O Palmeiras entrou no gramado do Mineirão com a mesma estratégia que usou noutras decisões, como finais de Libertadores e de Mundial. Sem Rony, Flaco López era a diferença tática e de característica que se fazia notar no embate. Scarpa compondo como lateral, Dudu como válvula de escape, enfim, aquele sistema que vocês todos se acostumaram a ver.
Sempre me causou (boa) surpresa, o nível de concentração e de intensidade que a equipe impunha nesses dias mais importantes, era letal, frenético, muito ligado e atento. Nesta noite de Mineirão, sua principal característica se tornou seu problema, seu elo mais fraco. Desatento, desligado e pouco intenso, se viu engolido pelo serelepe Atlético e sua torcida, que fez uma festa bastante impressionante, não se pode negar.
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Em pouco mais de 20 minutos, a eliminatória poderia estar bem encaminhada. Bola na trave, chances evidentes e um time que não soube sair da pressão, tampouco oferecer riscos. Foi só depois dos 30, num lance que se pode chamar de fortuito, ainda que treinado, que o Verdão chegou – e fazendo gol. Dudu escapou pela direita, achou Scarpa, levemente impedido, e Piquerez completou para as redes. Parecia o começo de um bom momento, mas só parecia.
Poucos minutos depois, Scarpa perdeu a posse de bola próximo à grande área defensiva, o Atlético retomou e acionou Jair, na área, que levou Marcos Rocha no jogo de corpo e recebeu dele um pênalti infantil, bastante simples de ser evitado. Hulk converteu com qualidade, no canto rasteiro esquerdo de Weverton. O gol que abriu o placar foi o ato derradeiro de um primeiro tempo bastante corrido, mas pouco jogado pelo Palmeiras.
Barulhento, o Mineirão não parou sequer no intervalo, e por Mineirão entenda você as duas torcidas. Palmeirenses, em pouco número, compensaram no esforço e garganta. Sem mexidas, o Palmeiras voltou pro segundo tempo com um aparente plano de ter mais a bola, mas foi golpeado pelo segundo gol atleticano nas mesmas condições do primeiro, em decorrência de desatenção. Keno entrou na área com muita facilidade, tentou o passe, mas Murilo, que pouco tinha para fazer, desviou contra o patrimônio. Novamente, a qualidade do Verde se tornou seu grande algoz.
Perdido, ao ponto de defender um ataque do Galo com Marcos Rocha na esquerda e Piquerez na direita, o Palmeiras poderia ter se despedido da eliminatória nos minutos seguintes, quando mais sobreviveu do que jogou futebol. Com algum tempo, e com o Atlético fisicamente desgastado, conseguiu acalmar as coisas. Aos 15, uma falta perigosa, e a esperança nos pés de Gustavo Scarpa. Sempre eficiente nesse tipo de lance, ele acertou a forquilha de Everson, e Murilo completou o rebote para as redes, encurtando a montanha a ser escalada e provando que as pessoas podem se redimir em questão de minutos.
Com um placar menos confortável, o Atlético precisou escolher entre buscar uma vantagem maior ou se assegurar com o que tinha, mas o Palmeiras tomou pra si o direito de escolha quando aplicou no péssimo gramado do Mineirão aquilo que sabe fazer, à sua maneira. Com bola no chão, com posse, começou a incomodar o Atlético, chegando com Danilo e depois com Dudu, sozinho, quase na pequena área, mas o camisa 7 foi infeliz no arremate. Craque que é, e símbolo do clube, o baixola tinha num futuro breve, sua redenção, como fez Murilo.
E daí em diante o futebol se tornou poesia, foi tango, foi prosa e verso. Nada que faça sentido racional ou seja uma argumentação bem feita, mas é emoção da melhor maneira. O êxtase de 50 mil que se calam num toque de peito e um chute todo torto. A voz de 2 mil que se fizeram ouvir pelo resto do Brasil. O frenesi que misturava choro e raiva, redenção e paz. Foi um grito de gol libertador, com o perdão do trocadilho. Das tribunas, eu, João, via o Mineirão atônito e só uma parcelinha celebrando. Jornalistas lamentavam aos microfones, e eu festejava no meu celular.
Futebol é sobre o improvável. É o caótico e apaixonado. É sobre ser Palmeiras e entender que a tragédia e a glória se separam por um gol.
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