Nosso Valdir

Ele entraria com a camisa azul que a Adidas havia feito inspirada nele anos antes. Chegaria até a intermediária e entregaria as luvas de goleiro para o primeiro pupilo treinado por ele: Emerson Leão, que seguiria pelo campo até passar as luvas para São Marcos, outro que cresceu no gol e no panteão palmeirense treinado por ele e por Carlos Pracidelli. Marcão chegaria até a linha de meta onde estaria Fernando Prass. Fazendo a passagem de luvas de quatro gerações da Academia de goleiros do Palmeiras. Desfalcada do primeiro que seria Oberdan Cattani, que partira no meio daquele 2014.

Era a ideia que eu apresentei para o evento de inauguração do Allianz Parque, como mestre de cerimônia. O que não pôde ocorrer porque seu Valdir já não tinha como viajar de avião pelo complexo
viário de safenas e stents naquele coração tão grande e querido.

Valdir queria conhecer o Allianz Parque. E eu queria ainda mais porque ele era o goleiro palmeirense quando inaugurado o Jardim Suspenso, em 1964, 50 anos antes da nova arena.

Não deu. Mas ele continua com a gente sempre. Como esteve nesses últimos anos todos por telefone. Mesmo que estivesse difícil para ele se comunicar, ele fazia questão de passar carinho e atenção. Desde que meu pai partiu, seu Valdir falou que eu não ficaria órfão.

Agora fiquei.

Como o Trio de Ferro que ele fez campeão mundial, continental, brasileiro e estadual, defendendo a meta e os defensores dela.

Não há outro que tenha feito tanto pelos três.

Não há outro que seja para tantos números um o que ele foi para seus tantos filhos.

Seu Valdir partiu depois de 60 anos prestados ao futebol de altíssimo nível 60 anos e um dia depois da sua maior conquista, a do Supercampeonato paulista.