O líder pode fazer o que quiser com a bola

Foto: Cesar Greco/Ag. Palmeiras/ Divulgação

O Liverpool ficou quanto com a bola em Madri para ser merecidamente campeão europeu pela sexta vez? Não chegou a 40% do tempo de posse em jogo que, dever registrar, foi bem abaixo de tudo que se viu de lindo e emocionante na Champions.

O time de Klopp (quase sempre intenso e direto e muitas vezes lindo de atacar, contragolpear e perder-pressionar lá no alto) também não precisou construir tanto contra rival inexperiente em finais europeias.

Quando ganhou um pênalti discutível com 22 segundos, o jogo ficou aos pés do Liverpool. Não a bola.

O Leicester fez o milagre na Premier League em 2016 ficando apenas uma partida com a bola mais do que os 19 rivais que foram superados em pontos em 38 jogos.

Você pode fazer o que quiser com a bola. Melhor seria ficar mais com ela e jogar bonito com a pelota e também para a recuperar. Mas não é crime lesa-bola não a ter.

Ou, quando a tiver, Firmino tocar pro Salah pra Mané pro gol. Simples e direto.

E também pode ser belo.

A melhor atuação do líder do BR-19 com ou sem asterisco foi nos 4 a 0 contra o ótimo e bonito Santos de Sampaoli. O Palmeiras ficou apenas 36% com ela aos pés. E fez quatro gols. Jogando muito bem e muito bonito como o time não fazia desde 2016 – quando foi campeão brasileiro depois de 22 anos e se cobrava um futebol bonito que, quando jogou, as mesmas línguas ofídicas do ofício não viam.

Ou ainda tentavam entender como o Leicester ganhou lindo meses antes sem ter tanto a bola.

Ter menos a pelota ou trocar menos passes e ser líder não é prova cabal de nada. A não ser de análise rasteira. Separadas e shallow now as sinapses e os batimentos cardíacos.

Não é ser resultadista ou ser pragmático e dizer que é líder e está ótimo. Não é isso. Mas enaltecer o que é possível para o time invicto há 30 partidas de um campeonato nivelado por baixo é olhar pro campo mais do que pra prancheta e pro laptop e pro Whatsapp. É ver o jogo que nem sempre os números enxergam e entregam. Porque também eles precisam ser interpretados sem ser interpelados pelo clubismo, achismo ou cotovelismo.

Quando se faz 2 a 0 com 18 minutos num clássico que acabou 4 a 0, natural que se dê a bola e campo para o rival. Os números de posse serão inferiores. Mas os que valem mesmo, os do placar e da tabela, são tudo aquilo. De subir de quatro. De fato e sem erro de direito. Resultados construídos com verticalidade, velocidade, objetividade. Naquela noite no Pacaembu, também com técnica e estratégia.

Um outro modo de ver e jogar bola. Até sem ela. Um jogo respeitável que agora amamos odiar. Ou desprezar e desrespeitar porque os números… A filosofia de jogo… Os investimentos… O fair-play financeiro… A obrigação… Os passes decisivos no último terço… Deixa eu achar algo pra falar mal aqui…

Zzz…

É só querer ver. E não adaptar a realidade com o fígado.