O amanhã ainda é Palmeiras

Tomorrowland. Em tradução livre, uma terra do amanhã. Nos contos de fada, aquele lugar mágico, místico de desenrolar dramático e fim glorioso. No universo musical, um festival belga que se consagrou em pouco mais de dez anos e espalhou ramas pelo mundo. Nesse texto, entende-se como tudo isso, entende-se como aquele lugar que todos nós, eu, você, o presidente e o faxineiro, pensamos alcançar.

Beat. 365 bpm, quase mil. Coração acelera. Dispara. Descompassa e extravasa. R e l a x a. A sequência natural da eletronic dance music. Uma ordem que não nos cabe, mas ajuda a entender. Aquele domingo de pouco sol, iluminado pelos anjos de Chapecó que fizeram pouso breve para que fôssemos ao céu pela nona vez. Saudades deles, do que fomos nós, do que foi o Palmeiras. A glória é o drop, é quando a terra do amanhã fica tangível. É a taça pelos ares, as mãos de Dudu e de Nobre. É o prelúdio do erro.

Claro que não. Eu não vou crucificar nosso momento, nossa Paulista, nosso Brasileiro. A crítica cabe ao relaxamento. O amor precede o sono, vocês sabem. É físico. É fisiológico e musical. Para isso, o profissionalismo. Para isso, uma dose federal de café, de silêncio e ressaca. Passa rápido. Existe um ciclo que se inicia ao final do que acabou. Título vencido, desafio dobrado. Se a parte alta da música foi extasiante, o público espera que o próximo seja ainda mais alucinante. Ah, meu presidente. Ah, meu time. Vocês entenderam a terra do amanhã da pior forma. A terra do nunca.

Nunca vence o jogo decisivo. Nunca acerta o tom. Desafina sempre. Desalinha nossa paciência. Nunca poderia perder três de três, que ano, com o perdão do trocadilho infame, como esses 11 meses, tresloucado. A ponte para o deca, quebrou. O cruzeiro rumo aos Emirados, afundou. A taça ancorou na marginal. É como uma multidão que se amontoa para viver um momentum e o som entalar. O grito entala junto. Nós travamos. Terra do nunca, lembram? Nunca poderia ser desse jeito.

O certo é “do amanhã”. Somos um povo que sonha. Que não tem o costume de dar errado por muito tempo. Foi 71, 92, 95, 97… sabe o que vem depois? O amanhã sempre deu certo. Sempre foi o final épico. A massa de delírio. Foi taça. Foram goleadas e foram glórias. Foi a música do ano. Se a terra ficou arrasada, existe a terra para onde seguir. Talvez seja só o sonho deste que tenta representar você, talvez sejamos nós, mas certamente será o Palmeiras que te fez torcer. O Tomorrowland será verde, uma vez mais.

Só não r e l a x e m demais. BPM alto!

Por João Gabriel Falcade