O outro lado da história: Mundial de 1951 foi considerado o ‘Torneio dos Campeões’ por jornais italianos

Na Itália há grande respeito e reverência pelo campeonato que tem a credibilidade colocada em dúvida no Brasil

No dia em que o Palmeiras celebra os 70 anos da conquista mundial da Copa Rio de 1951, a ESPN trouxe relatos de jornalistas que estiveram no Brasil para realizar a cobertura. O título foi conquistado sobre a Juventus na final.

Na reportagem, é possível acompanhar os fatos narrados por Vittorio Pozzo, bicampeão da Copa do Mundo como treinador da seleção da Itália em 1934 e 1938 e que também era jornalista. Representante do diário La Sampa, principal veículo de Turim, ele cobriu a participação da equipe italiana no 1º Mundial de Clubes em 1951.

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Ao longo de seu relato, Pozzo não faz nenhuma menção ao campeonato ser tratado como uma série de amistosos. De acordo com o jornalista, a boa atuação da Juventus no torneio foi benéfica para o prestígio do futebol italiano para com o seu povo após a eliminação da Seleção Azzurra ainda na 1ª fase da Copa do Mundo de 1950. Ele também se mostrou impressionado com o público superior a 100 mil pessoas para o segundo jogo da final entre Palmeiras e Juventus.

Diferentemente do que acontece por aqui atualmente, de acordo com os arquivos trazidos pela reportagem, a competição foi tratada como um ‘Torneio dos Campeões’, dada a importância da disputa para as equipes envolvidas. Além do Palmeiras e da Juventus, a Copa Rio de 1951 recebeu a participação do Nice (França), Sporting (Portugal), Vasco, Nacional (Uruguai), Áustria Viena e Estrela Vermelha (Iugoslávia).

Vale lembrar que a Juventus do final dos anos 40 e início dos 50 é considerado um dos melhores e mais vitoriosos elencos da história do clube e Pozzo exaltou o Palmeiras por conseguir vencer o time italiano em uma decisão disputada em dois jogos.

Confira alguns trechos dos relatos das finais do Mundial de 51:

Jogo 1 – Palmeiras 1 x 0 Juventus

Data: 18 de julho de 1951
Local: Estádio do Maracanã
Público: 56.961 (43.001 pagantes)

Na final do Torneio dos Campeões, Palmeiras x Juventus: 1 x 0

O árbitro austríaco Griel deu o apito inicial para começar a partida Juventus x Palmeiras. Foi o 1º encontro da finalíssima do torneio brasileiro dos grandes clubes campeões. A próxima partida, novamente Juventus x Palmeiras, será jogada no próximo domingo, de novo no Rio de Janeiro.

A Juventus foi escalada na seguinte formação: Viola; Bertucelli e Manente; Mari, Furario e Piccinini; Muccinelli, Boniperti, Vivolo, K. Hansen e Praest.

O Palmeiras foi a campo com: Fábio; Salvador e Juvenal; Túlio, Villa e Dema; Lima, Ponce de León, Liminha, Jair e Rodrigues.

O Palmeiras foi incentivado de maneira barulhenta pelo numeroso público brasileiro. Aos 20 minutos de jogo, o time local sai à frente com um gol do ponta-esquerda Rodrigues.

A Juventus reage, tenta o empate com insistentes ataques, mas para na defesa do Palmeiras. E o 1º tempo termina com o placar Palmeiras 1, Juventus 0.

No 2º tempo, a equipe de Turim volta ao ataque continuamente, mas cada assalto é parado pela defesa do Palmeiras, que consegue defender bem sua vantagem.

No último minuto, a Juventus tem uma grande chance para empatar, mas é em vão. A partida termina e o resultado é mesmo o único gol feito por Rodrigues, aos 20 minutos do 1º tempo.

No próximo domingo haverá a revanche, e a virada não é impossível para o grande time da Juventus, que hoje não esteve em um dia de sorte.

Vittorio Pozzo

Jogo 2 – Palmeiras 2 x 2 Juventus

Data: 22 de julho de 1951
Local: Estádio do Maracanã
Público: 100.093 (82.892 pagantes)

A Juventus empata por 2 a 2, e o Palmeiras vence a Copa

O poder taumatúrgico de uma vitória, que muda repentinamente o ânimo daquela mesma torcida que, com sua força, contribuiu na última quarta-feira para que o Palmeiras tivesse sucesso na 1ª final do Torneio dos Campeões.

No Brasil, depois da Copa do Mundo no ano anterior, havia escassa consideração pelo futebol italiano. Agora, essa consideração cresceu sensivelmente, e por mérito exclusivo da Juventus.

As equipes foram a campo da seguinte forma: o Palmeiras com a mesma escalação da última quarta-feira; a Juventus com Parola e John Hanson, mas sem Piccinini, substituído por Bizzotto.

O troféu da Copa Rio, exposto à beira do campo, foi um grande incentivo aos jogadores.

Depois, veio a bela cerimônia inaugural do jogo, com troca de bandeiras, aplausos ensurdecedores para o Palmeiras e apertos de mão corteses. Depois, o árbitro francês Tordjman deu o apito inicial às 15h30 locais, 19h30 na Itália.

No 1º minuto, o goleiro Viola teve que defender um violento chute rasteiro de Jair, mas depois a Juventus foi conseguindo chegar progressivamente ao ataque e aos 17 minutos passa em vantagem. O autor do gol é Praest, de perna esquerda, completando o cruzamento de Karl Hansen e batendo de forma imparável o goleiro Fábio.

No 2º tempo, o Palmeiras substitui Ponce de León com Canhotinho e tem um início de jogo muito veloz.

Aos 8 minutos, um escorregão de Parola permite o empate brasileiro: Canhotinho, sem marcação, chuta e Viola consegue espalmar para a trave oposta. Rodrigues, porém, está pronto para pegar o rebote e mandar para as redes, com o goleiro da Juventus ainda caído no chão.

Animados pelo empate, os brasileiros insistem no ataque, mas a defesa bianconera resiste e se lança aos contra-ataques com seus atacantes.

A Juventus consegue se segurar pelos próximos 24 minutos, mas, aos 82, o Palmeiras reestabelece sua vantagem depois de um cruzamento curto de Rodrigues, que vê Liminha fazer o toque final.

Com o empate por 2 a 2, o clube brasileiro, que precisava apenas da igualdade para ser campeã, se fecha na defesa, e mesmo os raivosos ataques finais da Juventus não conseguem modificar o resultado.

Um suspiro de alívio é dado pelo público após uma chance perdida por Praest no minuto final, e, depois do fim do jogo, é feita a volta olímpica pela equipe brasileira.

Tudo considerado, é importante ressaltar que a Juventus perdeu várias ocasiões fáceis de gols, mas o Palmeiras também demonstrou grande valor e foi justo campeão.

Do Palmeiras, o melhor em campo é o meio-campista Villa, argentino de nascimento.

A vitória da equipe de São Paulo é considerada nos primeiros comentários radiofônicos e jornalísticos como um grande sucesso do futebol nacional.

Sem tocar no vértice do entusismo, do nosso lado italiano, podemos constatar a unanimidade dos cumprimentos e do reconhecimento (apesar de em cima da hora) ao time bianconero, que conseguiu reabilitar de forma satisfatória a imagem do futebol da Itália no Brasil.

Vittorio Pozzo

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