Meu filho vai ter nome de craque

(A foto de Sérgio Ortiz, da Forza Palestrina, inspirou este texto que é ficção. Mas é a pura realidade. Mais pura que realidade)

38 minutos do primeiro tempo no Pacaembu. Palmeiras 2 x 0 Bahia.

⁃ Gooooooool, paiê!!!

⁃ GOOOOOL, filhão! PQP! Piii!

⁃ Vamos ganhar, Porco! PIII!

⁃ Vamos lá! Golaço, Bruno Henrique. Puta jogada. Sempre acreditei nesse cara e nesse time!

⁃ Deyverson tá jogando demais, paiê. Eu quero a camisa dele!

⁃ Calma, filhão. Deixa o jogo acabar que a gente dá um jeito.

8 minutos no Pacaembu. Palmeiras 2 x 1 Bahia. Deyverson faz graça e perde a bola.

⁃ Caraca!!! Chega! Borja! Borja!

⁃ Não, paiê. O Deyverson tá jogando bem!

⁃ Borja! Borja! Chega! Só não grito Erik porque também não.

Fim de jogo no Pacaembu. Palmeiras 2 x 2 Bahia. Pai e filho não falam nada enquanto buscam o carro perto da Faap. Só xingaram no apito final o árbitro, o time, o Cuca, o Róger Guedes, a imprensa, a diretoria, o patrocinador. O pai falou mal do Deyverson. O filho não concordou.

⁃ Eu quero a camisa 16 igual a dele, pai.

⁃ Mas ele é muito ruim, filho. Parece o Borja misturado com o Ricardo Bueno, o Alex Afonso e o Gioino.

⁃ Não, pai. Ele não é tão ruim. Você que é ruim com ele e com o nosso time.

⁃ Não, filho. Eu vi no YouTube o César e o Toninho. Vi em campo o Mirandinha, Edmar, Gaúcho, Evair, Oséas, Alex Mineiro, Kleber, Barcos, Gabriel Jesus. Não dá, filho. Esses caras de hoje não podem vestir a nossa camisa.

⁃ Podem, pai. A gente veste. Ué? Por que esses que você falou aí podem e o Deyverson não pode?

⁃ Filho… Somos o Campeão do Século. O maior campeão do Brasil. Não podemos ter qualquer jogador vestindo nossa camisa!

⁃ Mas pai… Você não disse que não importa ganhar ou perder. Mais importante não é o Palmeiras?

⁃ Sim, filho. Mas tem horas que a gente não aguenta, né?!

Longo silêncio. Pai e filho entram no carro. Não conseguem nem ouvir a última entrevista de Cuca.

Chegam em casa. Silêncio. O pai dá um beijo de boa noite no filho. Mais puto que desolado. O garoto abraça o velho.

⁃ Pai, eu sei que você tá bravo. Mas você me promete levar da próxima vez no jogo? Eu não preciso da camisa 16. Só quero usar a nossa camisa.

⁃ Pode deixar, filho.

Na sexta pela manhã ele comprou a camisa 16. Iria colocar o nome do Deyverson nas costas para agradar o filho. Pensou melhor.

⁃ Moço, pensando bem, não escreve Deyverson, não. Escreve “Evair”.

⁃ Boa! Esse jogou demais! Mas não era melhor então colocar na camisa 9?

⁃ Não. Meu filho gosta do número 16. E ele se chama Evair.