Onde erramos?
Perdemos o senso em algum ponto do caminho. O mundo se inverteu durante o percurso e ninguém reparou. A musica sim, mas é outro vintém. Qual foi o ponto? Sinceramente, não me lembro, mas é doentia a percepção sóbria quanto ao ponto no qual estamos estabelecidos. É preocupante como uma epidemia que faz vítima todo dia, que desconstrói o esporte debaixo dos nosso olhos que insistem apenas em observar predatoriamente a vitória, a conquista, o objetivo frio e bem calculado. Mal vivido.
Nas fazendas dos nossos avós, bisavós, algum prefixo complicado de ainda mais distancia temporal-avó ou qualquer dado histórico que retomemos, seja nos anos 800 a.c ou na escolinha do nosso maternal. Jogar bola era a diversão, foi a fuga de tantos problemas, segue sendo o lazer do nosso dia de trânsito. Em que ponto do processo esse que virou esporte de alto rendimento se tornou objeto de tortura psicológica? Virou uma roleta russa em que o erro, uma característica super humana, é o sinônimo de fim. É um tiro na testa, um adeus pra carreira. Ouse errar pra você vePÁ!
Não tinha medo o tal João de Santo Cristo, mas o Mantuan tem. Claro que tem. Se João morreu com tiro de Jeremias, a poesia diz que era o Faroeste. Era carne por carne, olho por olho e dente por dente. Era um esporte de matar. Envolvia a vida, a subsistência. Karius não defendia o que só a arte pode defender, ele deveria evitar com que uma bola balançasse a chance dele e os seus de conquistarem dinheiro, ferro fundido, uma carreata e alguns fogos de artifício. Um dia depois pra seus fãs zombarem do amigo com outra afiliação. No terceiro dia, o sol aparece, o trânsito e o imposto também. Na quarta, na quinta. Errar não pode ter gosto de sangue escorrendo pela garganta.
A fábula do alto rendimento. A falácia de doar a vida. A mentira que é disputar.
Não são só “eles”. Somos nós. Temos incontáveis motivos para a insatisfação. Ela é absolutamente digna, compreensiva e honesta, mas há um mas. Sempre um mas. Será que não contribuímos para o mal dentro do nosso microcosmos Parque? Essa tensão que toma os rostos dos caras depois de um erro, a reação exagerada no passe que não chega, a cara de terror diante de um pênalti. Tá sobrando medo. Será que não tem pólvora demais pra um fogo intermitente?
Em que ponto, em qual momento, distorcemos, estupramos o senso de competir? Quando foi que ninguém mais tem desejo em disputar? Porque vociferamos em cada erro? A tal da mão que afaga e apedreja(va). Não mais. A mão que agora aterroriza. Errar se tornou um imperdoável erro e o drama está nessa frase esquisita. Porquê? A tensão tomou conta do esporte em um nível devastador.
E quem mais tem medo de errar, vocês sabem… é uma lei de compensação de pesos. Se a necessidade se faz enorme, a falha fica evidente, iminente. Explosiva. A lágrima dos dois personagens que se abalaram por cometerem equívocos durante seus TRABALHOS é sintomática, é doentia.
E quem tá doente, meu amigo, somos você.