Nossa vida é você, campeão

A minha coluna no YAHOO! de 13 de julho de 2012:

"NOSSA VIDA É VOCÊ

O doutor Luc era otorrinolaringologista. Uma hora de consulta era meia hora de Palmeiras. Ele cuidava da garganta que arde da família. Do ouvido que há muito não ouvia os rojões campeões. Do nariz que não sentia o sabor de um título desde 2008. O doutor não pôde ver o Verdão voltar do infernal Couto Pereira como bicampeão da Copa do Brasil. Morreu na véspera de ver o Palmeiras dele como Palmeiras. Campeão. Como ele sempre foi na medicina e na arquibancada mais vazia sem um coração verde para bater como sempre. No enterro, horas antes da final, a família estava verde de luto. Muitos vestiam camisas do Palmeiras. Da bandeira que cobriu o caixão com o “orgulho” que só quem não é Palmeiras acha que o torcedor perdeu. (Colegas de imprensa de outros credos e cores: ninguém perde “orgulho” quando perde um campeonato ou deixa de vencê-lo por tanto tempo. Quem torce por um time – como vocês também têm os seus – não torce por títulos. Torce por amor).

Meu tio Chico Flávio me levava com o filho Alessandro e os primos ao estádio para ver o nosso time campeão ano sim, ano não, nos anos 70. Mesmo quando as coisas não andavam e não jogavam bem, o Fafo acreditava. Enchia o portamala do Fiat 147 para ver malas que nos infelicitaram nos anos 80. Meu tio agora está no hospital se recuperando de uma intervenção no coração que suportou os 90 minutos de um Coxa nervoso e amuado demais contra um Palmeiras que jogou melhor em Curitiba. Mesmo perdendo Thiago Heleno (o melhor até sair lesionado, aos 36), mesmo se arrastando com Luan lesionado nos 20 finais, o invicto campeão empatou com um gol de Betinho, no único lance que acertou no clube.

Rafa é filho do Sérgio, amigo velho de busão, colégio, festas e Palestra. Ele está no hospital fazendo quimioterapia para se recuperar de uma doença que irá vencer. Como o time dele superou erros próprios, desconfianças, destemperos, desfalques, suspensões, limitações, adversidades grandes como os adversários.

Em suas camas de hospital, Chico Flávio e Rafa vibraram mais do que deveriam pelas suas convalescenças. Mas há corações que suportam tantas dores e dissabores seguidos. Eles venceram. O time deles, também. Tudo se recupera. Tudo se supera. Tudo volta a ser o que é. Como em algum tempo o Flávio e o Rafael vão estar com o Palmeiras. Como o Palmeiras. Um colosso que pode adoecer, pode se prostrar, merece ser protestado. Mas é potestade que vence qualquer tempestade. É torcedor que joga com o coração quente como a testa do febril Henrique, colosso no Alto da Glória. De mais um Marcos que garante a Assunção palestrina. Do time que não é mais. Não é menos. É Palmeiras. Basta.

Os atletas da Adidas do Palmeiras entraram em campo nos dois jogos da decisão com chuteiras com uma frase por mim sugerida, extraída dos cantos das torcidas: “Minha vida é você”.

Estará nesta quinta-feira na internet e no portal da empresa um vídeo que, a partir dessa ideia, conta um pouco das decisões e muito do espírito de equipe e do time atual, sob o ponto de vista do roupeiro do clube desde 1991, o paraibano Joãozinho. Ideia básica deste que vos tecla, trilha sonora de Igor Cavalera, com grande trabalho e edição da Habilil Produções.

Uma honra ter feito parte desse time que contou um pouco da história daquela equipe campeã de 2012.

Bravo Coritiba. Duas vezes vice-campeão da Copa do Brasil. Em ambas vendendo caro a vitória no jogo decisivo. O critério de desempate derrubou grandes campanhas de outro clube que aprendeu demais ao cair e voltar muito melhor. Vai longe.

Tivesse um ataque mais eficiente, e o pênalti não marcado em Tcheco em Barueri, talvez fosse outra a história. Mas ainda merece todos os elogios pelo clube e pelo ótimo trabalho de Marcelo Oliveira."

Foi o que escrevi no YAHOO! em 2012.

Estou de volta ao portal em 2020. Em 2015 o mesmo Marcelo Oliveira deu a volta olímpica na Copa do Brasil pelo Palmeiras.

Meu tio Flãvio partiu em 2019. Meu pai partiria naquele mesmo 2012.

O Rafa tá firme e forte e Palmeiras.

Faz oito anos. Parece um tempão.

Mas parece mesmo que foi ontem. Como parece que foi hoje que todo dia a gente tem "orgulho" da nossa história.

A que reconto aqui.

A que neste mesmo dia, há 8 anos, eu apresentei na festa dos campeões lá na Academia. Chamando um por um ao centro do campo 1 os campeões da véspera em Curitiba.

Como o Marcos Assunção da foto com meus filhos. A quem mais uma vez eu disse "obrigado". E ele respondeu: "obrigado por você ser palmeirense".

Obrigado, campeão.