Marília, o Palmeiras e o amor de mãe

Ilustração de Arte Palestrina

Marília tem uma história que, se fosse sinopse, eu escreveria assim:

‘Palmeirense, dedica a vida às cores que moldam seu coração. Da paixão, deu luz ao amor. E com essa pequena porção de vida, luta para voltar a sentir o coração quentinho de Palmeiras’.

Médica obstetra, ela trouxe Laura ao mundo quando celebrava o hat-trick de Lucas Barrios sobre o Fluminense. Nada tão Parmerista quanto celebrar uma noite de vitória brindando à vida.

Viria essa pequenina porção de Palestra pro mundo e logo com o tri do país sob os braços pequenos e frágeis, mas já apaixonados. Antes mesmo de falar, tinha consigo uma carteirinha de sócia Avanti. Quem nunca sonhou em reproduzir a paixão em versões pequenas de nós, né?

O sonho mudou um pouquinho de estilo, recentemente. Sem Allianz e sem Palmeiras, Marília tem se visto em meio à tarefa de trazer vida ao mundo enquanto o mundo tenta sobreviver. Com saudades de tudo, ela lembra da rotina que faz tanta falta.

‘Saudade de reunir com os amigos no pré-jogo no Xixo ou apenas sentar na varanda da casa do Raphael e esperar dar a hora de entrar, abrir uma cerveja gelada na rua, reclamar que a Rua Palestra está fechada ou porque de terem contratado o Lucas Lima. Inclusive, saudade dos cambistas. “Ingresso, Palmeiras?”

A saudade me fez lembrar um dia engraçado. Estava assistindo o jogo em casa e minha paciente rompeu a bolsa. Ela me ligou e disse: “Dra, minha bolsa rompeu, mas pode terminar de ver o jogo, te espero lá”. Elas sabem o quanto eu gosto’.

E engana-se você se pensa que as crianças não podem definir o mundo de pandemia melhor que nós. Laura, quando vê a mamãe chegar, feliz da vida, quer um abraço, mas não pode ganhar. Fica, então, a pergunta: "quando esse vírus vai morrer?"

‘Essa é a parte mais difícil da minha quarentena com a minha profissão. Não sei descrever o que sinto. Todos os dias rola um misto de sentimentos ao sair de casa e voltar para lá. Tento mantê-la o mais longe possível. Tento evitar os abraços e beijos. Tento evitar com que ela durma na cama comigo.

Imagina o que é para uma mãe dizer para um filho que o carinho não é correto, que não deve acontecer. Ela pergunta todos os dias se esse coronavírus não vai morrer logo. Eu me pergunto todos os dias quando esse coronavírus vai morrer.

Nós também, Laurinha. E por isso mesmo que falamos com sua mãe, uma pessoa que mostra a saudade que todos temos, e mostra também como é a realidade das as grandes histórias de amor, como a que te trouxe ao mundo, que mostram o que é ser Palmeiras, ser mãe e ser a heroína de todos os dias.

‘Esse Dia das Mães não está com cara de Dia das Mães. Comentei com outras mães da escola esses dias, que nunca achei, na vida, que ficaria triste em não ter festinha do Dia das Mães, aquela em que as crianças cantam tudo errado e a gente chora que nem boba, achando tido lindo (risos).

E, em princípio, ficarei em casa. Não tenho nenhum parto agendado, mas se algum bebê resolver nascer, eu vou para o hospital, né. Eu moro com a minha mãe. Ela me ajuda a cuidar da Laura. E apesar de conseguirmos passar esse Dia das Mães, nós três juntas, esse ano está diferente. O clima está diferente’.

Ô se está, doutora! Cadê o Palmeiras depois do almoço, cadê aquele monte de raiva que você e Laura passariam vendo o jogo, né? Sentimos, sofremos, lembramos, mas também nos orgulhamos com os jogos que nosso time tem vencido nesse período sem bola. Cuidando dos nossos.

Só me orgulha. Reduzir salários do elenco para evitar demitir funcionários? Isso é maravilhoso! Arrecadar alimentos e doar, também. No atual momento, precisamos de empatia. E o Palmeiras está mostrando isso. O Palmeiras mostra que é de todos.

Da Marília, da Laura. Dos filhos, das mamães! Delas que enchem o nosso convívio com amor, com afeto e com humanidade. o Palmeiras é melhor, mais alegre e mais amável com vocês.

Feliz Dia das Mães!