O Deca diferente

A busca pela América, pelo país, pelo mundo. O segundo lugar que importa pouco, o quase que é nada. Estádio abarrotado que é número, é lucro. Uma multidão por uma foto é cotidiano. Salários astronômicos são, na melhor hipótese, justiça. O futebol dos homens, e não só nosso, é assim. Conceito quase universal. Preso à mente há pelo menos um século.

E se tudo se resumisse a um treino com 10% do estádio preenchido? Uma, só uma, coletiva para apresentar um time inteiro? Imagine só se viesse um reforço de seleção brasileira e o jogo dele tivesse mil pessoas para assistir? Se a maior glória do mundo fosse ter uma partida em tevê aberta no horário nobre? Que futebol seria esse?Amor pelo esporte, mesmo?

Futebol feminino, ele se chama.

O Deca delas é existir no futebol, resistir à falta de incentivo sincero e verdadeiro. É ver que o estádio europeu do time que defende jamais te abrigou para algo além de meia hora de treinos. Que ele não recebeu quarenta mil pra te ver. É ter fé na mudança. E que bom que há um Palmeiras querendo ser mais, fazer mais e ser melhor pra elas.

O Deca delas é nosso dever. Há uma correção secular pra se fazer e tudo ainda é pouco. Elas que torcem e sobrevivem à duras penas na arquibancada sem serem importunadas, desmerecidas ou prejudicadas. Que precisam explicar a regra do impedimento pra justificar o que sentem. Não, não precisam. O amor é igual, existe e ponto.

Elas que fazem o Palmeiras, o Corinthians, o Galo ou o Flamengo. Elas que jogam, torcem, narram, comentam, cornetam, bebem, brigam, choram, riem. Vivem o futebol! Sorte do esporte que tem a chance de ser melhor por e com elas.

O dia 8 é comércio. O dia a dia é a prova. E há muito pra provar e fazer.