NP na Copa: ‘Era uma vez em Marrocos’

"O time que fez seu povo sonhar acordado pode até não conseguir um lugar no pódio, mas está garantido na eternidade"

Se alguém dissesse, antes do início da Copa do Mundo, que a seleção de Marrocos iria mais longe que o Brasil no torneio, poucos acreditariam. Entre as pessoas que acreditariam, estariam os jogadores marroquinos e o técnico Walid Regragui.

Desde que assumiu o comando dos Leões do Atlas, o treinador trabalha com seus atletas o pensamento de que seria possível fazer o impossível e vencer a competição mais importante do futebol mundial. Ele revela que a transformação dessa perspectiva era a forma de quebrar o paradigma: seleções africanas como coadjuvantes.

Por Camarões em 1990, Senegal em 2002 e Gana em 2010. Por todos os esquadrões que desafiaram a rota Europa-América e desbravaram novos mares. Marrocos, em 2022, deu um passo além e ofereceu motivos para confiar que é possível ainda mais.

Longe de ser apenas sobre fé, mas é também sobre ela. Porque o esporte, no fundo, diz respeito à acreditar além do que você crê. Engana-se quem pensa na fé apenas como elemento irracional. Nesse caso, inclusive, é necessária muita racionalidade para entender porque crer.

“Que la gente crea, porque hay con que creer”, imortalizou Marcelo Gallardo. Talvez a maioria não soubesse, mas havia porque acreditar em Marrocos. O favoritismo no futebol é obviamente eurocêntrico. Ser eliminado por um africano sempre será, portanto, uma zebra para Portugal, Espanha e Bélgica. O campo nos mostrou que não necessariamente.

Conheça o canal do Nosso Palestra no Youtube! Clique aqui.
Siga o Nosso Palestra no Twitter e no Instagram / Ouça o NPCast!
Conheça e comente no Fórum do Nosso Palestra

Embora o trabalho de Regragui seja recente, a compatibilidade de características de jogo entre o técnico e o plantel marroquino foi especial. Um casamento perfeito, com lua de mel no Catar. A construção do time, é verdade, começou antes, mas o encaixe entre as peças deu continuidade ao projeto. Durante o ciclo da Copa, foram duas derrotas, nenhuma com o novo comandante.

A ambição de construir a melhor campanha de uma seleção africana no Mundial não surge do acaso. É fruto de muita confiança na capacidade dessa equipe, forjada na superação de fortes adversários. Há um ciclo que se retroalimenta. De forma paradoxal, quanto mais difícil é o desafio, mais chances há de vencê-lo. Como se o time fosse nutrido pela improbabilidade.

Não foi possível, no entanto, contrariar as estatísticas e avançar sobre a campeã mundial. Está enganado quem acha que o time de Regragui contentou-se ao chegar até a semifinal. Orgulhosos do feito, porém não satisfeitos. Queriam e poderiam alcançar a decisão, tal qual mostraram nos mais de trinta minutos que pressionaram a França pelo empate. Não deu, mas um dia – e cada vez mais – pode dar.

A despedida do Catar acontece no sábado, na protocolar disputa pelo terceiro lugar. Vencer a Croácia, adversária da fase de grupos, não será prêmio de consolação. Perder, tampouco diminuirá a campanha. O time que fez seu povo sonhar acordado pode até não conseguir um lugar no pódio, mas está garantido na eternidade.

LEIA MAIS