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Mauro Beting: Irmãos da Itália - o gol que meu amigo fez lá de cima

Russo, você deve estar tirando sarro da minha cara. Mas eu sei que no fundo, e aí de cima, você chegou no meu meu pai e falou: "eu já fiz um gol pelo Palmeiras. E logo na minha estreia".

Arquivo pessoal
Arquivo pessoal

Eram uns 30 do segundo tempo. Palmeiras perdia um pacote de gols contra o América, depois de o Coelho ter perdido a chance de salgar o Porco no nosso primeiro tempo bovino no Allianz Parque.

Eu pensava animal assim por estar perdido e partido na transmissão inteira na Jovem Pan. Quando eu pisei no estúdio para comentar o Jornal da Manhã de domingo, soube que um craque e amigo querido palestrino tinha partido. André Russo. A câmera da Pan estava desde 10h30 no meu rosto. E eu só querendo chorar. Por ele e por outros 500 mil. Que não são outros 500 como parece que os que não se admitem “coveiros” tratam o povo deste “país de maricas”.

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Eu pensava nas maravilhosas groselhas que o André falava para eu poder rir em vez de… Na fantástica imitação que o André fazia do Leão como treinador. Russo era um gênio. E acho que foi ele quem me iluminou naquele momento: “o Palmeiras vai fazer o gol na hora em que em Roma estiver tocando o Inno di Mameli”. O Hino dos “Fratelli di Italia”. Irmãos italianos que em 1914 fundaram o que, além do rádio, mais me aproximava do André.

Eu cheguei a pensar em falar aos 30 do segundo tempo na Jovem Pan que o Palmeiras viraria o jogo quando isso acontecesse. Mas achei muita zica. E também não convém levantar a bola de um evento concorrente. “Perdemos audiência”. Eu diria que perdi a audácia. E fiquei quieto.

Como tentei ficar na minha na hora do gol narrado brilhantemente pelo Fausto Favara. Como sempre faço quando trabalho em jogos do meu time.

Mas não foi fácil. Como raras vezes. Por eu estar ouvindo no exato momento no celular os acordes iniciais do Hino Italiano, na transmissão do SporTV. A canção que me faz chorar sempre. Sempre. Mais até do que no Hino brasileiro.

Sou bisneto de italianos. Minha avó se chama Itália Roma. Tenho passaporte italiano. E sou Palestra. Tenho motivos. E, mesmo se não tivesse, cada um que chore com o que quiser. E puder.

O gol saiu em São Paulo contra o América no velho Palestra quando em Roma tocava o Hino da Itália. Era só um gol. Só uma virada. Só umas notas musicais. Mas era mesmo pra mim uma afetiva nota da terra de onde minha família veio para fazer a América. Motivo pelo qual mais me aproximei do meu amigo que partira. Pelo Palestra da Itália. Pela Itália do Palestra. André que tenho certeza que estava com o Bigode chutando aquela bola.

Por isso eu quase chorei no vídeo que você vê no meu Instagram. Claro que era a emoção do gol. Mas essa eu me seguro sempre. Não sou pago pra torcer. Nem distorcer. Sou pago para ser jornalista. Não devo e não posso e não preciso torcer.

Mas quando a gente deseja algo, por menor que seja, e isso acontece. E com trilha sonora. E que trilha… A gente descarrila.

Russo, você deve estar tirando sarro da minha cara. Fazendo mais algumas piadas e improvisos e imitações inteligentes com este texto. Mas eu sei que no fundo, e aí de cima, você chegou no meu meu pai e falou: “eu já fiz um gol pelo Palmeiras. E logo na minha estreia”.

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