JG Falcade: Luan é o Palmeiras que escolhemos acolher

Nós vivemos muitos anos de dias ruins. Lá, éramos forçados a abraçar os descompromissados e os muito ruins, além daqueles que faziam mal ao nosso time – era só o que tínhamos. Ou apoiávamos, ou a derrocada era mais rápida, mais veemente e inevitável.

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Estamos, agora, vivendo um ajuste de contas. A vida resolveu pagar os boletos atrasados do sofrimento pelo qual passamos e de brinde nos deu um time brilhante, liderado por um treinador genial. Neste grupo, há um excelente jogador, mas que errou em dias grandes.

Luan chegou com moral, era um destaque brasileiro, um selecionável. E deu certo, vocês têm de concordar comigo. Campeão ao lado de Gustavo Gómez, integrante de uma zaga memorável que empilhou recordes. Foi aí que o camisa 13, da sorte ou do azar, passou a ter episódios ruins.

Uma falha, um soco, um erro, um gol contra, um pênalti. Foram frustrações caudadas no torcedor e que abriram caminho (injusto) para o desconto viesse contra o próprio Luan, com alcunha jocosa, apelidos canalhas e uma desconfiança até certo ponto compreensível. Eu cheguei a duvidar, mas havia uma entrevista no meio do caminho.

No meio do caminho, havia uma entrevista.

Já contei sobre isso, mas lembrarei brevemente. Minutos após o juíz apitar o fim de Palmeiras 2×0 Al Ahly, Luan passou por mim e Felipe Zito na zona mista, em Abu Dhabi, e com lágrimas nos olhos disse algo como “hoje, minha filha viu que o pai dela pode ser um grande jogador de futebol”.

Não pude chorar, deveres do ofício, mas guardei no coração. Dois dias depois, uma azar da p* e um inferno na porta de sua vida. Luan passou por momentos ruins, vocês sabemos disso. Foi retomando aos poucos, “protegido” pela ascensão de Murilo, e o carinho de um elenco que o vê como líder.

Ontem, no Allianz, Luan tinha um estádio cheio, um grande jogo, um rival contra o qual já saiu expulso em final, tinha também os olhares do pai, da mãe, da esposa e dos dois pequenos palmeirenses de sua vida. Pouca pressão? Era o aniversário desse filho, pai, marido, jogador e azarado.

Em mais uma grande jornada, foi decisivo, fez gol e teve seu nome cantado por todos nós, inclusive esse imprensa que vos escreve. Ontem, escolhemos acolher um dos nossos, que é muito nosso. Que ama ser nosso. Que disse em letras garrafais:

“Minha vida seria incompleta se não tivesse jogado aqui”.

Somos responsáveis pelo que controlamos, também disse Luan. E aí me peguei pensando – e pelas famílias que escolhemos ter. Somos nós quem decidimos quem serão nossos aliados, nossos protegidos e o que correm por nós.

O Palmeiras escolheu Luan.

Luan escolheu o Palmeiras.

E nós escolhemos acolher, em Família Palmeiras, quem tanto gosta de pertencer a ela.

Feliz aniversário, meu zagueiro.

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