Mauro Beting: ‘Valdivia’
"Eu já chorei rindo como você em clássicos. Já ri chorando. Mas nunca fingi tristeza, nem alegria e nem chute no Palmeiras"
Valdivia, eu já chorei rindo como você em clássicos. Já ri chorando. Mas nunca fingi tristeza, nem alegria e nem chute no Palmeiras.
Você foi ídolo do mais carente palmeirense de todos os tempos, na primeira metade da década passada.
De 2010 até 2015, você esteve disponível em 44% dos jogos. Em quase todos os poucos que jogou você esteve disposto. Ao menos mais disposto e atento do que em algumas das tantas recuperações por lesões. Ou nas ausências por cartões injustificáveis. Tão sem desculpas como outras ausências suas como profissional.
“Chinelo chileno” é maldade.
Tanto quanto dizer que o seu jogo de despedida foi o da sua reestreia…
Você não merece. O Palmeiras, também não.
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Muitas vezes você foi um cara que quis jogo, mas o corpo não ajudou. Como, algumas vezes, você não ajudou o corpo. E muito menos a alma.
O “âmago”, mago.
Um camisa 10 que não está na minha lista dos melhores que vi em verde. Muito menos como ídolo, como bem definiu um nome eterno palmeirense ao vê-lo treinar dia desses na Academia:
– Eu só queria uma bola dividida com o Valdivia…
Eu queria era você jogando como Jorge Mendonça, Jorginho Putinatti, Edu Manga, Zinho, Rincón, Rivaldo, Djalminha, Alex. E outros menos votados, mas com mais vontade que você.
(E isso tudo escrevi quando você saiu em 2015. Antes de chegar Raphael Veiga, que joga e se joga mais de verde do que você. Sem contar o atual camisa 10 Rony que, em 2022, quando você anuncia a sua chuteira pendurada, não tem o seu talento – e nem mesmo o Veiga tem. Mas ele se mata como você parecia morto muitas vezes. Ou se fingindo de morto como você fingia ser profissional. No máximo remunerado).
Em 2014, Valdivia, você não tinha a menor condição de jogar a última partida contra o Furacão. Você tomou na veia e foi com o sangue verde dividir bolas, multiplicar esforços, e somar o ponto suado da permanência na Série A. Você foi o que muitos palmeirenses acham que você ainda é. Ou sempre foi – quando quis.
Pena não querer tanto como tantos te querem muito mais.
Eu já desconfiei de você, amei você, odiei você, admirei o que faz, o que é. Quis sua presença, desejei sua ausência, sonhei com a volta, tive pesadelo com meu pensamento. Queria ver suas partidas eternas, queria ver a sua partida definitiva do clube.
Já quis ver Valdivia com a 10 nas costas, já quis ver Valdivia pelas costas, já dei de ombros, de costas. Torci pela União dos Emirados, queria ver mais diárias na Disney, mais vezes você em campo, menos vezes no DM, mais vozes berrando pelo chileno, menos vozes urrando pelo chinelo.
Eu queria o camisa 10 do Chile na Copa América de 2015. Não o 171 da Copa Kaiser.
Sei que só você sabe as suas dores. Mas não venha achar que o Palmeiras e o palmeirense não sabe quem joga por amor.
Se você sentiu a coxa, saiba que o palmeirense sente ainda mais o coração. E ele não recebe pra isso. Ele paga por isso.
Paga para ver um jogador se dar e doar. Você só tem a ganhar. A torcida ainda está com você, ainda que algumas vezes você pareça não estar nem aí.
Você não voltou depois de 2015. Mas volta e meia você fora de campo ainda é o meia talentoso e alviverde inteiro. Inteligente, provocador, torcedor, abusado, chato, inquieto, genial, genioso.
Palmeirense mesmo. Mais fora do que lá dentro. Como muitas vezes você ficou mais fora do que dentro de campo.
Boa sorte na nova vida.
E obrigado por toda essa magia de um cara que encantou e encanou ao mesmo tempo. Fez de tudo e fez nada. Foi o que somos e não foi. Uma contradição nem sempre ambulante.
Mas totalmente palmeirense.
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