Mauro Beting: ‘Mãe santa’

Tinha que ser no mesmo dia em que meu pai partiu (no mesmo 2012 quando você pendurou as luvas) que dona Antonia foi encontrar seu Ladislao lá em cima

Seu Marcos, roubei a belíssima foto do nosso amigo Sérgio, um cara tão maravilhoso quanto você, e quem mais e melhor te conhece. Quem mais te defende que eu conheço é o Sergião que conhece muito bem um dos dois caras que melhor me defenderam na vida.

Você e o meu pai, já te disse isso.

Tinha que ser no mesmo dia em que meu pai partiu (no mesmo 2012 quando você pendurou as luvas) que dona Antonia foi encontrar seu Ladislao lá em cima. Os pais da criatura que nunca foi santa – mas é. E explicar essa emoção para quem é…

Marcão, a pessoa que mais defendeu o amor da nossa vida que é o Palmeiras nunca perde a mãe. Ela é como a esperança: eterna e verde.

Ela que te fez Palmeiras.

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A mãe que te fez o cara que você é pro Palmeiras e pro país que é penta. Quando você agarrava o improvável e o impossível era como ela fez desde o parto em Oriente. Carregando no colo todo o amor dela como você nos carregou todo o nosso amor desde 1992.

Seus pais estão lá em cima agora. Como sempre torcendo pela família. A Família Palmeiras, agora, segue ainda mais unida te dando aquele abraço que a pandemia impede. Mas que a Academia nos impele a dar tão apertado que até parece que a gente está fazendo uma defesa em jogo do Palmeiras como se fosse Marcos. Como se isso fosse possível. Porque só tem um abraço maior e melhor do que esse: o que dona Antonia dava todos os dias quando cuidava desse cavalo chucro que é você.

Marcão, meu cada vez mais velho ídolo, um tapa na sua careca que você merece. Só não te peço para ajoelhar e apontar os dois dedos pra cima para o seu pai e sua mãe lá no céu que se você fizer isso vai precisar de um guindaste para te reerguer. Mas tantas vezes você caiu e nos levantou e levou junto que sei que daqui a pouco você estará de volta para falar e fazer muitas bobagens.

Bola pra frente, amigo. Dê um bico na tristeza e vá pro jogo – só não dê um bico na bola como naquela noite contra o Vitória em 2003…

Desculpe, não consigo falar sério contigo. Te amo. E cuida bem da patroa, e dos seus como o Lucca Reis.

Todo Luca não é santo. Né, meus Luca e Gabriel?

E é pra vocês que preciso reiterar que o 29 de novembro é mesmo especial de tão único e e de tão importante para milhões.

Dias de enormes perdas. De recomeços. De vezes em que quase perdi tudo. E poderia mesmo ter partido.

Faz quatro anos da partida da Chapecoense. Foi quase no mesmo minuto em que meu irmão me ligou quando meu pai partiu. Oito anos antes. No mesmo 29/11.

Eu tinha grandes chances de estar a trabalho naquele voo para Medellin de 2016. Eu estava trabalhando quando dei na rádio a notícia mais exclusiva da minha carreira, em 2012. A que gerou mais repercussão até internacional. A única que não fiz jornalismo. Fiz o que tinha de fazer ao vivo por quase 8 minutos anunciando a partida do meu pai.

(Mas não tive coragem como pai de avisar aos meus filhos da partida do Nonno. Eles souberam pela rádio. Pelo pai. Ou pelo jornalista.).

Foi tudo numa madrugada de 29 de novembro. Se eu soube na hora do meu pai em 2012, do voo da Chape foi só pela manhã triste de 2016. Pela minha mulher que sempre esteve comigo.

Como na véspera da partida do meu pai. Quando eu e ela dormimos na UTI. Foi a primeira vez que ela viu o Nonno sem ser pela TV. Foi a primeira vez que ela pegou na mão dele, no hospital onde estava internado desde o único do nosso namoro. Onde ele estava sem jeito a ver daquele jeito que não teria mais jeito.

A primeira conversa que meu pai e meu amor tiveram sem conexão telefônica. Apenas com a conexão que o filho do Joelmir tem com o amor da vida dele.

Foi a vez na minha vida que eu mais compreendi o que não se tem explicação.

Quando minha Sil disse ao meu pai (devastado e “inconsciente” de modo irreversível pelo AVC) que ela me amava, o batimento cardíaco dele aumentou. Quando a minha noiva disse ao meu pai que amava os meus Luca e o Gabriel, a mesma história que a máquina bipou. Quando ela disse que também era palmeirense, mais batidas do coração que podia enfim partir como faria 24 horas depois.

Quando eu e meu amor rezamos nesta madrugada deste 2020 para eles e para a Chape e para os meus amigos no voo, quando a gente rezou para pessoas que ficaram amigas de tão especiais como a mulher do Danilo e o filhinho Lorenzo, eu sei que os batimentos também aumentaram.

Quando agora pela manhã a minha mulher me abraçou e disse “eu te amo” como todos os dias, meu coração também.

Explicar a emoção de amar para quem é…

Vocês sabem o final da frase. E da história eterna como o amor incondicional pelos nossos. Como o dos meus pais. Como o do filho deles.

Como o do Marcão pelos pais que agora estão falando bobagens lá de cima com meu velho.

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