aqueus, o que disse e continua a dizer a imprensa, aspas, especializada?

Foi, de fato, um vexame.

O Palmeiras jogou duas partidas no esquisito Mundial de Clubes e não fez um gol sequer. Voltou para o Brasil insatisfeito, esgotado, merencório. Mas para voltar é preciso ter ido. E o Palmeiras foi porque conquistou o direito de ir. Sinto muito por quem ficou. Dizem que estava calor em Itaquera e frio no Morumbi.

O clube fez uma das maiores campanhas da história da Libertadores da América. Ataque positivo (33), defesa sólida (6), alto número de vitórias (10) e uma solitária derrota para cultivar a virtude da humildade. Disputou o torneio para vencer e venceu. E venceu a Libertadores da América depois de ter conquistado o Paulistão contra o maior rival.

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Como se não bastasse, Abel e seus comandados tiveram pulmões, pernas e nervos para atravessar mares e chegar à costa de mais uma final de Copa do Brasil, enquanto disputam os últimos jogos do Campeonato Brasileiro, posicionados no pelotão de frente. Tudo isso num ano atípico até para o atípico calendário nacional. Jogos a cada dois, três dias. Surto de Covid. Contusões graves (Wesley, Melo, Veron).

Dessa batalha de fazer inveja a troianos e aqueus, o que disse e continua a dizer a imprensa, aspas, especializada?

Que as coisas não vão bem para os lados do Palestra Itália. Que o futebol não é vistoso como a seleção de 82. Que certo time de outro estado fez melhor em outro ano. Que o palestrino está triste como o vascaíno.

Em qualquer lugar do mundo, em qualquer liga entre as mais importantes, em qualquer outro planeta onde porventura alienígenas chutem uma bola alienígena, a campanha alviverde seria exaltada, documentada e transmitida em IMAX. Aqui não. Aqui faltou alguma coisinha. Tomaram 6 gols, deveriam ser 5. Fizeram 33, deveriam ser 34.

A verdade é que o futebol brasileiro precisa melhorar. Dirigentes, calendário, gramados, protocolos, treinadores, jogadores. Fisiologistas, ortopedistas, gandulas, roupeiros, cambistas, torcedores. Jornalistas também.

Quando praticam esse comentarismo predatório, quando especulam contratações e dispensas, quando fomentam crises e descontentamentos, quando exibem desconhecimento ou má-fé à hora de almoço, quando cozinham técnicos recém-chegados no banho-maria das mesas redondas, eles também atrapalham o futebol.

Mas nada se cria, nada se perde, tudo se transforma. O trabalho jornalístico sobre a campanha palmeirense pode servir como estudo de caso nas melhores universidades do país.

Porque foi, de fato, um vexame.

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