JG Falcade: O vexame e vergonha de apoiar a perversão do raciocínio

Marcelo Bielsa, lendário técnico argentino, disse, certo dia: eles não estão pela educação, eles fazem pela perversão. No momento, o sujeito da frase era a imprensa. Com licença poética, eu confirmo e estendo a mais setores do (pouco) pensamento racional. E ainda incluo a influência de um problema crônico e difícil cura. A dor de cotovelo.

O poder do microfone é imenso, ele molda e parametriza, valida e propaga. Ele entrega o conteúdo na velocidade de um projétil e salve-se quem for capaz. É um canhão capaz de atingir até quem está de passeio por lá. E por esse poder, a responsabilidade é proporcional. A comunicação é a chave para absolutamente tudo. Educar, explicar, elucidar, facilitar. Ou causar uma imensa paranóia.

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Eu questiono veementemente o uso de alguns termos por parte dos microfones. Vexame. É tudo aquilo que causa algum tipo de dor intensa, segundo o dicionário. Vergonha, ainda segundo ele, é o que afeta a honra. Eu te questiono, com todo o respeito: será que cabe ceder ao Paulistão e toda sua circunstância a importância de dor e desonra. Eu honestamente não compactuo com a ideia.

Honra diz respeito aos grandes momentos. Que, a essas cores, versam objetivamente sobre anteontem. No fechar de olhos, você vai se lembrar de coisas belíssimas, mas com detalhes, com cheiro e até sabor. Não terá de abrir um livro pra encontrar ou citar uma geração que ainda busca sorrir. Nem de checar no livro se os números já tem mais 0 do que linhas. Não me causa dor.

Causa dor de cotovelo, não em nós. É de se compreender o tamanho da exigência prática de um gigante, mas é ainda maior levar com benevolência e inteligência o ambiente e as circusntâncias que permeiam a jornada dele. Não é sobre passar pano, mas não passar vergonha. Nem correr o risco de passar a mão e fazer um carinho vadio no vexame.

(Foto: Divulgação/Ag. Palmeiras)

O torcedor fala com o estômago e ele pode. Ele não recebe pra torcer, ele paga pra isso. Ele nem tem escolha, na verdade. O coração fala por ele, age em seu nome e perverte sua razão. É grande graça da coisa toda. É a pura magia. Mas ele espera e merece ouvir e ver um pouco mais de razão. Tem de ser sobre cultivar a melhora do todo, não a manutenção do bolso.

Eu vou te dizer que até entendo as motivações comerciais de perder o maior campeão do brasil em seu produto e ainda ter de lidar com 20 milhões a menos de audiência nos jogos. É dramático, mas não o suficiente para perverter o raciocínio e ludibriar o consumidor. Não há CDC para telespectador, mas, se houvesse, as ações se amontoariam. É irresponsável cuidar de gente e seu maior lazer com negligência, pra não dizer maldade.

Um grande amigo chamou as férias iminentes de libertação. Concordo. Há corações verdinhos que chamam de frustração. Não discordo. Não engulo o vexame. Nem posso admitir o vergonha. Não seria correto que eu te dissesse, 7 parágrafos depois, que em 6 meses, uns 7913 jogos, uma pandemia, dois títulos, uma alegria que mal pudemos celebrar, que essa reação é justa.

Te convido a pensar. Não vai ser difícil.
Mutar também ajuda.

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