O menino no alambrado do Pacaembu

O mais legal desse menino pendurado no alambrado do Pacaembu na reedição do primeiro jogo do estádio (Palestra Italia 6 x 2 Coritiba, em abril de 1940) é que – possivelmente – o avô dele olhou para o mesmo lado onde o menino vê o tobogã ao fundo e até 1969 se enxergava a concha acústica.

Talvez o filho desse menino seja feliz e veja para aquele mesmo lado no lugar da excrescência maluca e malufista do tobogã um novo palco, um conjunto poliesportivo, quem sabe lojas, restaurantes, aquilo que os que amam o Pacaembu sabem que é necessário para viabilizar o mais lindo estádio de espírito municipal.

Mas se ele só puder ver o que há 75 anos é Palmeiras e há 103, Palestra, basta. E ele vai ver e se ver quando for adulto do mesmo jeito que enxerga como criança.

Ninguém é adulto torcendo. Nem maduro. E não só porque somos verdes. Porque torcemos. Logo, cornetamos. Logo, criticamos. Logo, desconfiamos. Logo, até, por vezes, não acreditamos.

É pecado. Mas é Palmeiras. Não é adulto. É infantil. Pueril. Inocente. Incoerente.

E existe algo melhor que a infância? Existe algo melhor que voltar a ser ainda mais criança quando adulto?

Existe. O Palmeiras. Ele nos faz voltar ao tempo em que só importavam 90 minutos. Ao tempo que não havia fim para tanta alegria e zoeira. Ao momento em que a gente abraçava quem a gente não conhecia como se tivesse nascido com ele. Ao instante em que o nosso instinto de sobrevivência nos fazia acreditar que só havia um motivo para a gente agarrar uma grade. A vontade de ser grande. Gigante como os 11.

Toda aquela vontade que tenho, agora, adulto de velho, a querer ser um menino no alambrado do Pacaembu.

Obrigado, Palmeiras, por me ensinar a sempre não crescer de tudo.

Obrigado, Sérgio Ortiz, ao captar esses frames e fragmentos de nossa vida.