Mendonça

No Museu da Pelada, Mendonça disse que “não sabe porque a torcida do Botafogo gosta tanto de mim. Nunca dei um título a eles”.

Esse é o Idolo. Não ganhou canecos entre 1975 e 1982. Mas ganhou muito mais do que isso. Carinho e respeito. O mesmo com que tratava a bola de menino meia, filho do zagueiro Mendonça, do Bangu.

Na Portuguesa também passou em branco, em 1983-84. Palmeiras também, de 1985 a 1987, ainda perdendo um Paulista para a Inter de Limeira, onde também jogou.

Nos clubes onde mais e melhor atuou, Mendonça não foi campeão.

Mas driblou Júnior duas vezes no BR-81 em golaço que quase vale título. Mas batia na bola com categoria que é coisa de campeão. Mas tinha elegância e classe como a frase que nem ele sabe definir tão bem.

Mendonça nos deixa cedo, depois de acidente em estação de trem em Bangu. Parece história de Nelson Rodrigues. E ele jogou bola para ser louvado por ele.

Mendonça não foi campeão no Botafogo, na Portuguesa e no Palmeiras. Mas na parede da memória, esse não é o quadro que dói mais do Belchior.

Os ídolos ainda são os mesmos.

Mendonça nos deixou sem títulos. E nunca me deixa aquela imagem final de 3 de setembro de 1986. Onze anos incertos depois de Luís Pereira e Leivinha serem negociados com o Atlético de Madrid. Doze anos anos certíssimos antes do nascimento do meu primogênito Luca. Horas antes de o filho mais velho do goleiro Martorelli nascer.

Naquele instante, o goleiro de Limeira Silas soltou um chute que sobrou livre para Mendonça cabecear sem goleiro para empatar a finalíssima.

Sem goleiro e sem gol.

A bola raspou a trave da Inter. O Palmeiras passou raspando mais uma vez então para ser campeão.

Eram 10 anos de jejum há 33. Seriam 16 até 1993.

Não foi com Mendonça. Naquela bola e em todas no Botafogo, Portuguesa e Santos.

Mas são esses lances e esses jogadores que ficam quando jogam o que jogaram Mendonça.