O gol que eu não vi contra o Colo-Colo

Eu não vi o Cleiton Xavier chutar aquela bola do meio da rua no ângulo, em Santiago, na Libertadores-09. Eu ouvi que era golaço porque o José Silvério, lá na cabine da Bandeirantes no estádio do Colo-Colo, gritou gol quando o delay da imagem da Globo ainda estava com CX10 recebendo a bola. Quando ouvi que era gol la na “Arena Carboni” da cabine da offtuber fest da rádio, meu amigo Zancopé Simões pulou em cima de mim. Outro produtor também. E eu, na celebração dos colegas, pela única vez na carreira comentei um gol que não vi, quando o Silvério me passou a palavra que parecia tão perdida quanto a classificação para as oitavas da Liberta.
Mesmo revendo hoje, ainda não acredito que ele acertou aquele tiro longo que o São Marcos lá da meta xingou quando Xavier chutou – porque não era o lance “certo”. E foi a decisão das mais acertadas em jogos decisivos que já vi.
Não apenas foi um dos mais belos gols do Palmeiras. Não apenas uma das maiores vitórias pelas circunstâncias. Mas um daqueles momentos na vida pra gente lembrar sempre que é preciso arriscar em qualquer campo. Chutar mesmo. Fazer diferente. Pular de cabeça. Teimar. Criar. O verbo que for.
Desde que seja.
Tá ruim? Chuta! Tá ferrado? Chuta! Tá errado? Acerta o gol! Tá perdido? Arrisca!
Parecia desespero ou pretensão para um time que tinha um a menos e um gol a fazer. E foi tudo isso num só chute. Era o caso de passar a bola pra ponta e correr pra área. Tentar a tabela por dentro. Não pra chutar dali uma bola que por 87 minutos não entrara. Não seria dali, na finalização mais distante, a chance mais lógica.
Mas ela entrou. O Palmeiras se classificou. O Colo-Colo foi eliminado. E mesmo não passando do Nacional uruguaio nas quartas, aquela Libertadores de 2009 ficou entre as mais queridas pelo gol do CX10 no Chile.
O que eu não vi. O que o Marcão xingou quando ele chutou. O que poucas vezes eu vi mais emocionante.
Que amanhã não precisemos sofrer por tanto tempo em Santiago. Mas que a alegria seja eterna como aquele instante que eu não vi. E não vi mesmo igual.

Que o Palmeiras em 2018 arrisque de fora, de longe, de qualquer lugar. Mas arrisque.