Mesmo com derrota, Palmeiras sinaliza que pode ser protagonista no Brasileiro Feminino

Foto: Rebeca Reis/Ag. Palmeiras

  • Por Leandro Iamin

Antes de qualquer observação sobre o Palmeiras 1×3 Corinthians deste domingo, 9, em Vinhedo, acho importante dizer: o nosso rival, invicto há 46 jogos, dificilmente perderá mais do que uma ou duas partidas no Brasil na temporada 2020. Não são apenas favoritos ao título, mas cotados para conseguir isto de maneira invicta. Estão muito acima da concorrência, dentro de campo, pela capacidade técnica do grupo, e também fora, com condições profissionais, contratos de CLT, estrutura ideal. O trabalho do Palmeiras é, hoje, para conseguir tirar este status delas no futuro.

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A derrota do Palmeiras aconteceu após pouco mais de uma hora de futebol equilibrado e atuação corajosa do time alviverde. Quem, como eu, imaginava o Palmeiras oprimido e nas cordas, se enganou. As meninas de verde tentaram, e conseguiram, trabalhar a bola e mostrar alguns sinais da ideia de jogo que vão abraçar ao longo do ano. O que conseguiram, mesmo com a derrota no último terço do jogo e a falta de gás para buscar o empate, foi sinalizar de maneira contundente aos outros times do campeonato que, se é verdade que o Corinthians está, hoje, acima de todos, também é fato que temos um time competitivo o suficiente para chegar na fase final.

O primeiro sinal de que Ricardo Belli não iria entricheirar atletas em missão defensiva foi a observação da Isabela em campo. Nossa camisa 2 tem o hábito de apoiar muito, e às vezes demora para recompor a linha defensiva. Jogando contra um time que usa, naquele setor, uma jogadora do tamanho da Tamires, era de se imaginar nossa lateral com um comportamento mais cauteloso. Isso não aconteceu. O Palmeiras correu riscos naquele setor, e tem com o que se preocupar, já que encontrará, em 2020, ataques mais poderosos do que aqueles vistos em 2019, quando Isabela era quase uma meio-campista pelo lado.

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A saída de bola chamou muito a atenção. É a característica de nossas atletas, e não se pode trair a natureza: tanto Agus quanto Thais, nossas zagueiras, são técnicas, tem bom passe e usaram o que tem de bom. Nicoly, nossa volante, se juntava a elas na saída de bola, e o trio liberava Isabela e Vitória, pelos lados, para receber a bola já no limite do campo de ataque. Quando bloqueadas, no primeiro tempo, a solução era lançar a bola, já que o meio-campo palmeirense estava em inferioridade numérica. A bola longa não encontrou opções de velocidade no ataque, mas isso mudou na volta do intervalo, quando Ary Borges cresceu muito no jogo, Karla Alves também e Bianca, pelo lado esquerdo do ataque, ganhou algumas jogadas. OS primeiros minutos do 2º tempo foram os melhores do Palmeiras no jogo.

O segundo gol corinthiano foi um pecado, mas fala também sobre nossas características. Se por um lado nossa dupla de zaga trata bem a bola pelo chão, certamente vai sofrer contra atacantes altas. Não é um acaso que os três gols sofridos neste domingo tenham começado com bola aérea em nossa área. Ainda assim, a competente forma como Agus e Thais se antecipam às atacantes, combatem toda bola e participam do jogo merece destaque. O setor tende a, com entrosamento e a chegada de Angelina, se tornar muito interessante – na lateral-esquerda, Vitória, de só 18 anos, é promissora, mas, como é destra, não conseguiu finalizar algumas jogadas que precisavam da perna esquerda. É algo a ser ajustado também.

O ataque com Rosana, Bianca e Carla durou pouco tempo, já que Rosana, ainda no primeiro tempo, sentiu a coxa (nada grave). Ottilia, que entrou em sua vaga, tem outra característica, foi combativa, arrancou na marra um quase-gol no começo da etapa final, mas não encontrou espaços. Carla Nunes, a autora do golaço verde, participa do jogo menos do que pode, mas é efetiva e criativa sempre que toca na bola. Tecnicamente não errou quase nada no jogo, e precisa que o time jogue com ela de forma aproximada, não com bolas longas ou só em velocidade. Carla foi, ao lado da goleira Vivi, autora de duas defesaças, e da volante Nicoly, muito aplicada e solidária, o destaque do time em uma jornada que não nos deu nenhum ponto mas nos emprestou otimismo com o resto da campanha.

Ao que tudo indica o Palmeiras de 2020 será um time com uma defesa técnica, laterais agressivas, saída de bola paciente, meio-campo necessitado de bastante movimento e doação e um ataque que ainda precisa dar mais sinais e respostas. Derrota em dérbi não é coisa que se festeje, mas o nível da atuação foi acima da maioria dos prognósticos, e este é um bom ponto de partida para as correções e a evolução que precisará vir.