O jogo da minha vida – por Diego Iwata Lima
ESCREVE DIEGO IWATA LIMA
Por Diego Iwata Lima – @DiegoMarada
Às vésperas da primeira finalíssima entre Palmeiras e Corinthians que verei in loco na vida (meu pai não quis me levar em 1993 e 1994), milhares de lembranças da rivalidade têm me visitado nos últimos dias. Afinal, eu fui criado dentro de um Dérbi.
Quando nasci, em 1980, de uma mãe alvinegra e um pai alviverde, o Palmeiras não era campeão há quatro dos 16 anos que ficaria sem troféus. E o Corinthians, há três, havia saído de seus 22 anos de fila. De modo que argumentos racionais, dos dois lados, eram válidos, àquela altura, para que uma negociação me levasse para um ou outro lado da Força.
Mas não houve negociação. (FOTO DO AUTOR NO COLO DO PAI, EM 1980). Porque, no fundo, minha mãe sabia que não havia como. Sempre fui tão palmeirense quanto tenho dois braços e cinco dedos em cada pé. Mas cresci com uma corintiana em casa. Que calhou de ser, simplesmente, a minha mãe.
Para não dizer que ela nunca tentou, houve algo, há 34 anos, do qual me lembro como se fosse hoje. O que nem é surpreendente, se for levado em conta o fato de que esse episódio definiu o restante da minha vida.
Por uns dez minutos, mais ou menos, eu fui corintiano. Pera. Deu até arrepio escrever isso, vou explicar melhor. Em 1985, quando eu tinha quatro ou cinco anos, minha mãe me convenceu de que eu poderia torcer para os lados dois times ao mesmo tempo. Esse foi o tempo que demorou para o meu pai voltar do bar da frente, aonde deve ter ido para comprar um maço de Carlton e uma Coca-Cola, para o almoço.
– Pai, eu também torço pro Corinthians – informei, quando ele voltou.
Meu pai levantou o olhar até a minha mãe, que estava no fogão. Eu também virei a cabeça na direção dela e a vi com aquele sorriso característico, meio envergonhado, que ela faz quando sabe que aprontou alguma ou falou algo engraçado. O velho soltou a risada meio sarcástica, que surge sempre que ele está começando a ficar nervoso, mas não quer dar o braço a torcer.
– Ah, tudo bem, então. Mas aí, como é que você vai ao clube e aos jogos do Palmeiras, se também for corintiano?
Senti meu coração parar por uns instantes. Para agradar minha mãe, eu até topava estar meio “errado”. Mas eu não poderia jamais estar feliz afastado do Palmeiras.
– Então, eu não quero ser corintiano – cravei, convicto.
Essa foi a primeira vez que eu afirmei meu palmeirismo voluntariamente. E nunca mais parei.
* * *
O amor e a proximidade com uma torcedora rival nunca impediram que eu seguisse o rumo natural e nutrisse aquele saudável desapreço pelo arquirrival, tão necessária e prazerosamente inerente à condição palestrina. Mas também me ensinou algumas coisas sobre como eles se comportam, sobre o que pensam. Sou um palmeirense que sabe entender e respeitar o que o corintiano sente pelo time dele – e, especialmente, sobre o nosso.
Eles nos respeitam. Muito. Eles sabem que nossa camisa pesa demais. Sabem do que somos capazes, em especial contra eles. Mas também é verdade que eles sempre acreditam que podem virar o jogo.
E a gente também sabe que tudo pode acontecer nessa derradeira final. É um Palmeiras X Corinthians que vale título. O que faz com que esse jogo, na realidade, valha mais do que um campeonato. Como também valeram mais que troféus as eliminações deles nas Libertadores de 1999 e 2000.
Se eu pudesse dizer algo aos jogadores, seria para que tivessem em mente esse respeito e essa história, sim. Mas que soubessem que vencer é mais do que possível: é fundamental.
Queiram isso, jogadores. Queiram ser campeões. Nenhum de vocês já conquistou um título em uma final contra o Corinthians vestindo a camisa do Palmeiras.
O Dérbi já é o jogo da minha vida. Também pode ser o de vocês.