JG Falcade: ‘O Abelverso, Abel-dependência e o mundo de dois dias’

A versão real é a finalista ou a derrotada pelo América? Qual persona do treinador entrará em cena?

Eu fui pra live pós jogo tomado pela irritação. Incomodado pela péssima atuação do meu time, do meu treinador e do safado que usava um apito pra estragar uma partida de futebol. Horas depois, de câmera e microfone desligados, parei pra pensar e pra ler algumas coisas. Entre elas, um grande amigo, que mora na capital federal, disse: ‘Há uma Abel-dependência’. Eu só acrescentaria à brilhante frase dele que também há o Abelverso.

A dependência do treinador é um fato inquestionável. Ele é o craque e o pereba do Palmeiras desde o dia um de sua chegada ao Verde. Capaz de fazer peripécias campeãs com um elenco que já havia sido atestado como inábil para quaisquer conquistas, mas também um polêmico frasista, um contestador de sistema, um errático de noites infelizes e brilhos intensos para fazer história. Ele é a figura central.

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Me lembro com carinho (e medo) de quando notei que o Palmeiras havia perdido suas bases. Dudu, Gabriel Jesus, Paulo Nobre e todo esse projeto que havia resgatado orgulho no torcedor. Nesse momento, chegava o gringo com um discurso de encher os olhos e o coração, mas que enchia os olhos, também, com um time reorganizado e cheio de futebol pra mostrar. Ele injetou gasolina num carro de motor aparentemente fundido. E ele foi de 0 a 100 em meses. Ganhando tudo.

Abel só havia vivenciado a vitória, desde então. Ele sustentou essa imagem, dentro de seu multiverso, para os consumos interno e externo. Meses depois, viveu a frustração de não ser atendido pela direção do seu time e contou com o apoio popular para dar vazão ao Abel contestador e crítico. Que tomava o microfone para confrontar seu próprio ‘patrão’. Era sua segunda versão. Em seguida, com menos resultados, deu de cara contra as críticas. De ídolo miojo a possível professor pardal. O Paulistão ficou pelo caminho, bem como a Recopa e a Supercopa. Não éramos mais ‘Todos somos um’.

Contra tudo e contra todos.

Nesse momento, a versão peleadora e aguerrida do treinador tomou a dianteira no catedrático e enérgico. Era mais baseado no ódio, algo que o palmeirense conhece e gosta, inegavelmente. Da escola de Luiz Felipe Scolari, o português criou um fato novo e tentou mobilizar, novamente, seu grupo, ainda inábil. mas que decaia de uma mobilização extrema, capaz de vencer o país e a América. Ele precisava operar o milagre pela segunda vez se quisesse seguir vencendo.

E assim aconteceu na jornada que teve uma campanha perfeita e imponente na Libertadores. Contra o São Paulo, o ‘nó sobre Crespo’, contra o Galo, a atuação memorável vista e celebrada por todos como mérito seu, quando o treinador venceu, quando o comandante foi o craque do jogo. No Palmeiras, é tudo sobre Abel. Ele é o polo magnético das ações. Para todas as circunstâncias e humores, a análise parte de Abel. O Palmeiras, hoje, é o ‘time do Abel’.

Chegamos, então, no atual momento. A água parou, novamente. Abel é a mira de incontáveis linhas de tiro e por (de)mérito. Ele tem culpa no péssimo desempenho do Palmeiras. Esse mesmo que, há 8 dias, viveu uma noite gloriosa, por mérito seu, é claro. É aqui quando o Abelverso, a Abel-dependência e a análise de dois dias se cruzam: Abel é o culpado fatal? Ou sua jornada lhe confere o ônus da prova? A versão real é a finalista ou a derrotada pelo América? Qual persona do treinador entrará em cena?

São perguntas demais que só o tempo e o protagonismo de Abel podem responder.
E se a minha opinião importar pra você: dia 27 tem mais história pro Portuga contar. Adiante.

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