O que eu inventei de você
Já aviso agora: essa crônica não tem motivo, causa, circunstância ou objetivo. Nem vai fazer o real valorizar, o dólar cair, o desemprego despencar como tropeçaram os times do Brasileirão. Não vai dizer nada de relevante. É uma crônica sobre a falta de inspiração. E é exatamente assim que me encontro nesse exato momento: de folga, com roupa velha e rasgada servindo como pijama, sem assunto, com os pés no móvel do computador e sonolento. Você percebe que não faz calor lá fora na terra da garoa.
Faz umas boas semanas que não escrevo. Pensei em comentar a derrota para o Corinthians, o empate contra o Cruzeiro, o arremesso de Felipe Melo e outras coisas mais. A substituição de Keno, o possível retorno de Willian e as prováveis contratações para o ano que vem. Mas, porém, entretanto e todavia voltamos ao tema do texto de hoje: faltou o gancho, o plano, a ideia, o elo e a alma da resenha. Faltou a inspiração.
Reconheci, diante de tudo, que não há foco. Foco é algo necessário para todas as almas vivas do universo. Para simplesmente sobreviver até. O urubu, por exemplo, precisa de foco para caçar suas presas. E tem péssimo gosto: come carne podre. Mesmo assim, aguentando o cheiro e o gosto adversos, o paladar desagradável, fica feliz e satisfeito por estufar a pança. O urubu usa seus truques mirabolantes e suas técnicas inabaláveis para focar em um cardápio cheio de carne estragada. Não sabe diferenciar o bom do ruim, de escolher entre o bem e o mal, mas foca. Nem isso consigo fazer hoje.
Estou menos inspirado do que os letristas de música sertaneja. Vou beber uma cerveja para ver se melhora, mas o garçom troca o DVD porque essa moda faz sofrer e o coração não ‘guenta’. Cada dose cai na conta e os 10% aumentaaaaaaaa. Aí cê me arrebenta e mais um monte de rimas com ‘enta’. Repetindo, repetindo e repetindo. Sem parar. Pra não falar dos finais ‘or’. Amor, dor, rancor, amargor, ator e um dicionário assustador de ruim.
Assim como esse jovem cronista, aí está o time do Palmeiras: sem inspiração, cansado e sonolento. Afogando as magoas em músicas que falam de um amor que dava tudo certo, mas quando passou pra frente, ferrou.
Me apaixonei pelo que eu inventei de você, 2017.
Iê. Iê. Iê.