O melhor Natal da nossa vida
Faz 44 anos que o Corinthians estava há 20 sem ser campeão. Há 44 que faltavam 90 minutos para acabar a fila rival no Morumbi. No primeiro jogo decisivo do SP-74, eles foram melhores no Pacaembu depois de Lance empatar o Derby que Edu abrira o placar no primeiro ataque.
No Morumbi, num domingo nublado e lindo de tão feio, não chegavam a 20 mil os palmeirenses. Só chegava corintianos de toda a cidade e das vizinhas. Campeão do turno enquanto o Palmeiras se recuperava de seis titulares que serviram o Brasil na Copa-74, o Corinthians usou o returno para se preparar para a decisão que desde 1954 não vencia. Quando Oswaldo Brandão o dirigia. Velho Mestre que era nosso condutor da Segunda Academia. Campeã invicta do SP-72. Bi nacional. Time que tinha sido campeão em fevereiro daquele 1974. Não pôde ser tri no BR-74 porque jogou sem os titulares na Alemanha. Tinha que ser favorita no SP-74. Ou ao menos mais respeitada pela imprensa que fazia cadernos de jornal em clima de está chegando a hora corintiana depois de décadas.
Mas, de fato, nem os palmeirenses pareciam acreditar na Academia. Sacrilégio. Por isso tão poucos há 44 anos no Morumbi. A maioria achava que era a hora de soltar o grito entalado e que acabaria sendo entubado mais uma vez.
Luís Pereira desarmou Rivellino com falta não marcada lá no ataque rival. O Palmeiras retomou a bola que Jair Gonçalves, improvisado substituto do lesionado Eurico, cruzou da intermediária para Leivinha ganhar de cabeça de Brito. O maior cabeceador que vi procurou Ronaldo, o mais importante nos Derbys. De voleio, o substituto do Maluco César brigado com Brandão e direção bateu de direita a bola que Buttice não conseguiu segurar. Como o rival não soube administrar a angústia de décadas sem títulos. Como não saberia devolver a derrota em 12 de junho de 1993. O dia para devolver o que fizemos em 1974. E repetimos como festa em 1993.
Faz 44 anos. Teve mais um gol absurdamente anulado de Ronaldo no fim do jogo. Mas era jogo mesmo pra 1 a 0 Palmeiras. São jogos mesmo desde 1917 para que não tenhamos dúvidas. As dívidas não são nossas. Nas divididas, ganhamos como Dudu desmaiou depois de uma bolada de Rivellino numa barreira e logo voltou para formar outra barragem humana na sequência. Humana como super-homem. Como Dudu e Ademir, coração e cabeça das Academias. As que também deixaram o rival ficar até 1977 na fila. Não por acaso quando Ademir se aposentou um mês antes. Quando Dudu já era treinador.
Faz 44 anos que ouvi Osmar Santos narrando o gol de Ronaldo pela Jovem Pan no radinho da sala sem TV ao vivo. Faz 44 anos que abracei meu irmão que hoje mora fora do país. Faz 44 que nosso pai pulou junto com a gente no único título que ouvimos juntos. Ou vimos pela TV como em 1976. Porque em 1993 eu já trabalhava em rádio e TV. Não conseguia mais celebrar com ele ou com meu irmão como vibramos então.
Eu não sabia disso então. Só pensei nisso agora. Você só deve estar lendo isso porque desde 1990 virei jornalista esportivo para contar títulos como esse. Vitórias como aquela. Gol como só esse. Um título que não teve igual no Derby pra eles. Título que só teria gosto maior pra nós em 1993.
Uma historinha de Natal que já faz 44 anos. E parece mesmo um presente para a gente contar todo ano. Aproveite a sua árvore natalina e coloque sempre nesta data uma bolinha de enfeite verde. Só pra lembrar quem já partiu como o meu Babbo. Só pra lembrar a partida que nos deve sempre lembrar que clássico não tem lógica. Mas o Derby tem a sua. A nossa.